Primeiro-ministro de Israel determina ao Exército que remova moradores e refugiados na cidade no sul da Faixa de Gaza e destrua quatro batalhões do Hamas sediados na região. Para presidente palestino, plano visa expulsar o povo de sua terra. Para embaixador da Palestina “não há nada de novo”
Rodrigo Craveiro
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou às Forças de Defesa de Israel (IDF) que retirem mais de 1,9 milhão de pessoas da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, e “destruam” os batalhões do movimento extremista islâmico Hamas. ‘É impossível alcançarmos a meta de eliminar o Hamas, deixando quatro batalhões (do grupo) em Rafah. Pelo contrário, está claro que a intensa atividade em Rafah exige que os civis evacuem as áreas de combate”, afirmou um comunicado do gabinete do premiê. “Portanto, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou às IDF e ao sistema de segurança que apresentem ao gabinete um plano combinado para retirar a população e destruir os batalhões.”
Por meio de um comunicado, o gabinete do presidente palestino, Mahmud Abbas, denunciou que a intenção de Israel é “expulsar os palestinos de sua terra”. “Ao tomar esse passo, Israel ameaça a segurança e a paz na região e no mundo, e cruza todas as linhas vermelha”, alertou. “É hora de todos tomarem a responsabilidade de confrontar a criação de outra ‘Nakba’ (catástrofe), que empurrará todo o Oriente Médio para uma guerra sem fim.”
Em uma das mais contundentes críticas a Israel — aliado histórico de Washington —, o presidente dos EUA, Joe Biden, atacou a excessiva resposta militar ao massacre de 7 de outubro passado. “Minha opinião é que a resposta em Gaza, na Faixa de Gaza, tem sido excessiva. Há muitas pessoas inocentes passando fome, muitas pessoas inocentes que estão em dificuldades e morrendo, e isto tem que parar”, avisou o democrata.
Ao ser questionado pelo Correio sobre o suposto plano de “empurrar” os palestinos para a Península do Sinai, no Egito, o embaixador da Palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, respondeu: “De Netanyahu e de seu gabinete atual podemos esperar tudo, na ausência de medidas internacionais efetivas e urgentes para impedi-lo”. De acordo com o diplomata, a Nakba — termo citado por Abbas — “nunca parou desde a fundação de Israel”. “Apenas mudou o estilo, conforme o momento. A existência de 8.590 presos é um dos formatos nefastos da Nakba. O assassinato premeditado de civis e a destruição da Faixa de Gaza, também. O mundo está chamado a pôr fim à continuada nakba dos palestinos”, acrescentou Alzeben.
“Efeito catastrófico”
A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) advertiu que o plano de Netanyahu para Rafah é “ilegal”. Em entrevista ao Correio, Nadia Hardman, pesquisadora da HRW sobre direitos de refugiados e migrantes, afirmou que as consequências seriam “catastróficas” para os palestinos, “que seriam deslocados mais uma vez dentro de Gaza”. “Estamos apelando aos governos que convençam Israel a reverter esse curso planejado, porque isso derramará desastre e sangue em uma escala massiva”, explicou, de Veneza. “Não existe lugar seguro para onde ir, e a implacável campanha de bombardeios de Israel não pode ser desencadeada em um único lugar, onde pessoas tentam sobreviver.” Rafah, que contava com uma população de 280 mil habitantes antes da guerra, abriga 1,7 milhão de refugiados de várias regiões do centro e do norte da Faixa de Gaza.