Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), tomou posse formalmente neste sábado (13) como primeiro-ministro da Itália, após semanas de instabilidade na terceira economia da zona do euro. “Juro lealdade à República”, declarou Draghi diante do chefe de estado do país, Sergio Mattarella, em uma cerimônia no palácio presidencial.
Nesta sexta-feira (12), Draghi anunciou a lista de 23 ministros, formada por políticos de diferentes correntes e renomados técnicos, que terão a tarefa de resgatar o país após a pandemia.Para um dos principais ministérios, ele nomeou o vice-governador do Banco Central italiano, Daniele Franco, seu homem de confiança, que assumirá a pasta de Economia.
O líder do Movimento 5 Estrelas, Luigi Di Maio, foi confirmado como ministro das Relações Exteriores, enquanto Giancarlo Giorgetti, líder da Liga de Matteo Salvini, de extrema-direita, será o ministro da Indústria. Draghi também confirmou o anterior ministro da Saúde, Roberto Speranza, do esquerdista Leu, um reconhecimento por seu trabalho na pandemia.
Draghi substitui Giuseppe Conte, depois de ter conquistado o apoio de quase todos os partidos políticos para formar um governo de unidade que tentará tirar o país das duas crises que atravessa. “Super Mario”, como costuma ser chamado pelo seu papel na crise da dívida europeia em 2012, deve submeter-se ao voto de confiança no Parlamento na próxima semana.
A Itália viveu em fevereiro uma crise política delicada em plena pandemia e com a pior recessão de sua história recente. Draghi escutou esta semana os líderes de todos os partidos políticos, assim como os representantes das partes sociais e os defensores do meio ambiente, com o objetivo de formar um governo heterogêneo, de unidade.
O economista conta com o apoio do maior partido de centro-esquerda, Partido Democrático (PD), da extrema-direita Liga, de Matteo Salvini, além do partido da direita moderada, Força Itália, de Silvio Berlusconi.
De último minuto, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), o maior partido no Parlamento depois de chegar ao poder há quase três anos, votou a favor na quinta-feira, com 59,3%, de um governo liderado por Draghi. Apesar disso, as dificuldades apenas começaram para o italiano de 73 anos, conhecido pela sua discrição, seriedade e determinação.
Transição ecológica e pandemia – A Itália, que se aproxima de 100 mil mortes por Covid-19, registrou uma das piores quedas do PIB da zona do euro em 2020, com perda de 8,9%. Para reativar a terceira economia europeia, um fundo colossal de 200 bilhões de euros (240 bilhões de dólares) foi concedido pela União Europeia (UE).
“A covid-19 agravou a crise na Itália, que continua a ser a mais difícil da Europa”, explicou à AFP Fabio Pammolli, professor de economia da Escola Politécnica de Milão. Draghi anunciou a criação do Ministério da Transição Ecológica, a cargo do renomado físico Roberto Cingolani, uma exigência de diversos setores da sociedade e também do antissistema.A nova estrutura, com o objetivo de promover uma economia que respeite o meio ambiente, deve receber muitos recursos, “já que 37% do fundo europeu deve financiar projetos de defesa do clima e da biodiversidade”, segundo o site Quifinanza.
A Itália, que acumulou uma dívida gigantesca que representava 158% do PIB no final de 2020, espera acelerar a campanha de vacinação, afetada por atrasos no abastecimento. Outros temas, como justiça, educação e reforma burocrática estão na agenda do governo.O “salvador da nação”, como tem sido chamado, enfrentará o maior desafio de sua carreira de sucesso.
Considerado um dos mais ilustres italianos, formou-se na prestigiosa escola jesuíta de Roma e no MIT nos EUA, é católico praticante, considerado próximo ao papa Francisco.”Ele é a favor de uma regulamentação estrita [dos mercados] e também de um estado de bem-estar que proteja os desfavorecidos”, resumiu Marcello Messori, economista da Universidade Luiss de Roma, à agência AFP.