SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Morto em 2016, aos 15 anos, após enfrentar uma leucemia, o jovem Carlo Acutis foi beatificado pela Igreja Católica neste sábado (10) na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália.
A beatificação foi concedida a partir de uma cura que a Igreja diz reconhecer como milagre e que aconteceu no Brasil: uma criança de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, teria sido curada de uma doença congênita após tocar em uma relíquia de Carlo Acutis em outubro de 2013.
Chamado de “anjo bom da juventude”, Carlo Acutis ficou conhecido em vida por fazer evangelizações na internet. Tinha conhecimento de computação acima da média para sua idade e criou um site para catalogar milagres pelo mundo e difundir os ideais da Igreja.
Filho de pais italianos, Carlo nasceu na Inglaterra, mas mudou-se ainda criança para a Itália, onde viveu sua infância e juventude. Aproximou-se da Igreja ainda criança e tornou-se um católico praticante.
Após sua morte, em 12 de outubro de 2006, passou a ser adorado por católicos, que buscavam relíquias do jovem em busca de milagres. Foi declarado “venerável” pelo Vaticano em 5 de julho de 2018.
No Brasil, o padre Marcelo Tenório, da Paróquia São Sebastião, em Campo Grande , costumava realizar uma missa anual em homenagem a Nossa Senhora Aparecida com a exposição de uma relíquia de Carlo Acutis -um pedaço de roupa com marcas de sangue do jovem.
Na missa do dia 12 de outubro de 2013, estavam presentes o menino Matheus Vianna, então com 3 anos, sua mãe e seu avô.
Cerca de um ano antes, Matheus havia sido diagnosticado com pâncreas anular, anomalia congênita que faz com que o paciente tenha dificuldade de se digerir os alimentos e causa vômitos constantes.
“Matheus estava bastante debilitado por causa da doença, não conseguia se alimentar direito e não ganhava peso. Ele não conseguia ter uma vida normal, estava apenas sobrevivendo, definhando mesmo”, afirma a mãe de Matheus, Luciana Lins Vianna, 40.
Na época, conta Luciana, os médicos haviam afirmado que não havia alternativas para salvá-lo, já que seriam pequenas as chances de ele sobreviver a uma cirurgia para tentar reverter a doença.Sem alternativas no campo médico, a família começou a organizar novenas nas quais pediam a cura de Matheus.
Na missa de outubro de 2013, o padre Marcelo Tenório apresentou a relíquia de Carlo Acutis e organizou uma fila para que os fiéis fizessem suas preces. No colo do avô, Matheus fez o pedido: “Quero parar de vomitar”.
“Ficamos fortemente emocionados naquele momento”, relembra Luciana. Ela conta que, ao chegar em casa, Matheus pediu para comer a comida preferida do irmão: arroz feijão, bife e batata frita. Mastigou, engoliu e não vomitou.
A partir deste dia, conta a família, Matheus passou a alimentar-se normalmente. Passou até a comer mais do que antes: “Queria comer o tempo todo. Um dia, eu o encontrei escondido debaixo da cama, comendo, abraçado a um saco de pão”, diz a mãe.
Com o passar do tempo, começou a ganhar peso e a crescer. Primeiro, espichou em altura. E, aos poucos, foi também ganhando massa muscular. Exames médicos realizados pelo menino constataram a cura da doença. “Nunca mais tivermos problema. A saúde dele é boa demais”.
O Vaticano instaurou um Tribunal Eclesiástico para averiguar do fato: colheu depoimentos de testemunhas e provas documentais. Em novembro do ano passado, o milagre foi aceito pela Igreja católica, que anunciou a beatificação de Carlo Acutis.
Em missa de ação de graças pela beatificação realizada neste sábado (10) em Campo Grande, o padre Marcelo Tenório classificou a beatificação de Carlo como um signo para a Igreja Católica nos tempos atuais.
“Deus quis deixar no Carlo um grande sinal para o nosso tempo. O primeiro sinal é que é possível viver no nosso tempo e, ao mesmo tempo buscar a Deus e se santificar. Que é possível usar os meios do seu tempo desde que nada possa lhe tirar da ordem. E a ordem conduz a Deus”, afirmou.
Para Luciana, mãe de Matheus, o milagre e a posterior beatificação de Carlo Acutis mostram que as pessoas ainda devem ter fé. “É muito bonito ver que rapaz de tênis, camiseta, celular e mochila nas costas fez um milagre estrondoso. Mostra que Deus está olhando por nós”.
Matheus, que também comemorou a beatificação, costuma dizer que tem um amigo no céu. Diz a mãe: “Sinto que ele está em boas mãos”.