Instituição vem, há quase duas décadas, trazendo educação por meio da música corporal. Na Embaixada do Quênia, 11 crianças e os adolescentes integrantes do instituto se apresentaram e foram presenteados com material escolar
São milhares de línguas faladas em todo o planeta, mas há uma que qualquer um consegue entender: a música. E foi por meio da música que o Instituto Batucar promoveu, junto à Embaixada do Quênia, um intercâmbio cultural, em evento também marcado pela entrega de material escolar para as crianças e os adolescentes integrantes do instituto.
Os kits, que continham caderno, lancheira, caneta, lápis e outros materiais usados em sala de aula, foram arrecadados em campanha promovida pela marca brasiliense Zinc, de roupas e acessórios. “Todos os anos, a gente envolve nossos clientes na campanha de arrecadação. Isso não beneficia apenas as crianças, mas toda a comunidade. E acho o trabalho do instituto incrível, com uma base de pessoas que realmente entendem de trabalho social, que buscam a transformação, não apenas o assistencialismo”, avalia Flávia Oliveira, proprietária da marca.
O Instituto Batucar surgiu após Ricardo Amorim, que à época era estudante de música da Universidade de Brasília (UnB), foi convidado, em 2001, a ensinar instrumentos musicais para 12 jovens de uma igreja do Recanto das Emas. O grupo dispunha apenas de uma bateria quebrada e um violão sem cordas. Perante a escassez de recursos e a vontade genuína dos jovens de aprender música, Ricardo decidiu improvisar com sons corporais. O batuque vem das palmas, das pernas, da barriga e da boca.
“Começou como experimentação e foi um sucesso. O projeto cresceu, extrapolou os limites da igreja e abraçou a comunidade do Recanto, até que nasceu o instituto, em 2006”, conta o fundador e presidente do instituto. Ao longo dos 18 anos de existência, mais de 10 mil passaram pelo instituto, aprendendo algum instrumento ou fazendo som com a percussão corporal. Atualmente, 50 crianças e adolescentes são atendidos pelo Batucar.
Nesta quarta-feira (28/2), 11 delas foram à Embaixada do país africano para fazer uma apresentação do que aprendem no instituto. “A música corporal, que antes era um improviso, virou carro-chefe do trabalho da organização. Além de oferecer arte e cultura, também damos suporte na educação dessas crianças”, explica Ricardo Amorim.
Mais de 2 mil professores do Brasil e de outros países passaram pelas oficinas do Batucar. O instituto também é objeto de estudo de diversos pesquisadores da UnB. “O que confirma nossa atuação na frente acadêmica também”, destaca Ricardo.
Samara de Assis da Silva, 21 anos, frequenta o instituto desde os 12 anos de idade. “O projeto abriu muitas portas para mim, porque sempre tive vontade de tocar instrumentos e hoje já toco em eventos”, relata. Ela conta que a transformação foi para além do aprendizado musical. “O aspecto agregador do Instituto Batucar também transformou a vivência da minha família”, ressalta Samara, que tem como plano ser educadora física, mas garante que nunca vai largar a música.
Embaixador
Antes de os meninos e meninas encantarem a todos com a apresentação, o embaixador do Quênia, Lemarron Kaanto, deu as boas-vindas aos integrantes do instituto. Na ocasião, ele aproveitou para mostrar aos jovens elementos da cultura do seu país natal, como a língua swahili, a comida e as atrações turísticas do Quênia. Termos como “hakuna matata” e “simba”, do filme O rei leão, são da língua originária do país africano, e significam “sem problemas” e “leão”, respectivamente. A criançada se empolgou com a miniaula de swahili ministrada pelo embaixador. “Vocês estão em território queniano. Sejam bem-vindos”, avisou Lemarron.
A embaixada deu suporte à ação de arrecadação de material escolar divulgando a campanha da Zinc e cedendo o espaço para o evento, que contou com comidas e bebidas típicas do Quênia. Lemarron falou ao Correio que o apoio ao projeto faz parte da cultura diplomática da embaixada. “Nós queremos usar o projeto para que os estudantes e a comunidade saibam mais sobre o meu país, porque há muitas semelhanças entre o Quênia e o Brasil” observa Kaanto.
“Queremos os brasileiros por meio dos estudantes, juntar os dois países. Mas o mais importante de tudo é a linguagem da música, que não tem barreiras. Ela junta as pessoas. Queremos usar a embaixada para o projeto apresentar o povo queniano, além do turismo, da comida e da cultura”, completa o embaixador.
Instrumentos
O instituto, localizado no Recanto das Emas, é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), cujo objetivo é promover aulas de musicalização com violão, teclado, bateria e outros instrumentos, como o corpo. O lugar atende a jovens de 5 a 17 anos, no contraturno escolar, com atividades de arte, cultura e educação. Sobretudo a música corporal, especialidade do Batucadeiros. Todas as atividades são de graça e qualquer criança e adolescente pode se inscrever, basta estar matriculado em alguma rede de ensino.
Fonte: Correio Braziliense