O vinho acompanha o processo civilizador da humanidade desde tempos imemoriais, por isso elaborei aqui um resumo que, como avalio, poderá contribuir para melhor compreender a densa relação do país Europeu Geórgia com a milenar e transcendental bebida chamada VINHO.
Para os georgianos, a terra-mãe do vinho é certamente a Geórgia. Foi na Geórgia que sementes das uvas de oitenta séculos de idade foram descobertas por arqueologistas, uma prova de que vinhedos domesticados existem no país desde 8.000 anos. Alguns países estão na lista dos achados arqueológicos mais antigos do vinho em períodos diferentes, tais como Armênia, Irã, Azerbaijão e Turquia, mas nenhum país dessa lista preservou e aperfeiçoou tanto os métodos e cultura da vinificação até os dias atuais como a Geórgia. É desproporcional até mesmo comparar a cultura do vinho desses países mencionados com a cultura de vinho Georgiana trazida até aqui.
O Estado predecessor da Geórgia, Cólquida (Colchis), é mencionado em fontes antigas, datando do início da civilização. Cólquida era conhecida pelos distintos vinhedos e pelos tradicionais métodos de moldar vasilhas e metais. Assim, é provável que Grécia e Egito antigos tenham se apropriado da cultura vinífera de Cólquida, antiga Geórgia.
No final do Século XX, assim que a Geórgia reconquista sua independência da União Soviética, começa a revitalização dos seus mais antigos e únicos vinhedos. Por isso agora, no Século XXI, a Geórgia é forçada a se apresentar ao mundo, porque o mundo sabe muito pouco sobre o país que, além de ser uma civilização e cultura ancestrais, procria a origem do vinho.
De acordo com o pesquisador georgiano “Turashvili1” (2020), a cultura do vinho definiu a arquitetura, a literatura e todos os traços do caráter Georgiano. Tal segredo para a imortalidade nasce quando os ancestrais dos modernos georgianos descobriram a videira selvagem e a domesticaram. O surgimento de videira cultivada marcou o início da civilização georgiana. Esta ideia pode expressar o valor e a natureza da relação da sociedade Georgiana com a bebida ancestral e sagrada chamada vinho
Cada vinho georgiano difere dos outros vinhos exatamente da mesma forma que cada pessoa é diferente da outra. Por outro lado, o que sustenta a diferenciação mantém as pessoas unidas, porque em nenhum outro lugar os georgianos se alegram tanto quanto na “mesa da festa”, a chamada “SUPRA”. O fenômeno da comensalidade georgiana com densas regras de mesa, o SUPRA, parece ter aparecido tão logo os vinhedos selvagens foram transformados em cultivares. Em essência, o Supra era a melhor oportunidade de aprender sobre amor, igualdade e liberdade, e de transmitir esses valores às centenas de gerações.
Nas palavras de Alice Feiring, uma conhecida autora americana de vinhos, “não fosse pelo vinho, a Geórgia talvez não tivesse sobrevivido, ou talvez tivesse falhado em trazer suas ricas tradições para os dias de hoje.”
1 TURASHVILI, Dato. (2020) “GEÓRGIA: O BERÇO DO VINHO” @ Sulakauri Publishing, 2020, Georgia, all rights reserved. ISBN 291 09 54, 291 11 65.
Junto com monumentos materiais e valores espirituais, os georgianos oferecem ao mundo a excepcional cultura do vinho de forma muito particular. Os que conseguirem estudar o fenômeno também serão capazes de revelar o segredo dessa História. No caminho, finalmente conseguirão entender porque nenhum império foi capaz de fazer o pequeno país se ajoelhar aos seus pés. Até o momento, o que se viu foi o povo ajoelhar aos pés da videira. Tudo o que foi dito, nos autoriza a afirmar que a Geórgia é o verdadeiro berço do vinho e que o vinho criou a Geórgia. Lorena Ferraz C. Gonçalves socióloga, sommelière e produtora/importadora de vinhos. whatsapp 61-981478553 lorangimarani@gmail.com @lorangimarani