Informações publicadas pela Reuters nesta terça-feira confirmam informes da imprensa indiana nos últimos dias, indicando que o abastecimento de imunizantes começaria com países asiáticos.
A vacina da Oxford/AstraZeneca está sendo, em parte, produzida na Índia. Portanto, um acordo do Brasil com essa aliança depende da exportação do país asiático. De acordo com a agência de notícias, o primeiro lote de exportações será enviado para o Butão, ainda que nenhum anúncio oficial tenha sido feito. A exportação ocorreria já nesta quarta-feira.
Um dia depois, dois milhões de doses da vacina também serão enviadas para Bangladesh. O Ministério das Relações Exteriores de Dhaka confirmou o plano e indicou que o envio seria uma doação.
Além dessas exportações, dezenas de países fizeram pedidos similares para a Índia, maior produtora de vacinas do mundo. Sri Lanka, Nepal, Mianmar e as Maldivas estão na fila.
O Itamaraty chegou a anunciar na semana passada que um avião iria até a Índia buscar o material, depois que o presidente Bolsonaro enviou uma carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi (foto), solicitando a cooperação.
Mas o governo indiano enterrou o projeto, alertando que seria “cedo demais” para enviar as vacinas. No instituto Serum, que produz a vacina, uma das previsões é de que o abastecimento ao Brasil poderia ocorrer apenas no início de fevereiro.
De forte cunho nacionalista, Modi vem sendo pressionado a garantir uma vacinação nacional em seu país e a ideia de distribuir as doses para outros países poderia afetar sua principal bandeira política. No sábado, a Índia iniciou o que está sendo chamado como a maior campanha de vacinação do mundo.
Bolsonaro minimizou o atraso e indicou que o voo partiria ainda nesta semana. Mas a versão dentro do Itamaraty é diferente. Diplomatas admitiram que não existe ainda um plano claro de quando os insumos poderiam ser enviados e nem de quando o avião seguiria para a Índia.
A coluna apurou que existiriam dois motivos para a preferência pelos vizinhos. O primeiro é sanitário, já que o temor dos indianos é de que terão de ajudar os sistemas de saúde dos vizinhos se quiserem proteger sua própria população.
Mas há também um aspecto geopolítico. Uma concessão das vacinas a preços simbólicos para esses vizinhos reforçaria a influência indiana na região. Índia e China disputam o papel de hegemonias regionais. Na semana passada, o Itamaraty já declarava que o fornecimento estava garantido. “O sucesso da aquisição das doses junto à matriz britânica e à produtora indiana da vacina demonstra o excelente momento das relações Brasil-Reino Unido e Brasil-Índia e a solidez dos relacionamentos estratégicos que mantemos com esses dois países”, afirmou.
Sem as doses indianas, o governo federal teve de assistir no domingo o início da vacinação em São Paulo, a partir de produtos desenvolvidos em parceria com a China. Na OMS, o Itamaraty omitiu o fato de que a vacinação tinha sido iniciada no fim de semana no estado paulista.