Iranianos festejam o 40º aniversário da insurreição em evento promovido pela sede diplomática. Embaixador Seyed Ali Saghaeyan destaca conquistas do país, acordo nuclear; tema de muitos debates, e afirma que estão pagando caro pela independência
Raquel Pires
A Revolução Islâmica, ocorrida em 11 de fevereiro de 1979, transformou o Irã, até então uma monarquia autocrática, em uma república islâmica teocrática sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini. Durante toda essa semana a data foi lembrada em várias partes do mundo. Em Brasília, a data foi lembrada no dia 05 fevereiro, no Clube Naval. Durante o evento, o Embaixador Seyed Ali Saghaeyan discursou sobre diversos tópicos, como economia, relações exteriores, conquistas do país e embargos sofridos pelos Estados Unidos.
Saghaeyan relembrou a história comentando que a revolução iraniana foi um ato popular que perdura até hoje. “A República Islâmica do Irã, tendo em vista a natureza plenamente popular da sua Revolução, desde o início focou na manutenção de sua independência e aproveitando de seus próprios potenciais e na capacidade de seus talentos, conseguiu ter avanços notáveis nas diferentes áreas”.
O embaixador declarou que para romper os laços de dependência e em insistir pela manutenção da sua independência, o Irã teve que “pagar caro”, tendo em vista ações e embargos que vem sofrendo dos Estados Unidos, que segundo Ali Saghaeyan, perduram há anos. “Eles tentaram criar atritos e desentendimentos étnicos e religiosos, projetaram vários golpes de estado, impuseram a guerra de oito anos no período do Sadan Houssein e, enfim, impuseram os injustos embargos econômicos, tudo com a finalidade de enfrentar a independência do Irã”, pontuou o diplomata.
Os avanços democráticos realizados pelo Irã nos últimos 40 anos foram exaltados pelo embaixador Ali Saghaeyan, como o voto direto para o presidente, membros do parlamento e da assembleia dos notáveis e vereadores. Saghaeyan acrescentou ainda que graças ao apoio popular e dos jovens iranianos, obteve conquistas importantes, como o 2º maior produtor de medicamentos para diabete tipo 2; primeiro país produtor de medicamento homeopático contra a Aids, além de ser um dos países mais avançados na precisão e pontaria dos mísseis, o produtor de torpedos mais velozes do mundo, o produtor do maior destróier da Ásia Ocidental e o oitavo país com a tecnologia nuclear pacífica.
Inclusive, o acordo nuclear do Irã foi citado pelo embaixador em seu discurso. O tema vem gerado uma série de polêmicas e vem sendo cada vez mais recorrente e debatido entre os países. O Irã vem trabalhando com energia nuclear há muitos anos e de acordo com o embaixador iraniano, o programa de mísseis do país tem como objetivo a autodefesa. “O lançamento do satélite ao espaço ou o experimento dos mísseis, pelo Irã, não violam a resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU”, salientou Ali Saghaeyan.
Segundo o embaixador, o acordo nuclear visa o fim da iranofobia e dos atritos internacionais, e ao relembrar a saída dos EUA do pacto formado em 2005, pelo atual presidente americano Donald Trump, Saghaeyan declarou que novamente os EUA foram incompatíveis com os apelos da sociedade internacional. “Este acordo demonstrou a veracidade do programa nuclear iraniano de ter fins pacíficos. Mas os Estados Unidos abandonaram unilateralmente esse acordo internacional, como abandonaram outros. Assim, mais uma vez, demonstraram sua incompatibilidade com a sociedade internacional e suas estratégias de unilateralismo”.
Na área de Relações Exteriores, o diplomata afirmou que o Irã repudia qualquer tipo de expansionismo e unilateralismos e que busca desenvolver suas relações com todos os países amigos. De acordo com o embaixador, a América Latina está sempre inserida dentro da estratégia política externa do país, especialmente as relações com o Brasil são, sempre, uma das prioridades políticas, econômicas, comerciais e culturais do Irã.
O embaixador Ali Saghaeyan ressaltou que em março de 2018, Mohammad Javad Zarif, Ministro das Relações Exteriores do Irã veio ao Brasil acompanhado de uma grande missão econômica, o que segundo o embaixador demonstra a determinação do Irã em manter as relações com o Brasil. “O volume do intercâmbio comercial bilateral no ano de 2018, atingiu mais de dois bilhões e seiscentos milhões de dólares, e esperamos que em 2019, com a colaboração do novo governo brasileiro, o volume do nosso comércio bilateral, aumente ainda mais”.
O senador Fernando Collor, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal, também discursou durante o evento e ressaltou a cooperação existente entre Brasil e Irã que perdura há mais de 100 anos. “É uma honra e satisfação poder participar dessa celebração. Brasil e Irã tem relações diplomáticas desde 1903 e atualmente ambos países experimentam uma fase de intensa cooperação e dialogo parlamentar”.
Collor pontuou a visita feita ao Irã em novembro do ano passado, na qual se reuniu com diversas autoridades do governo e parlamento iranianos, e que segundo ele, fortaleceu o trabalho realizado pelos parlamentos dos dois países. O senador afirmou que encontro na sua visita ao Irã um país com muitas oportunidades e diversidade de recursos naturais.
Ao fim de seu discurso, Collor desejou que as dificuldades atuais que o país vem enfrentando sejam vencidas. “Industria e pesquisa fortes e recursos naturais são elementos que associados à força e capacidade de superação do povo iraniano, possibilitam hoje o enfrentamento de sanções injustamente impostas por potências estrangeiras. Mas o Irã superará as dificuldades atuais e ascenderá fortalecido”.
Após os discursos, os presentes tiveram a oportunidade de aproveitar o som persa da Navaye Mehr Band, criada por Mehdi Ayiughiin em 2004, e que tem como foco principal expandir a música e cultura tradicional iraniana entre os interessados em música persa em outros países.