Ernesto Araújo disse ainda que fez isso por orientação do Ministério da Saúde, até então sob gestão de Eduardo Pazuello, e citou a necessidade do medicamento para outras doenças, além da Covid-19. Questionado sobre um acordo para vacinas, no qual o Brasil negociou apenas 10% das doses oferecidas, o ex-ministro também alegou ter sido decisão da pasta da Saúde.
Em depoimento à CPI da Covid, no Senado, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo negou que tenha causado atritos com a China durante a pandemia da Covid-19. No entanto, ao longo do ano passado, o ex-chanceler deu declarações críticas ao gigante asiático e cunhou o termo “comunavírus” para se referir ao coronavírus no artigo em que critica o regime totalitário chinês — o texto foi relembrado durante a sessão desta terça-feira pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).
A China é um dos principais produtores de remédios e insumos médicos do mundo, incluindo os utilizados para produzir vacinas contra o coronavírus no Brasil. O presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM), pediu que Araújo não faltasse com a verdade. Ele lembrou do texto em que o ex-ministro sugeriu que a pandemia tinha como objetivo trazer de volta o comunismo e usou o termo “comunavírus”. “Não houve nenhuma falta com a verdade. Eu me referia a um ‘vírus ideológico’, não ao coronavírus”, afirmou. “O artigo não é sobre a China e eu não vejo nada contra a China.”
O ex-chanceler deixou o governo em março deste ano e admitiu na CPI que o governo pediu que ele deixasse o cargo por pressão do Congresso — parlamentares estavam incomodados com atritos com a China e acreditavam que a atuação de Araújo prejudicava essa relação. Aziz lembrou também do episódio em que Araújo respondeu ao embaixador chinês no Twitter.No ano passado, críticas do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao país asiático e seu hábito de chamar o coronavírus de “vírus chinês” levaram o embaixador chinês, Yang Wanming a se posicionar exigindo um pedido de desculpas.
Na época, Araújo disse que as críticas de Eduardo “não refletem a posição do governo brasileiro”, mas que era “inaceitável que o Embaixador da China endossasse ou compartilhe postagem ofensiva ao Chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores”. Araújo afirmou à CPI que, apesar de ter momentos em que se queixou da atitude do embaixador, não acredita que nenhuma de suas declarações tenha sido “anti-China”. “Não defendi Eduardo Bolsonaro. Me referia ao fato do embaixador ter feito um retuíte de uma postagem criticando o presidente da República.”
O relator da CPI, Renan Calheiros, questionou Araújo também sobre declarações do presidente contrárias à China, como quando afirmou, em outubro de 2020, que “da China nós não compramos” e que não acreditava “que a vacina passe segurança quanto a sua origem”. O ex-chanceler afirmou que não discutiu essa questão com o presidente. Calheiros citou também episódios em que Eduardo Bolsonaro e o ex-ministro Abraham Weintraub culparam a China pela pandemia.
“Eu não vejo nos exemplos que o senhor mencionou hostilidade com relação à China”, afirmou. “Não se pode ver no comércio com o país nenhum indício de perda de qualidade nessa relação.”Araújo reconheceu, entretanto, que escreveu uma carta ao chanceler chinês reclamando da atuação do embaixador chinês no Brasil.Questionado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre se o conjunto de falas contrárias ao país asiático vindas do governo constituíam uma boa diplomacia, disse que sim – e que não concordava com a “interpretação” feita pelo senador sobre as falas.
A senadora Katia Abreu (PP), representante da bancada feminina, afirmou em resposta que o comércio não foi prejudicado graças à atuação e ao trabalho dos produtores brasileiros. Araújo comparece à CPI, um dia antes do mais aguardado depoimento da comissão, o do ex-ministro da saúde Eduardo Pazuello. O general presta depoimento na quarta (19/05) e conseguiu na Justiça o direito de não responder perguntas que possam incriminá-lo.
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), isso não deve afetar as investigações, já que Pazuello ainda é obrigado a responder questões que envolvam atitudes e ações de outras pessoas presenciadas por ele. Araújo, no entanto, não tem a mesma prerrogativa e tem a obrigação de responder a todas as perguntas.