No Reino Unido, é cada vez maior o número de pessoas que estão estocando alimentos e remédios em casa por medo de ver esses produtos desaparecerem das prateleiras quando o Brexit virar realidade, no dia 29 de março
Por RFI
No Reino Unido, é cada vez maior o número de pessoas que estão estocando alimentos e remédios em casa por medo de ver esses produtos desaparecerem das prateleiras quando o Brexit virar realidade, no dia 29 de março.
No Facebook, um grupo criado para dar dicas e informações sobre como armazenar suprimentos já conta com quase 8 mil seguidores.
O governo garante que está se preparando para que o abastecimento continue normal. São cidadãos comuns que estão preocupados com o desenrolar das negociações para o Brexit e com os indícios de que o Reino Unido pode sair da União Europeia sem nenhum tipo de acordo.
Entre algumas histórias que foram retratadas nas mídias nos últimos dias, está a de uma mulher cuja filha adolescente sofre de epilepsia e outros problemas crônicos de saúde e precisa de várias medicações por dia. Ou a do pai de família que simplesmente prefere se precaver e vem acumulando alimentos não perecíveis e combustível há várias semanas.
Os dois fazem parte de um grupo criado no Facebook para troca de dicas e informações sobre como armazenar suprimentos. No último mês, o grupo dobrou de tamanho e já conta com quase 8 mil seguidores.
Enquanto isso, um empresário criou um “kit de sobrevivência ao Brexit”, com itens como alimentos desidratados, filtro de água e até equipamento para fazer fogo. A caixa custa cerca de 300 libras (quase R$ 1,5 mil) e é um sucesso de vendas.
Segurança alimentar ameaçada
Essa questão de uma eventual falta de alimentos, remédios e outros produtos nas prateleiras após o Brexit vem sido abordada durante estes últimos dois anos e meio, desde o referendo. Ela está longe de ser totalmente infundada: na última segunda-feira, os principais varejistas do país afirmaram que se o Reino Unido sair da União Europeia sem acordo, a segurança alimentar dos britânicos ficará ameaçada.
O consórcio que reúne as maiores redes de supermercados e de lanchonetes de fast-food do país alertou que, a curto prazo, os preços devem subir e as prateleiras vão ficar vazias. Em 2017, 30% dos alimentos consumidos pelos britânicos vieram da União Europeia, muitos deles perecíveis, como frutas, legumes e verduras.
Segundo os varejistas, a situação é particularmente delicada porque em março, quando o Brexit ocorrer, os produtos nacionais ainda não estarão no ponto certo para chegarem ao mercado.
Empresas farmacêuticas antecipam penúria
Não é só o varejo que está preocupado, as grandes empresas farmacêuticas também expandiram seus estoques de medicamentos e vacinas, assim como as montadoras de veículos, que antecipam uma eventual falta de peças. A Associação Britânica de Armazéns diz que 75% dos depósitos e grandes espaços para estoque de produtos industrializados em todo o país já estão lotados.
Enquanto o governo da primeira-ministra Theresa May tenta sair do impasse em relação ao futuro do país depois de 29 de março, aumentam os temores de que o Reino Unido acabe deixando a União Europeia sem nenhum tipo de acordo com o bloco.
Isso significa que, literalmente da noite para o dia, os britânicos perderiam o acesso ao mercado comum europeu e passariam a ter que pagar taxas altas para importar alimentos, remédios e outros tipos de suprimentos.
O chamado “no-deal Brexit” também veria a volta de controles alfandegários nos portos e aeroportos, que hoje não existem. Isso atrasaria a entrada e a distribuição desses produtos no país.
Estoques podem afetar suprimento atual
No caso dos medicamentos, o Ministério da Saúde tem feito apelos para que as pessoas não façam estoques porque isso pode afetar o suprimento atual. Isso teria um impacto significativo para os portadores de doenças crônicas ou pacientes que precisam desses remédios neste momento, como é o caso dos diabéticos.
O governo afirma que está trabalhando para garantir um abastecimento normal nos meses imediatamente após o Brexit. As autoridades também alegam que não há motivo para pânico em relação aos alimentos e que estão adotando medidas para minimizar a possível de falta de produtos nas prateleiras.