Estudioso de videiras, descobriu mais de 100 variedades de uvas
Por Rachel A M Nariyoshi
Quem foi Pierre Galet? O pai da ampelografia
Ampelografia é o estudo da botânica que identifica as diferentes variedades de vinhas através das suas folhas e de outros descritores como por exemplo, formato dos cachos das uvas, bem como a cor, tamanho, conteúdo de sementes e outras características particulares de cada variedade, registrado por Pierre Galet.
Pierre Galet nasceu em Mônaco em 1921. Durante a segunda grande guerra, escondido das autoridades na Universidade de Montpellier, passou a se dedicar ao estudo das videiras. Dizem até que ele não se alistou nas forças armadas porque estudava dia e noite, sem interrupção.
Folclore ou não, Pierre Galet deixou quase cinquenta livros que os viticultores seguem hoje em dia. Destacamos algumas como: em 1964 “Cépages et vignoble de France”, um catálogo de variedades de uvas francesas; em 1982 “Maladies et parasitas de la vigne”, manual dedicado a tratar das várias doenças das uvas; em 1982 “Précis de viticulture”, manual dos cuidados com a videira; em 2000 “Dictionnaire encyclopédique des cépages”, um catálogo abrangente de variedades de uvas de todo o mundo, incluindo seus sinônimos internacionais.
Assim agia Pierre Galet: pacientemente orientando todos os envolvidos com o cultivo das videiras, registrando e publicando tudo!
Segundo a International Organisation of Vine and Wine (OIV), a sua espantosa memória e conhecimento científico suscitaram admiração de muitos que puderam aceder ao extraordinário conhecimento através dos seus livros. Foi premiado em Paris nos anos de 1963, 2006 e 2016, em Istanbul 1947, em Roma 1953, em Stuttgart 1979, em Joanesburgo 1983 e em Adelaide no ano de 2001. Destacamos aqui o último em 2016, Prêmio OIV Grand Prix em reconhecimento ao seu trabalho excepcional, simbolizando o reconhecimento da OIV pela difusão do conhecimento do setor vitivinícola e o papel da ampelografia no desenvolvimento das ciências vitícolas.
Pierre Galet identificou mais de 100 variedades de uvas distintas pertencentes à família da Pinot, especialmente aquelas que eram, erroneamente, consideradas Pinot Noir. Antes que a tecnologia da tipagem de DNA fosse amplamente empregada os agrônomos, estudiosos e viticultores usavam, tão somente, as obras de ampelografia de Pierre Galet para identificar as variedades.
Tal fato foi marcado no dia 24 de novembro de 1994, no Chile, quando o ampelógrafo Jean Michel Boursiquot (então aluno do Professor Pierre Galet), estava participando de congresso sobre Viticultura naquele país, quando fora convidado a visitar os vinhedos da Viña Carmen para conhecer uma parreira que seria uma mutação da Merlot, conhecida por Chilean Merlot ou Merlot Noir. Ao observar suas folhas, Boursiquot identificou que não se tratava daquelas variedades, mas sim da Carménère, uva extinta que foi repatriada no Chile.
Contei essa história apenas para enfatizar a importância do estudo do ampelógrafo que identifica as variedades principalmente com base na forma, contornos e características das folhas das videiras.
Segundo Jean-Michel Brouard, “Pierre Galet, foi um grande cientista, que muito contribuiu para o conhecimento moderno das castas em todo o mundo que é finalmente homenageado num documentário de Clotilde Verriès.”
A cineasta Clotilde Verriès dirigiu o documentário intitulado “Da vinha brava à videira do futuro”, eternizando a vida e o trabalho de Pierre Galet. Suas entrevistas e documentos de arquivos ilustram o filme, além dos testemunhos de ex-alunos que continuam o seu legado, como os professores Jean-Michel Boursiquot e Jean-Claude Davidian em Montpellier. “Esses professores me ajudaram a compreender a rica vivência de Pierre Galet que aliou a sua vida à vinha”, diz Clotilde.
O documentário mostra que Pierre Galet dedicou sua vida à pesquisa e ao aperfeiçoamento e popularizou o conhecimento sobre as castas. Seus ensinamentos se espalharam pelo mundo através dos cursos e das suas publicações traduzidos, por ele mesmo, em inglês, espanhol e latim (língua que ele adorava ler e escrever).
Falecido em dezembro de 2019 com 98 anos, Pierre Galet sempre será lembrado como o maior ampelógrafo.
Um brinde a Pierre Galet!
@rachelalves.professoravinhos