Os golpistas em Guiné, que capturaram o presidente Alpha Condé e anunciaram a dissolução das instituições, convocaram nesta segunda-feira (6) os ministros do governo derrubado, após um golpe de Estado condenado pela comunidade internacional mas celebrado na capital, Conacri.
Os militares que lideraram o golpe convocaram os ministros e presidentes das instituições que para uma reunião nesta segunda-feira no Palácio do Povo, sede do Parlamento. “Qualquer recusa a comparecer será considerada uma rebelião”, alertaram.
A normalmente movimentada capital guineense estava vazia nesta segunda-feira. Os militares instalaram barricadas nas entradas do centro e soldados armados barravam as pessoas de se aproximarem do palácio presidencial.
Muitas lojas estavam fechadas e o mercado central de Medina, sempre movimentado, parecia inativo. Essa tranquilidade só foi interrompida pelos aplausos de alguns vizinhos à medida que os veículos militares passavam. Um coletivo que se mobilizou durante meses contra o terceiro mandato do presidente Condé informou que seus membros presos seriam libertados esta manhã.
As forças especiais guineanas, lideradas por seu comandante, o tenente-coronel Mamady Dumbuya, afirmaram no domingo, com um vídeo como prova, que capturaram o chefe de Estado para acabar com o que chamaram de “desperdício financeiro, pobreza e corrupção endêmica”, assim como “a instrumentalização da justiça e o desprezo dos direitos dos cidadãos”.
Os golpistas divulgaram um vídeo do presidente Condé, de 83 anos, vestido com jeans e camisa, sentado em um sofá. Eles afirmaram que o chefe de Estado deposto está bem de saúde e é tratado corretamente.
No domingo, os militares proclamaram a dissolução do governo, das instituições e da Constituição, que Condé promulgou em 2020 e utilizou para disputar no mesmo ano o terceiro mandato, apesar de meses de protestos.
Os golpistas prometeram um período de transição, ao estilo do vizinho Mali. Ao mesmo tempo, no entanto, anunciaram um toque de recolher e fecharam as fronteiras aéreas e terrestres.
Durante a noite, eles anunciaram na televisão a substituição dos ministros pelos secretários-gerais de cada pasta, assim como de prefeitos, subprefeitos e governadores regionais por militares. E pediram aos funcionários públicos que retornem ao trabalho na segunda-feira”.
Condenações internacionais – O golpe de Estado aconteceu após meses de grave crise econômica e política neste país do oeste da África, de 12 milhões de habitantes, governado desde 2010 pelo presidente Condé, cada vez mais isolado.Durante décadas, esta nação pobre, apesar dos recursos minerais e hidrológicos, foi governada desde sua independência em 1958 por regimes autoritários ou ditatoriais.
Este é o terceiro golpe de Estado na região da África subsaariana no período de um ano, depois do Mali ainda em 2020 e do Chade em 2021. Até o momento não foram registradas mortes, apesar dos tiros ouvidos na manhã de domingo na capital. E nenhum incidente grave foi registrado na madrugada de segunda-feira.
O golpe, que representa o fim de uma década do regime de Condé, provocou cenas de comemoração em vários pontos da capital, principalmente nos bairros favoráveis à oposição. No plano internacional, o golpe recebeu ampla condenação, do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, à União Africana, passando pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Europeia. O governo dos Estados Unidos também criticou o golpe e advertiu que poderia “limitar” a capacidade