Em entrevista, o chefe de missão japonês Hayashi Teiji afirmou que, no ano passado, apesar da pandemia, o investimento direto do Japão para o Brasil foi aproximadamente US$ 550 milhões, o que representa cerca de 1,4% do investimento total para o Brasil.
Segundo o embaixador, mais do que somente números comerciais bilaterais, o comércio Japão-Brasil vem se desenvolvendo em múltiplas dimensões à medida que as empresas japonesas instaladas em solo brasileiro se expandem para o exterior e diversificam suas cadeias de abastecimento. De acordo com Hayashi Teiji acredita-se que haja mais progresso na proporção em que o Brasil trabalha para ampliar sua participação em cadeias de abastecimento globais, inclusive através de seus esforços para aderir à OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Além de economia, o Embaixador Hayashi Teiji, em sua entrevista, falou ainda de suas prioridades à frente da missão diplomática, do aniversário do imperador Naruhito, da abertura das fronteiras, do “Programa de Relações de Amizade do Japão”, entre outros temas. Leia a íntegra da entrevista:
- Á frente desta nova missão diplomática, qual será o principal objetivo do senhor?
O Japão e Brasil são parceiros globais estratégicos que compartilham valores fundamentais como liberdade, democracia, respeito aos direitos humanos e ao estado de direito, e há uma estreita amizade entre os dois países. Além disso, há um laço especial de pessoas constituído pela maior comunidade nipo-brasileira do mundo com cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, e da comunidade brasileira com cerca de 210.000 pessoas no Japão que são importantes alicerces das relações amistosas entre o Japão e o Brasil.
A relação entre o Japão e o Brasil é muito boa, contudo, creio que ainda há muito espaço para ampliar essa cooperação. Por exemplo, gostaria de promover ainda mais a cooperação para o uso sustentável da biodiversidade na região amazônica com base no Memorando de Cooperação de Tomé-Açu, assinado durante a visita do então Chanceler Motegi ao Brasil em janeiro de 2021, bem como nas áreas de segurança e defesa conforme o Memorando de Cooperação e Intercâmbio em Defesa assinado em dezembro de 2020.
No campo econômico, gostaria de ouvir atentamente as vozes das empresas japonesas que estão inseridas no mercado, transmiti-las ao governo brasileiro e cooperar para fortalecer ainda mais as relações econômicas.
Nos bastidores da arena internacional, por meio do Diálogo Trilateral Brasil-EUA-Japão cujo primeiro encontro foi realizado em Brasília em novembro de 2020, almejo aprofundar a cooperação entre os três países com base em valores básicos comuns.
Além disso, iniciarão o processo de triagem de adesão à OCDE do Brasil, o qual o Japão tem apoiado e também gostaríamos de cooperar com o Brasil neste processo no que for possível.
Também gostaria de trabalhar junto com o Brasil para a resolução do conflito na Ucrânia.
2.Em se aproximando a data nacional, o que o senhor considera mais importante celebrar? No dia 23 foi o aniversário do imperador Naruhito.
Qual a importância da data para o povo japonês?
Para o povo japonês, Sua Majestade o Imperador é um símbolo do Japão e um símbolo da integração nacional japonesa. Muitos japoneses respeitam Sua Majestade o Imperador, que está sempre próximo ao povo, em seu trabalho público todos os dias, e seu aniversário, 23 de fevereiro, é comemorado como feriado.
Aqui no Brasil, o Aniversário do Imperador também é comemorado como a Data Nacional do Japão. Creio que é importante aproveitar esta oportunidade para reafirmar a estreita amizade entre o Japão e o Brasil, celebrando a Data Nacional com muitos brasileiros, por isso, este ano, produzimos um vídeo para comemorar o Aniversário do Imperador e lançamos no dia (https://www.youtube.com/watch?v=CVZk7fv1qsQ). Além de minhas saudações, há mensagens de brasileiros que estão profundamente envolvidos nas relações Japão-Brasil, e também apresentamos vários aspectos do Japão atual, como a cultura japonesa, a ciência e a tecnologia.
