O Reino Unido ativou no último dia 29 o Artigo 50 do Tratado Europeu de Lisboa, dando início formalmente a sua saída da União Europeia, o famoso Brexit. O anúncio suscitou novamente preocupação em diversos setores da indústria e da economia britânicas sobre o futuro das relações comerciais com a União Europeia.
“Depois de dois anos, se não houver acordo, o Reino Unido estará fora da União Europeia de qualquer maneira. E a EU deve fazer um acordo que seja desfavorável ao Reino Unido, para que fique claro que há um custo envolvido em sair da EU. É muito provável que ele vá dar menos acesso aos mercados europeus para o Reino Unido”, analisa a economista Cristina Terra, professora da Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais de Paris.
A situação cria dois problemas, segundo a economista. “O primeiro é o direto, que resulta em menos exportação. O segundo é que as empresas funcionam e produzem dentro de uma cadeia global de produção, ou seja, elas não só exportam para outros mercados, mas importam produtos e insumos intermediários. Então isso aumenta o custo das empresas inglesas.”O setor da aviação está entre aqueles afetados negativamente pelo Brexit. A companhia aérea britânica EasyJet já anunciou que pretende abrir uma base europeia.
“Dentro da UE, as companhias inglesas podem ter voos, por exemplo, entre França e Alemanha, ou seja, os voos não precisam passar pelo Reino Unido. E isso significa um mercado enorme. Porém, com o Brexit, caso o acordo não seja mantido, a companhia inglesa não poderá voar entre países europeus, apenas partindo ou chegando ao Reino Unido. Uma solução é que a empresa se instale na Europa”, diz Cristina.
Setor automobilístico – Outro setor importante da economia britânica que poderia ser afetado é o automobilístico, que atualmente vende mais da metade da sua produção aos países-membros da União Europeia. “Ele entra ainda mais na situação de que a indústria não apenas vende para outros países, mas utiliza muitos insumos de outros países. O Brexit, com o qual o Reino Unido vai ter mais custos para comercializar com a Europa, vai fazer com que o lucro com a exportação diminua e os custos de produção aumentem, devido às novas barreiras de importação.”
O setor financeiro já se movimenta para evitar os obstáculos pós-Brexit. O banco inglês HSBC anunciou a transferência de cerca de mil empregados para Paris. USB, JPMorgan e Goldman Sachs farão o mesmo, segundo o jornal francês Le Monde. Porém os custos do Brexit não recaem apenas sobre o Reino Unido.
“Quando a EU impõe custos à saída do Reino Unido, ela também dá um tiro no próprio pé. Isso implica em custos para ela mesma. Assim como as empresas inglesas precisam exportar para a Europa e comprar insumos, as firmas europeias também tem essas conexões com a economia do Reino Unido. Então os dois perdem, mas, por ser menor, o Reino Unido perde mais”, diz a professora da Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais de Paris. No ano passado, apesar das previsões sombrias, a economia britânica cresceu 1,8%.