A PF estima que nos últimos anos apenas um grupo brasileiro investigado tenha movimentado cerca de US$ 25 milhões em contas nos EUA
Folhapress
A Polícia Federal desarticulou um grupo que conseguiu enviar ilegalmente para os EUA cerca de 180 brasileiros, dos quais 30 eram crianças, entre 2016 e 2017. “Diversos brasileiros transportados pelo grupo acabaram morrendo” na travessia, inclusive com suspeita de homicídios, informou a PF.
A ação deflagrada pela PF de Rondônia nesta quarta-feira (18) é a terceira etapa da Operação Piratas do Caribe, de janeiro de 2017, que começou investigando o desaparecimento de 12 brasileiros que tentavam chegar aos EUA pelo mar das Bahamas -o destino do grupo é incerto.
Um homem, considerado o principal “coiote” na rota investigada, foi preso em Ji-Paraná (RO) e outro é procurado. A investigação teve apoio do Itamaraty, da Interpol de órgãos diversos dos EUA, Bahamas e República Dominicana.
A PF estima que nos últimos anos apenas um grupo brasileiro investigado tenha movimentado cerca de US$ 25 milhões em contas nos EUA. As famílias que procuravam entrar nos EUA tinham que pagar de R$ 40 mil a R$ 100 mil por brasileiro ao grupo criminoso.
Os “coiotes” deverão ser denunciados com base em um recente artigo do Código Penal que entrou em vigor no final do ano passado, o 232-A, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão por promoção de “saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro”.
A investigação da PF apontou que há “vários ‘coiotes’ espalhados pelo país” e as rotas clandestinas de acesso aos EUA variam, podendo ser pelo deserto do México ou pelo mar das Bahamas, passando pelo Panamá, por exemplo. O grupo aliciava brasileiros de diversos estados, como Minas Gerais, Rondônia, Tocantins e Goiás.
Segundo a PF, a quadrilha utilizava um esquema que ficou conhecido entre os brasileiros como “cai-cai”. Nesse esquema, um adulto entrava em território norte-americano acompanhado de um filho menor de idade e procurava espontaneamente agentes da imigração para se entregar.
Segundo uma lei em vigor nos EUA até o ano passado, a dupla ficava presa alguns dias mas logo era solta, podendo dar início a um processo de legalização no solo americano.
A regra, porém, foi alterada nos últimos meses. Os EUA passaram a separar as crianças dos pais e não fazer a soltura imediata. Segundo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), há hoje cerca de 52 crianças brasileiras presas em prédios da imigração dos EUA separadas de seus pais, algumas há mais de 50 dias. O Itamaraty diz que o número é de 40 menores detidos.
Para pagar os “coiotes”, as famílias mais pobres vendem seus bens, casas, carros ou tomam empréstimos volumosos em bancos, segundo a PF. Mas não sabem detalhes de como vão chegar ao território americano, acabando nas mãos de várias quadrilhas de intermediários.
“Depois que os brasileiros chegam ao México, por exemplo, os ‘coiotes’ vão repassando as pessoas para outros grupos como se fossem mercadorias. Um grupo passa para o outro, há vários elos nessa cadeia. Nesse caminho todo as pessoas morrem ou são extorquidas ou são obrigadas a transportar drogas. É tanta gente envolvida que nem o ‘coiote’ conhece toda a cadeia”, disse um investigador.