Em Brasília, o embaixador da Guatemala, Julio Armando Martini Herrera, em entrevista exclusiva à Revista Embassy Brasília falou também sobre a Venezuela, onde foi embaixador, e a respeito do seu país – a história, o turismo e as guerrilha, dentre outros temas daquela nação, considerada o coração do mundo Maia. Veja a entrevista:
Revista Embassy Brasília – Quais são as novidades entre Brasil e Guatemala?
Embaixador Julio Armando Martini Herrera – Está prevista a visita do nosso presidente da República a Brasília, ainda esse semestre. Será uma visita de cortesia e também para conversar sobre as relações – política, economia, cultural – dos dois países. O presidente virá acompanhado de alguns ministros, dentre eles o da Economia e o do Comércio.
Como está o turismo em seu país?
Para nós o turismo é muito importante, é a terceira fonte de recursos. A primeira são as remessas que recebem as famílias, que vivem na Guatemala, enviadas por aqueles que trabalham nos Estados Unidos. São muitos trabalhando lá. Bem, nós falamos que a Guatemala é a eterna primavera, estamos a 1.500 metros de altura e com temperatura em média de 24 graus centígrados. Se eu quero mais calor, vamos ao Sul, a 100 km da capital, e chegamos ao litoral do Oceano Pacífico, com 30 a 40 graus centígrados. Se quero mais frio, vou para as montanhas ou perto dos vulcões, muito altos, com 3 mil metros de altura. A Guatemala é o lugar mais importante da cultura Maia. Temos o sítio arqueológico El mirador, com pirâmides maiores do que as do Egito. A rota para chegar a Guatemala é pelo Panamá, pela empresa Copa. O Quetsal é a moeda. Um dólar vale 7,5 a 8 Quetsal.
Então, o turista brasileiro pode aproveitar bem, não é?
Sim, pode fazer compras e comer muito bem. Temos muitos pratos típicos, um deles é a Fiambre, uma salada grande que se come no Dia dos Mortos. Gosto do Tamal (feito de massa de milho cozido ou a vapor, com carne, queijo, frutas, legumes, pimentas, ou outro preparo, doce ou salgado).
A Guatemala tem disputas históricas com Belize, país vizinho. Como isso se resolveu?
Nós vamos resolver esse problema na Corte Internacional de Justiça de Haia, Holanda. Nós entramos em acordo com os belizenhos para entrar com a demanda nessa Corte. O território da Guatemala – quando pertencia à Espanha – tinha muito pau-brasil e parte dessa terra foi ocupada por africanos, trazidos pelos ingleses. Depois, esses ingleses foram tomando mais regiões. O país nosso é pequeno, isso faz 200 anos, não tínhamos exército para nos proteger. Éramos todos nós um só país: a Guatemala, que incluía Honduras, El Salvador e Nicarágua. Quando esses países ficaram independentes, os ingleses não liberaram Belize. Isso foi uma das medidas ruins que a Inglaterra fez conosco, com a Venezuela e Argentina, como na questão das Malvinas.
A Guatemala produz petróleo?
Não. É pouco e não processamos. Não somos autossuficientes. Compramos gasolina da Venezuela, como toda a América Central faz. Eles nos dão algumas facilidades com a contrapartida de investirmos em meio-ambiente. Fui embaixador da Guatemala na Venezuela, nos anos 80. Eles eram muito ricos.
Como o governo da Guatemala tem se posicionado com relação à Venezuela?
Nosso governo está reconhecendo Juan Guaidó como presidente daquele país. Está trabalhando com o Grupo de Lima*, liderado pelo Brasil.
Houve uma guerra civil no seu país. O que o senhor tem a dizer sobre essa fase? Como o país foi reconstruído?
Foi pelos anos 60. Nós fomos campo de batalha de uma guerra que não era nossa: o enfrentamento da guerra fria. Estamos perto dos Estados Unidos, tivemos presidentes que gostavam daquele país. E existiam dissidentes que gostavam de Cuba, da Rússia. Então, acho que toda a América Central foi campo para colocar mortos e os outros fazerem negócios. Ficamos no meio. Foram 36 anos de guerra, até que assinamos a paz em 1986, nas Nações Unidas. Esse conflito prejudicou muito o desenvolvimento da Guatemala. Era guerrilha, os rebeldes estavam nas montanhas e recebiam ajuda de Cuba, Rússia, Nicarágua… e de outro lado os que apoiavam os Estados Unidos.
O escritor Miguel Ángel Asturias, que expressa em todas as suas obras o interesse pelas raízes do povo, recebeu em 1967 o Nobel de Literatura. Qual dos livros de Asturias o senhor destacaria? Quais outros escritores da Guatemala o senhor destacaria?
Li obras de Miguel Asturias. Fizemos há dois anos uma exposição dos grandes da literatura. Cultivamos muito a literatura e achamos que – junto com a Colômbia – falamos o espanhol mais claro em todo o mundo.
Como o senhor vê Brasília?
É maravilhoso aqui. Se observamos outros países – ou moramos lá – constatamos vários problemas, como no trânsito. Somos apaixonados por Brasília, pelas pessoas, pelo trabalho. Acho que esta cidade, junto com Washington, é a que possui mais embaixadas, consulados, representações de todo o mundo. Quando os diplomatas chegam a Brasília não querem ir embora, ficam apaixonados. Vamos fazer um festival de cinema, junho ou julho, no Cine Brasília. Queremos trazer para esse festival o filme “O abraço”, de Luis Sargeta. Pretendemos também realizar exposições nas estações do metrô.
Quais outros planos?
Temos o propósito de estreitar mais as relações com o Brasil. Possuímos oito consulados aqui. Queremos abrir em um escritório comercial em São Paulo para também impulsionar o turismo e o comércio. Estamos muito perto de Goiânia e queremos trabalhar com o Estado de Goiás.
Biografia – O embaixador Julio Armando Martini Herrera nasceu na capital, Cidade da Guatemala, é advogado, profissão que exerceu durante oito anos. Formou-se em Relações Internacionais e fez doutorado em Direito Internacional. Entrou no serviço diplomático em 1982. Foi embaixador do seu país na Venezuela, Canadá, Estados Unidos e Brasil. Veio de Washington para Brasília em 2012. Foi vice-ministro de Relações Exteriores da Guatemala. Também abriu as embaixadas da Holanda e de Trinidad e Tobago, onde exerceu a função de embaixador. Durante oito anos foi embaixador das Nações Unidas, ocasião em que ajudou a assinar a paz da Guatemala em 1986.
*Grupo de Lima – formado em 8 de agosto de 2017, em Lima, Peru, é um agrupamento de chanceleres de países das Américas, com o objetivo declarado de “abordar a crítica situação da Venezuela e explorar formas de contribuir para a restauração da democracia naquele país através de uma saída pacífica e negociada”.
Naquela oportunidade, representantes de 12 países americanos (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru) assinaram o documento conhecido como Declaração de Lima, em que o grupo define sua posição acerca da “situação crítica na Venezuela”, condenando a existência de “presos políticos”, a “falta de eleições livres” e a “ruptura da ordem democrática na Venezuela”. O Grupo também manifesta sua “preocupação com a crise humanitária” venezuelana. Mais tarde, a Guiana e Santa Lúcia se juntaram ao grupo, que apoia Juan Guiadó, autodeclarado presidente da Venezuela. Os Estados Unidos, embora não integrem oficialmente o grupo, participam das reuniões.
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