Agência France-Presse
Milhares de manifestantes se reuniram nesta sexta-feira (28) na capital dos Estados Unidos para uma marcha contra o racismo planejada há meses, mas que ganhou força após a violenta prisão de um cidadão negro em Wisconsin, que reacendeu a indignação do país.Os manifestantes lotaram o National Mall, em Washington, em homenagem ao histórico discurso “Eu tenho um sonho” de 1963, do líder dos direitos civis Martin Luther King Jr.
A manifestação foi apelidada de “Tire o joelho,” em referência a George Floyd, um americano negro que morreu sufocado por um policial branco em Minneapolis em maio, gerando os maiores distúrbios em décadas.Os protestos do movimento antirracismo nos Estados Unidos haviam diminuído, mas a indignação voltou a ganhar força no domingo, depois que o afro-americano Jacob Blake levou vários tiros que podem deixá-lo paralítico quando a polícia tentou prendê-lo em Kenosha.
Parentes de Blake, George Floyd, um negro morto por asfixia por um policial branco, e Breonna Taylor, uma mulher negra de 26 anos que foi morta em seu próprio apartamento por disparos feitos por um agente participaram como oradores, visivelmente emocionados diante de um mar de pessoas que repetiam os nomes das vítimas.”O que precisamos é de mudança e estamos em um ponto em que podemos conseguir essa mudança”, disse a mãe de Taylor, Tamika Palmer. “Mas devemos ficar juntos”, acrescentou.
Como seu pai, 57 anos atrás, Martin Luther King III, se posicionou na escadaria do Memorial Abraham Lincoln em frente à multidão que contornava o espelho d’água no calor úmido do final do verão. Luther King III pediu aos americanos que continuem lutando contra a desigualdade entre negros e brancos e votem, custe o que custar, para derrotar Donald Trump nas eleições de novembro.
“Estamos marchando para superar o que meu pai chamou de triplo mal da pobreza, racismo e violência”, disse ele. Pela manhã, milhares de pessoas com máscaras, devido ao coronavírus, fizeram fila para checar a temperatura e entrar no perímetro do National Mall, mas posteriormente o controle de temperatura teve que ser descartado devido ao tamanho das filas e fluxo de atendimento.
Em Washington, as vitrines das lojas foram cobertas com placas de proteção por medo de vandalismo, e havia uma forte presença da polícia bloqueando as ruas.”Não vir não era uma opção”, disse Karisha Harvey, uma mulher negra de 46 anos, que caminhava até o Mall com um pôster mostrando a Estátua da Liberdade com lágrimas no rosto, embalando um bebê embrulhado na bandeira americana. Harvey estava acompanhada de Cortney Smith, uma mulher branca com a mesma idade. “Estou farta de ouvir todas as semanas que um negro foi assassinado na rua”, disse ela.
Blake hospitalizado –
Blake, de 29 anos, sobreviveu e está hospitalizado, mas pode nunca mais voltar a andar, de acordo com seu advogado. As autoridades identificaram o policial que atirou em Blake como Rusten Sheskey. O agente foi suspenso, mas não foi preso, nem enfrentou acusações. Na sexta-feira, o Departamento de Justiça de Wisconsin disse que outros dois policiais, Vincent Arenas e Brittany Meronek, estiveram envolvidos no episódio.
De acordo com as autoridades, dois agentes tentaram dominar Blake com uma pistola de eletrochoque antes que ele entrasse em seu carro. Uma faca foi encontrada no veículo. Nos violentos protestos que se seguiram, duas pessoas foram mortas por um adolescente armado com um fuzil de assalto.
As autoridades prenderam o garoto branco de 17 anos e apresentaram acusações de homicídio doloso contra ele na quinta-feira. Menos de dez semanas antes da eleição presidencial, membros do governo Trump criticaram os protestos. O vice-presidente americano, Mike Pence, rejeitou as alegações de racismo policial sistêmico e condenou “a violência e o caos que tomam cidades em todo país”.
Boicote esportivo contra o racismo –
Em protesto, grandes times e ligas esportivas suspenderam suas partidas para manter os holofotes sobre o racismo e o abuso policial. A NBA cancelou os jogos do playoff na quarta-feira depois que o Milwaukee Bucks, cuja sede fica perto de Kenosha, retirou-se de quadra.
“Exigimos uma mudança. Estamos fartos disso”, escreveu LeBron James, estrela do Los Angeles Lakers, no Twitter. A liga de basquete feminino (WNBA) também adiou sua programação de jogos de quinta-feira pelo segundo dia consecutivo. No tênis, a ATP e a WTA Tours cancelaram o jogo do dia no Western & Southern Open em Nova York, e o evento será retomado na sexta-feira.