“O embaixador foi convocado pelo governo holandês”, disse um porta-voz do ministério, em declarações à agência France-Presse (AFP), após o deputado Sjoerd Sjoerdsma ter sido um dos visados das sanções anunciadas por Pequim em retaliação às medidas sancionatórias aplicadas pela União Europeia (UE) no âmbito da repressão imposta pela China contra a minoria muçulmana uigur.
Sjoerd Sjoerdsma é deputado no parlamento dos Países Baixos pelo partido liberal-social Democratas 66 (D66). “Enquanto a China cometer genocídio contra os uigures, não vou ficar em silêncio”, afirmou o deputado na rede social Twitter. E acrescentou: “Estas sanções são a prova de que a China é suscetível a pressões externas. Espero que os meus colegas europeus aproveitem este momento para se expressarem também”.
Em fevereiro passado, Sjoerd Sjoerdsma foi o promotor de uma moção no parlamento holandês para reconhecer a repressão e as violações dos direitos humanos cometidas contra os uigures como “genocídio”. A moção foi aprovada e o parlamento holandês foi o primeiro na Europa a assumir tal posição sobre esta minoria étnica.
“São abusos terríveis, cometidos contra a minoria uigur muçulmana, não devemos poupar nas palavras, devemos designá-los como genocídio”, afirmou na altura Sjoerd Sjoerdsma. O porta-voz do ministério avançou ainda à AFP que o chefe da diplomacia holandesa, Stef Blok, deverá falar publicamente ainda hoje sobre este assunto após uma reunião com os seus homólogos em Bruxelas.
A China anunciou hoje medidas sancionatórias contra dez cidadãos europeus, incluindo parlamentares e académicos, e contra quatro organizações, em retaliação a sanções deliberadas pelo bloco comunitário. A comunidade uigur é etnicamente distinta do grupo étnico maioritário na China, os chineses han, e constitui uma grande parte da população em Xinjiang, uma vasta região chinesa que faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão.
A China tem sido acusada de ter lançado uma política de vigilância máxima e de concentrar minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de doutrinação e reeducação no extremo noroeste do território chinês. Segundo peritos estrangeiros, pelo menos um milhão de pessoas, em particular uigures, estarão nestes “campos”.
Pequim tem sempre rejeitado este alegado plano de “genocídio cultural” de minorias muçulmanas na China, alegando que estas instalações são “centros de formação profissional”, destinadas a ajudar a população a encontrar trabalho e a mantê-la afastada do extremismo e do terrorismo.
A UE aprovou hoje sanções contra quatro dirigentes da região de Xinjiang por violações dos direitos humanos desta minoria. Denúncias internacionais também apontaram para os uigures estarem a ser alegadamente submetidos a esterilizações forçadas, no sentido de reduzir e controlar a natalidade desta população.