Para nós é um prazer poder comemorar este Dia Nacional com muitos brasileiros através deste vídeo. Desse modo, espero que aqueles que ainda não assistiram possam assistir a partir agora.
3.O Japão está reabrindo parcialmente suas fronteiras. É realmente seguro visitar o país?
Comparado a outros países, até o momento, o Japão tem conseguido manter um baixo nível de infecção. Já se passaram cerca de três meses desde que a cepa Ômicron foi classificada como uma variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e as propriedades científicas ficaram amplamente claras, bem como o acúmulo de conhecimento em outros países, e no Japão, o ritmo de disseminação começou a cair em todo o país.
Diante dessas circunstâncias, a partir de 1º de março, as medidas de fronteira do Japão serão flexibilizadas gradualmente. Especificamente, no que se refere ao tempo de isolamento exigido após entrada no Japão, de 7 dias passará a ser 3 dias, mediante a resultado negativo de RT-PCR feito antes de embarcar, no momento da entrada e após 3 dias da entrada no país.Além disso, o período de isolamento será zero para aqueles que já tomaram a terceira dose (dose de reforço) da vacina e que são de países/regiões onde o nível de infecção é baixo. A entrada de estrangeiros será permitida sob a responsabilidade do órgão receptor, exceto turistas. Desse modo, aumentaremos o número de pessoas que entrarão no Japão por dia, de 3.500 para 5.000, e o número de tráfego internacional aumentará gradualmente no futuro.
4.A Economia do Japão, a terceira maior do mundo, também sofreu com a pandemia. O que o senhor pretende fazer para dinamizar o comércio entre Brasil e Japão nos próximos dois ou três anos?
Atualmente, nas relações comerciais Japão-Brasil, os principais produtos de exportação do Brasil são recursos minerais como o minério de ferro e recursos alimentares como frango, soja e café, e os principais produtos de exportação do Japão são máquinas, autopeças, entre outros. Existem cerca de 650 empresas japonesas operando no Brasil, muitas delas no setor de manufatura, contribuindo para a criação de empregos e para a promoção da inovação no Brasil.
Mais do que apenas números comerciais bilaterais, o comércio Japão-Brasil está se desenvolvendo em múltiplas dimensões à medida que as empresas japonesas se expandem para o exterior e diversificam suas cadeias de abastecimento. Espera-se que haja mais progresso na proporção em que o Brasil trabalha para ampliar sua participação em cadeias de abastecimento globais, inclusive através de seus esforços para ingressar na OCDE.
O Japão e o Brasil têm uma variedade de estruturas de diálogo bilateral nos setores privado e público, tais como o Comitê Econômico Conjunto, a Reunião para Cooperação em Infraestrutura e o Comitê Conjunto para Cooperação Científica e Tecnológica. Esperamos aproveitar essas oportunidades para fortalecer o relacionamento econômico entre nossos dois países.
5.O Ministério das Relações Exteriores do Japão lançou o “Programa de Relações de Amizade do Japão” que envolve vários países. Qual a expectativa da participação brasileira?
O Ministério das Relações Exteriores do Japão está implementando o “Programa de Intercâmbio de Promoção do Entendimento Latino-Americano, Juntos!!” convidando pessoas de países da América Latina que devem contribuir para fortalecer as relações com o Japão em vários campos. Sob este programa, pessoas de diversas áreas, como legisladores federais, parlamentares estaduais, empresários, especialistas, jornalistas e líderes da comunidade japonesa no Brasil, terão a oportunidade de ir ao Japão para aprofundar seu conhecimento sobre o país e contribuir para a promoção das relações Japão-Brasil.
Atualmente, o programa de convite ao Japão foi adiado devido à pandemia de covid-19, mas creio que é de extrema importância que as pessoas realmente venham ao Japão dessa maneira e tenham trocas diretas cara a cara com seus colegas japoneses, a fim de promover o intercâmbio humano e o entendimento mútuo entre os dois países, por isso pretendemos retomar o programa presencial o mais rápido possível, assim que superarmos as restrições impostas pela pandemia.