GENEBRA — Citando o que consideram ser o “maior desafio para a comunidade global desde a década de 1940”, líderes de 23 países e da Organização Mundial da Saúde (OMS) defenderam, nesta terça-feira, a criação de um tratado internacional que ajudaria o mundo a lidar com futuras emergências de saúde.
De acordo com os líderes, a Covid-19 serviu como “um lembrete forte e doloroso de que ninguém está seguro até que todos estejam seguros”. Por isso, o texto argumenta, é necessário um pacto similar ao firmado ao fim da Segunda Guerra Mundial, que culminou na criação das Nações Unidas, necessário para aumentar a cooperação multilateral antes da próxima pandemia.
Em um artigo conjunto publicado em uma série de jornais internacionais, as autoridades alertam para a inevitabilidade de uma nova crise sanitária. Elas defendem um acordo que garanta acesso universal e igualitário a vacinas, remédios e diagnósticos. Entre os signatários da proposta estão o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson; o presidente francês, Emmanuel Macron; e a chanceler alemã, Angela Merkel.
“Estamos convencidos de que é nossa responsabilidade, como líderes de nações e instituições internacionais, garantir que o mundo aprenda as lições da pandemia Covid-19”, escreveram os líderes.
A escalada das tensões internacionais sobre o fornecimento de vacinas levou a apelos aos países para que abandonem o isolacionismo e o nacionalismo e se unam para abrir caminho para uma nova era fundada em princípios como solidariedade e cooperação.
A União Europeia, no entanto, chegou aumentar as restrições para a exportação de vacinas contra a Covid-19 produzidas em seu território, diante de problemas com a AstraZeneca, com o Reino Unido, e da lenta campanha de imunização no bloco. O governo de Boris, que já vacinou mais de 46% de sua população, por sua vez, pôs cláusulas de entrega prioritária em seus contratos de compra de doses. Nesta terça, Londres afirmou que pretender vacinar toda sua população adulta antes de compartilhar suas doses com outros países.
A ideia do tratado foi lançada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em uma cúpula do G20 em novembro passado. Além de Merkel, Macron e Boris, recebeu o apoio formal dos líderes de Fiji, Portugal, Romênia, Ruanda, Quênia, Grécia, Coréia, Chile, Costa Rica, Albânia, África do Sul, Trinidad e Tobago, Holanda, Tunísia, Senegal, Espanha, Noruega, Sérvia, Indonésia, Ucrânia, além da OMS.
Ausência de potências– Em uma entrevista coletiva para divulgar a proposta, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreysus, disse que “todos países-membros estarão representados” quando as discussões começaram. Questionado se os líderes dos Estados Unidos, da Rússia e da China foram procurados para assinar o artigo divulgado nesta terça, ele disse apenas que alguns líderes escolheram “ser incluídos”:
— Comentários de países-membros, incluindo os EUA e a China, foram na verdade positivos — afirmou. — Os próximos passos vão envolver todos os países, isso é normal (…). Não quero que seja visto como um problema.
O principal objetivo do tratado seria fortalecer a resiliência mundial a futuras pandemias, por meio de melhores sistemas de alerta, compartilhamento de dados, pesquisa, produção e distribuição de vacinas, medicamentos, diagnósticos e equipamentos de proteção individual, disseram eles.
O tratado também afirma que a saúde de humanos, animais e do planeta está conectada e deve levar à responsabilidade compartilhada, transparência e cooperação global. Os sistemas internacionais atualmente em vigor e suas limitações de poder, reconhecem os 23 países, não é suficiente:
“Teremos outra pandemia e outras grandes emergências sanitárias. Nenhum governo ou agência multilateral pode resolver isso sozinho”, afirmaram. “Nós acreditamos que os países devem trabalhar juntos em direção a um novo tratado internacional de preparação e resposta a pandemias.”