Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
Serão cinco estágios para a volta à normalidade. As escolas devem reabrir em setembro. Varadkar, que é médico, ressaltou, porém, que pode voltar atrás caso os casos de coronavírus e as mortes por conta da doença aumentem. O governo irlandês teme uma nova onda de pessoas infectadas.
Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador da Irlanda no Brasil, Seán Hoy, explica as implicações do vírus na saúde pública do país, bem como dos impactos econômicos e sociais da pandemia. O diplomata fala do trabalho das sedes diplomáticas na busca de materiais médicos e equipamentos de proteção. A embaixada em Brasília, de acordo com Hoy, permanece aberta e “comprometida com os esforços de sustentar as ligações de negócio existentes e a considerar novas oportunidades”. Leia agora a entrevista completa com o embaixador Seán Hoy.
Embassy – A Irlanda agiu rapidamente para impedir que o coronavírus entrasse no país, o que fez toda a diferença. Quando começaram e quais foram as principais medidas?
O primeiro caso de coronavírus foi confirmado na Irlanda em 29 de fevereiro. Tivemos sorte que nosso governo estava monitorando o avanço da doença em outros países na Europa e globalmente, assim pudemos agir rapidamente. Nosso primeiro ministro é também médico, então entendeu as implicações do vírus na saúde pública, bem como dos impactos econômicos e sociais. Durante as últimas três semanas, o vírus mudou para o que a OMS classifica como fase de transmissão comunitária. Logo, as decisões tiveram que ser tomadas rapidamente para minimizar o risco para os cidadãos com o cancelamento de grandes eventos esportivos, grandes aglomerações e nosso desfile anual no Dia de São Patrício.
Em 12 de março, foi anunciado o fechamento de escolas, faculdades e creches. Em 27 de março, outras medidas foram introduzidas incluindo a diretiva ”Fique em casa”. Estas medidas foram estendidas até o dia 5 de maio. No Brasil, decidimos cancelar os eventos da data nacional em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo para minimizar o risco potencial para nossos convidados, juntamente com os eventos culturais relacionados em todo o país.
Embassy – Como está o controle da pandemia na Irlanda? Quais são as maiores dificuldades?
No começo da crise, a Irlanda passou por alguns problemas, assim como outros países na Europa. Nossa maior preocupação era a onda de casos que poderia sobrecarregar nosso Sistema de saúde e levar a um alto nível de mortalidade. Então nosso Governo foi orientado por nossos especialistas de saúde pública a fim de achatar a curva e conter a disseminação da doença.
Os cidadãos, com exceção dos trabalhadores essenciais, foram orientados a permanecerem em casa, praticar o distanciamento social e permanecer por um raio de dois quilômetros de distância quando se exercitarem em áreas externas. A população irlandesa uniu esforços com esta chamada do governo e teve um grande senso de solidariedade em todo o país. Por exemplo, pessoas ajudaram seus vizinhos entregando alimentos e mantimentos para os mais velhos que não podiam sair de casa. A população entende que, embora não sejam medidas fáceis, elas são necessárias para controlar a disseminação da doença. Houve uma redução considerável.
A Irlanda vivenciou dificuldades semelhantes a outros países em termos de capacidade de testes e equipamentos de proteção para os profissionais de saúde. Estas questões estão sendo resolvidas como parte de uma resposta intergovernamental em todo o país. Nossa rede de embaixadas foi especialmente ativa na busca de materiais médicos e equipamentos de proteção. Este é um novo papel para nossas sedes diplomáticas e estou muito orgulhoso em dizer que respondemos a este desafio de forma muito eficaz.
Embassy – Quais setores econômicos foram mais afetados na Irlanda ?
