Redação, O Estado de S.Paulo
Localizada a apenas dois quilômetros da costa turca, a ilha grega de Kastelórizo, com suas águas turquesa e casas em tons pastéis, é o epicentro das tensões entre a Turquia e a Grécia em torno da exploração dos recursos de gás. Apesar da escalada das manobras militares greco-turcas no Mediterrâneo oriental e da ameaça de sanções contra Ancara por parte da União Europeia, os habitantes desta pequena ilha vivem essas turbulências com calma, acostumados a disputas por suas fronteiras marítimas entre a Grécia e Turquia.
No pequeno porto de Kastelórizo os militares convivem com os banhistas, algo normal em uma ilha de 9 km² onde a metade dos 500 habitantes é militar. O desembarque de um grupo de soldados não altera a calma do lugar e o mar tranquilo contrasta com as tensões entre os dois países vizinhos, ambos integrantes da Otan.Duas bandeiras gregas ondulam no penhasco em cima da única cidade da ilha, enquanto a poucos quilômetros dali se vê o horizonte da cidade turca de Kas.
“Não temos medo nenhum”, afirma Giorgos Karagiannis, de 45 anos, assegurando “estar acostumado com os jogos que servem aos políticos, mas não desestabilizam os habitantes da ilha”. O capitão Karagiannis, que nasceu na ilha, percorre todo dia com seu barco a distância que separa os dois países para transportar turistas ou moradores da ilha que vão fazer compras do lado turco.
Se atualmente as conexões marítimas entre a ilha e a Turquia estão interrompidas, não foi em razão das tenões entre os dois países, mas em razão do coronavírus, que para os habitantes da ilha parece uma ameaça mais séria do que um hipotético conflito militar.
“Com nossos vizinhos temos muito boas relações. Organizamos um festival cultural juntos, nossos vínculos econômicos são importantes”, diz Stavros Amygdalos, vice-prefeito de Kastelórizo.
Disputas – Apesar disso, no sul da ilha o Exército turco deslocou no dia 10 dois barcos militares que escoltaram o navio de “Oruç Reis’, operações que ocorrem longe das vistas dos moradores da ilha. Quatro dias antes, Grécia e Egito haviam assinado um acordo de desmilitarização marítima, o que chocou Ancara.
A descoberta de importantes campos de gás nos últimos anos agravou as antigas disputas entre Grécia e Turquia sobre as fronteiras marítimas. A Grécia defende que as águas que rodeiam Kastelórizo pertencem aos gregos, posição rechaçada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que considera que isso “prenderia a Turquia dentro de suas costas”. / AFP