O relógio marcava 20h em Brasília (2h de hoje na Faixa de Gaza) quando o médico Hazem Abu Moloh, 49 anos, mandou um áudio ao Correio em que se ouvia o barulho de fogos de artifício e de uma multidão celebrando, na Cidade de Gaza. “As pessoas estão muito felizes. O cessar-fogo começou agora”, afirmou. No alto-falante, gritos de “Allahu Akbar” (“Deus é maior”), “Liberdade”, “Palestina” e “Nós vencemos!”. Em Ashdod (sul de Israel), a estudante Roni Ben Zikry, 27 anos, demonstrava alívio. “Eu estou muito feliz com a calmaria aguardada e com a possibilidade de andar pelas ruas sem a ameaça de mísseis. Os últimos dias foram desafiadores. Tenho orgulho da capacidade dos cidadãos de cumprirem com suas tarefas e permitirem que o governo tome o curso da ação”, disse, por meio do WhatsApp. Depois de 11 dias de violência, que custaram a vida de 232 palestinos e de 12 israelenses, o desafio de ambas as partes será assegurar a implementação da tensa trégua. Os Estados Unidos e o Reino Unido saudaram a interrupção das hostilidades no Oriente Médio, que tiveram a mediação do Egito.
O Hamas reivindicou a “vitória” no confronto com Israel. “É a euforia da vitória”, disse Jalil Al Haya, número dois do gabinete político da facção na Faixa de Gaza, ao discursar para manifestantes, durante a madrugada. As fotos e vídeos enviados por Hazem mostravam o povo na rua, além de buzinaços. “Há mulheres e crianças de todas as gerações”, contou. “Hoje, nós não dormiremos. Ao contrário dos últimos dias, em que vivíamos sob bombardeios, destruição e morte, nesta noite ficaremos despertos, com o nosso desejo de respirar o ar de uma terra querida e o cheiro de uma nova vida”, desabafou.
O cessar-fogo foi classificado como “incondicional” pelo gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enquanto os grupos islâmicos Hamas e Jihad Islâmica confirmaram a trégua. “O gabinete (de segurança) aceitou por unanimidade a recomendação dos funcionários de segurança (…) de aderir à iniciativa egípcia de cessar-fogo bilateral sem condições”, informaram as autoridades israelenses, por meio de um comunicado.
Em pronunciamento à nação, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que conversou com Netanyahu e com Abdel Fattah El-Sisi, presidente do Egito. “O senhor Netanyahu me informou que Israel concordou com um cessar-fogo mútuo incondicional. Os egípcios nos informaram que o Hamas e outros grupos em Gaza também concordaram”, declarou. Biden deu seu “sincero reconhecimento” ao Egito pela mediação da trégua. “Creio que temos uma oportunidade genuína de seguir em frente e estou comprometido em trabalhar para isso.” O Departamento de Estado norte-americano anunciou que o secretário Antony Blinken viajará ao Oriente Médio “nos próximos dias”. Dominic Raab, ministro britânico das Relações Exteriores, instou os dois lados a tornarem o cessar-fogo duradouro.
Qais M. Shqair, chefe da Missão Permanente da Liga dos Estados Árabes no Brasil, disse à reportagem que o cessar-fogo é um “desenvolvimento positivo”. “Trata-se de um passo adiante. Nós esperamos que ele seja respeitado. Preservar as vidas dos civis é uma prioridade”, comentou.
Mais cedo, durante um debate na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), uma troca de farpas entre o chanceler palestino, Riyad Al-Maliki, e o embaixador israelense, Gilad Erdan, deu o tom de fragilidade da trégua. “Vamos parar com esse massacre. Como pode uma potência ocupante ter o direito de se defender quando todo um povo sob ocupação está privado dos mesmos direitos?”, questionou Al-Maliki. Por sua vez, Erdan denunciou que a ONU atua com “indiferença em relação ao status do Hamas, que, como nazistas, está empenhado no genocídio do povo judeu”. “Vemos uma tentativa de criar falsa equivalência moral”, acrescentou.
Ceticismo
As últimas horas de hostilidades aumentavam o ceticismo sobre a interrupção da violência. As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que, somente ontem, mais de 300 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção ao território israelense. “Em resposta, atingimos cerca de 30 bases de lançamento dos artefatos”, afirmaram, por meio do Twitter. Desde 10 de maio, o Hamas lançou 4.340 foguetes contra Israel.
Abrigado em uma escola da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), no norte da Faixa de Gaza, o sanitarista Youssef Ibrahim Haboub misturava ceticismo e esperança em relação à trégua. Casado e pai de oito crianças, o palestino de 42 anos disse ao Correio não saber se o cessar-fogo será passível de credibilidade. Pouco antes da zero hora de hoje (18h de ontem em Brasília), ele relatou que escutava o barulho de drones (aviões de reconhecimento não tripulados). “Eu quero viver em paz, com minha família. Quero voltar para casa. Durante os bombardeios, crianças choram e clamam por seus pais. Meus filhos precisam de apoio psicológico, pois sentem medo e têm pesadelos todas as noites”, disse. Ele a família foram forçados a fugir de casa, pois vivem a apenas 1km da fronteira com Israel.