O governo tomou medidas antecipadas para tentar proteger os empregos na Irlanda, porque quase 3% da população perdeu seus empregos em meados de março. Em 16 de março, anunciou o pagamento do Seguro Desemprego pela pandemia, o qual estaria disponível por seis semanas. Isso ajudou a compensar os impactos mais graves da pandemia sobre aqueles que não têm outra fonte de renda. Um Esquema de Subsídio Salarial foi anunciado em 26 de março, por um período de doze semanas. Essas medidas foram tomadas para ajudar os empregadores e seus funcionários a voltarem à atividade econômica quando as restrições atuais forem atenuadas no futuro. O objetivo é “congelar” a economia o máximo possível e preservar sua capacidade produtiva, para que ela possa se recuperar rapidamente quando a atividade econômica normal começar a retomada.
Embassy – A Irlanda quadruplicará sua ajuda financeira à Organização Mundial da Saúde, enquanto os Estados Unidos não apoiarão mais essa organização internacional. A contribuição irlandesa passa agora de 9,5 milhões de euros para 54,2 milhões de euros. O senhor poderia explicar essa decisão?
A Irlanda apoia fortemente o sistema multilateral e, como você sabe, estamos concorrendo a um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas neste verão. Acreditamos que a resposta a uma crise global como a Covid-19 também deve ser global e coordenada para ser eficaz. A OMS desempenha um papel importante nessa resposta. Assim, por exemplo, em fevereiro de 2020, a Organização lançou um apelo para responder à pandemia, principalmente para apoiar países em desenvolvimento com sistemas de saúde fracos. Esse apelo foi fundido com a Resposta Humanitária Global da ONU, parte de uma resposta combinada do sistema das Nações Unidas ao vírus.
Através do programa Irish Aid, a Irlanda forneceu até o momento 6,8 milhões de euros aos elementos dessa resposta humanitária internacional da OMS, que ajudarão a mitigar e combater os efeitos do vírus. Em países como Etiópia, Uganda e Tanzânia, parceiros em desenvolvimento de longa data da Irlanda, nossas embaixadas estão trabalhando diretamente com a Organização no apoio e fortalecimento de suas respostas nacionais. Trabalhei em muitos países em desenvolvimento durante minha carreira e vi, em primeira mão, quão crucial é o papel de convocação e coordenação das agências da ONU, incluindo a OMS, para ajudar os países a responder a esses tipos de crises na saúde.
Embassy – Como tem sido o papel das embaixadas irlandesas durante esta crise? Hoje, as embaixadas trabalham muito com os negócios, que a Irlanda pode ajudar o Brasil nessa crise também na economia?
Desde o começo da crise, as embaixadas irlandesas em todo o mundo ajudaram milhares de irlandeses a retornarem para seus lares na Irlanda. A embaixada no Brasil ajudou muitos cidadãos irlandeses a encontrarem um voo para a Irlanda. Esta ajuda incluiu também brasileiros que trabalham na Irlanda e precisavam retornar. Estamos trabalhando com as agências estatais afim de apoiarem negócios existentes, principalmente os que estão passando por dificuldades pois importam materiais do mundo inteiro e tem desafios devido à redução no número de voos de carga.
Também existe um grande número de estudantes brasileiros na Irlanda. No momento, muitos deles estão se beneficiando da ajuda de curto prazo do governo irlandês e permanecem na Irlanda. Este apoio inclui acesso gratuito ao sistema de saúde, permissão temporária de trabalho por até 40 horas semanais e direito ao pagamento do Seguro Desemprego pela Pandemia da Covid-19. Eles dão uma enorme contribuição à economia irlandesa e desejamos garantir que sintam-se bem vindos, seguros e cuidados durante este tempo difícil.
Gostaria de ressaltar também que as faculdades irlandesas estão abertas para o processo seletivo do ano acadêmico 2020/21. É possível que haja aulas online durante o primeiro semestre. A Irlanda segue rigorosamente a orientação da OMS e estas medidas estão funcionando. A embaixada em Brasília permanece aberta e comprometida com os esforços de sustentar as ligações de negócio existentes enquanto pronta também para considerar novas oportunidades à medida que surgem.
Como embaixador, estou trabalhando duro para construir ligações entre nossos dois países. Desejo que nossa cooperação saia desta crise ainda mais forte para que possamos avançar nesta parceria e entregar o tremendo potencial que vejo na relação entre Brasil e Irlanda.