A Líbia informou nesta sexta-feira (16) que recuperou 62 corpos de migrantes, após o naufrágio do dia anterior próximo a Khoms, cidade localizada 120 quilômetros a oeste de Trípoli.
“As unidades do Crescente Vermelho da Líbia conseguiram resgatar 62 corpos de imigrantes”, disse Abdel Moneim Abu Sbeih, alto funcionário da organização, à AFP.
O número de migrantes a bordo da embarcação que naufragou na madrugada de quarta para quinta-feira é incerto, e as cifras variam conforme as fontes.
De acordo com a Organização Internacional de Migrações (OIM), 145 pessoas foram resgatadas e 110 estão desaparecidas ao longo da costa da Líbia, um país mergulhado desde 2011 no caos, com disputas de poder e milícias que exercem o poder.
Para a Marinha líbia, 134 pessoas foram resgatadas e 115 estão desaparecias. A ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) na Líbia estimou, por sua vez, que cerca de 400 pessoas estariam a bordo da embarcação.
“Vamos prosseguir com as operações para recuperar os corpos trazidos pelo mar esta noite e na próxima”, acrescentou Sbeih, confirmando que não era possível dar um número exato do total de vítimas do naufrágio.
As autoridades de Khoms, cidade situada 120 km a oeste de Trípoli e de onde partiu a embarcação, enfrentam dificuldades para sepultar os corpos recuperados, informou uma fonte da administração municipal da cidade.
Além dos “problemas relativos a procedimentos jurídicos”, eles sofrem para “encontrar um lugar para o enterro das vítimas” deste novo drama, qualificado pela ONU como a pior tragédia do ano no Mar Mediterrâneo.
“Nós precisamos de rotas seguras e legais para os migrantes e os refugiados. Todo migrante em busca de uma vida melhor merece segurança e dignidade”, escreveu no Twitter o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que se disse “horrorizado” com a tragédia.
O naufrágio é um “terrível lembrete” dos riscos assumidos pelos migrantes que querem deixar a Líbia rumo à Europa, afirmou nesta sexta a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini. “Cada vida perdida é demais”, acrescentou.
Antes deste naufrágio, o Alto Comissariado para os Refugiados (Acnur) e a OIM haviam reportado ao menos 426 mortos desde o início do ano tentando atravessar o Mediterrâneo, que se tornou a via marítima mais mortal do mundo.
Em “estado de choque”
Segundo o porta-voz da Marinha líbia, general Ayoub Kacem, a embarcação era “de madeira” e “naufragou a menos de 5 milhas náuticas da costa, segundo testemunhos de sobreviventes”.
Os migrantes resgatados são, na maioria, da Eritreia, mas entre eles há palestinos e sudaneses, acrescentou, em um comunicado.
Perto de Khoms, cerca de 30 pessoas retiradas das águas aguardavam em silêncio em um local sem cobertura e sobre um chão de cimento. Eles contaram à AFP como ocorreu a tragédia.
Menos de duas horas depois de sua partida, na noite de quarta-feira, a embarcação se encheu de água e o motor parou. “Ficamos na água entre seis e sete horas”, contou um dos sobreviventes, contando ter visto a morte de cerca de 200 pessoas, “homens, mulheres e crianças”.
“Um homem originário do Sudão nos disse ter visto sua esposa e seus filhos se afogarem. Estava totalmente desorientado e ficou sentado lá, em estado de choque”, contou Anne-Cecilia Kjaer, enfermeira de MSF, que cuidava dos sobreviventes.
“Muitas crianças não sabiam nadar e mesmo as que sabiam, sucumbiram ao cansaço”, relatou.
“Viagem horrível”
Este naufrágio foi para as vítimas a última etapa de uma “viagem horrível”: antes de chegar ao mar, “eles atravessaram o deserto, foram capturados por traficantes” de seres humanos, contou a enfermeira.
Segundo cifras da OIM, pelo menos 5.200 pessoas estão atualmente em centros de detenção na Líbia.
Apesar dos riscos da travessia para a Europa, os migrantes se aventuram no mar, preferindo tentar a sorte do que permanecer na Líbia, onde sofrem abusos, extorsões e torturas, explicam as ONGs.
Se forem socorridos no mar e levados de volta à Líbia, geralmente são acolhidos pelas ONGs que atuam localmente, que lhes oferecem cuidados e alimento, depois colocados pelas autoridades líbias em centros de detenção, regularmente descritos pelas ONGs como locais sem direitos.