“Inferno na Terra” para crianças
“Se existe um inferno sobre a Terra, são as vidas das crianças em Gaza”, advertiu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, antes do anúncio do cessar-fogo. Ele lamentou que cerca de 60 crianças palestinas tenham sido mortas pelos bombardeios de Israel, enquanto milhares ficaram feridas. Guterres também classificou como “inaceitável” o lançamento indiscriminado de foguetes por parte do Hamas, os quais mataram 12 pessoas no sul de Israel e em Tel Aviv. “Os combates forçaram mais de 50 mil pessoas a abandonarem suas casas e a buscarem abrigo na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no PróximovOriente (UNRWA).
» Depoimentos
Alegria e dor
Ibrahim Alzeben
“Este é um momento de alegria, apesar da dor que acompanhou 11 dias de opressão. Agradecemos ao irmão Egito e a todos os esforços extenuantes de todos os atores internacionais que contribuíram para estancar o sangramento. Esperamos que seja o começo do fim da agressão e da violência, e um verdadeiro começo para o povo palestino recuperar seus direitos nacionais. Esta rodada sangrenta, na qual centenas de pessoas inocentes foram mortas e destruídas, provou que o uso da força por Israel, não importa o quão grande seja, não impedirá o nosso povo palestino de reivindicar o nosso direito legítimo a uma vida decente, em um Estado independente, com Jerusalém Oriental como capital.”
Embaixador palestino em Brasília
Esperança israelense
David Atar
“O povo de Israel recebeu a notícia com uma mistura de sentimentos de esperança, com lembrança dos últimos casos de cessar-fogo. O problema principal da Faixa de Gaza e do lado palestino não foi resolvido: o fundamentalismo religioso do Hamas e da Jihad Islâmica e a negação da existência do Estado de Israel, além da incitação e da doutrinação das gerações contra a ideia de convivência pacifica com Israel. Depois de 11 dias e de 4 mil foguetes lançados de forma indiscriminada contra cidades israelenses, não conseguiram quebrar o espírito do povo de Israel. Uma nova atitude quanto à Faixa de Gaza será necessária para resolver o problema. Os velhos e reciclados paradigmas não serão suficientes para trazer a paz.”
Encarregado de Negócios da Embaixada de Israel
Embaixadores árabes cobram posição do Brasil
Qais M. Shqair, chefe da Missão Permanente da Liga dos Estados Árabes no Brasil, disse à reportagem que o cessar-fogo é um “desenvolvimento positivo”. “Trata-se de um passo adiante. Nós esperamos que ele seja respeitado. Preservar as vidas dos civis é uma prioridade”, comentou.
Mais cedo, durante um debate na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), uma troca de farpas entre o chanceler palestino, Riyad Al-Maliki, e o embaixador israelense, Gilad Erdan, deu o tom de fragilidade da trégua. “Vamos parar com esse massacre. Como pode uma potência ocupante ter o direito de se defender quando todo um povo sob ocupação está privado dos mesmos direitos?”, questionou Al-Maliki. Por sua vez, Erdan denunciou que a ONU atua com “indiferença em relação ao status do Hamas, que, como nazistas, está empenhado no genocídio do povo judeu”. “Vemos uma tentativa de criar falsa equivalência moral”, acrescentou.
Ceticismo
As últimas horas de hostilidades aumentavam o ceticismo sobre a interrupção da violência. As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que, somente ontem, mais de 300 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção ao território israelense. “Em resposta, atingimos cerca de 30 bases de lançamento dos artefatos”, afirmaram, por meio do Twitter. Desde 10 de maio, o Hamas lançou 4.340 foguetes contra Israel.
Abrigado em uma escola da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), no norte da Faixa de Gaza, o sanitarista Youssef Ibrahim Haboub misturava ceticismo e esperança em relação à trégua. Casado e pai de oito crianças, o palestino de 42 anos disse ao Correio não saber se o cessar-fogo será passível de credibilidade. Pouco antes da zero hora de hoje (18h de ontem em Brasília), ele relatou que escutava o barulho de drones (aviões de reconhecimento não tripulados). “Eu quero viver em paz, com minha família. Quero voltar para casa. Durante os bombardeios, crianças choram e clamam por seus pais. Meus filhos precisam de apoio psicológico, pois sentem medo e têm pesadelos todas as noites”, disse. Ele a família foram forçados a fugir de casa, pois vivem a apenas 1km da fronteira com Israel.
“Inferno na Terra” para crianças
“Se existe um inferno sobre a Terra, são as vidas das crianças em Gaza”, advertiu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, antes do anúncio do cessar-fogo. Ele lamentou que cerca de 60 crianças palestinas tenham sido mortas pelos bombardeios de Israel, enquanto milhares ficaram feridas. Guterres também classificou como “inaceitável” o lançamento indiscriminado de foguetes por parte do Hamas, os quais mataram 12 pessoas no sul de Israel e em Tel Aviv. “Os combates forçaram mais de 50 mil pessoas a abandonarem suas casas e a buscarem abrigo na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA).