Um comunicado do banco acrescentou que a demissão indica que não há mais um “pilar robusto de governança” na empresa. Em nota, a vice-presidente da Moody’s, Nymia Almeida, também criticou a troca de comando, dizendo que isso compromete as melhoras financeiras recentes da estatal
FolhaPress
O pedido de demissão do presidente da Petrobras devolveu a estatal à estaca zero em sua relação com investidores no pós-Lava Jato. Visto pelo mercado como um executivo habilidoso, que conduziu a petroleira para fora do buraco nos últimos anos, Pedro Parente deixa um vácuo no comando e a certeza para os acionistas de que a ingerência do Planalto na estatal não deve terminar tão cedo.
Desde o início da paralisação dos caminhoneiros e do anúncio do corte no preço do diesel, o valor das ações da Petrobras despencou cerca de 35%. O JP Morgan, seguindo o exemplo do Credit Suisse e do Merril Lynch na semana passada, também rebaixou a nota da empresa depois da saída de Parente.
Um comunicado do banco acrescentou que a demissão indica que não há mais um “pilar robusto de governança” na empresa. Em nota, a vice-presidente da Moody’s, Nymia Almeida, também criticou a troca de comando, dizendo que isso compromete as melhoras financeiras recentes da estatal.
“O valor da ação vinha melhorando e de repente jogaram tudo pela janela. Eles voltaram à estaca zero de novo”, disse John Herrlin, analista do banco Société Générale, que também rebaixou a nota da petroleira. “Acabamos de ver apunhalado alguém que consertava as coisas, e a reação do mercado é desconfiar de quem for entrar no seu lugar”, afirmou Herrlin.
Ele acrescentou que a saída de Parente é um alerta a investidores, dizendo que os interesses do governo prevalecem sobre os dos acionistas. “É ruim para a empresa e ruim para o país”, disse. “Pensei que Parente tivesse autonomia e sobreviveria, mas isso mostra que o comando da Petrobras sempre vai estar a serviço do governo, quando deveria haver uma separação entre Estado e Igreja”, afirmou o analista.
Mas dúvidas sobre a separação de fato entre os rumos da empresa das decisões políticas no país acabam levando a outra separação, afastando investidores de ações da estatal.
Paul Cheng, analista do banco Barclays, disse que a interferência do Palácio do Planalto na política de preços da Petrobras decretou o “fim da lua de mel” com o governo e põe em risco os rendimentos dos acionistas.
“Os recentes eventos que afligem as ações provam que há um alto risco político de investimentos na Petrobras, e seus papéis devem ficar sob pressão até as eleições”, afirmou Cheng, em um comunicado aos investidores.