Paris aumenta o tom contra Moscou, que acusa de liderar uma campanha de desinformação e de ser responsável pela morte de dois trabalhadores humanitários franceses perto da linha da frente na Ucrânia. As tensões entre os dois países culminaram, nesta segunda-feira (5), com a convocação do embaixador russo pelo Ministério das Relações Exteriores francês.
As tensões entre os dois países aumentaram nas últimas semanas em relação à Ucrânia. A Rússia criticou o “frenesi militarista” francês após a promessa de novas entregas de armas a Kiev. O embaixador russo na França, Alexei Mechkov, “será convocado” a comparecer no Ministério das Relações Exteriores da França na segunda-feira, disse uma fonte diplomática à AFP.
O Quai d’Orsay (sede do Ministério) vai reiterar sua condenação dos ataques russos que mataram dois trabalhadores humanitários franceses na Ucrânia na última quinta-feira (1°) passada e “denunciará o ressurgimento da desinformação contra a França”, disse a mesma fonte.
As duas vítimas francesas morreram quinta-feira durante um ataque em Beryslav, uma pequena cidade ucraniana localizada na margem norte do rio Dnieper, perto da linha da frente, segundo o ministério francês, acrescentando que outros três cidadãos franceses ficaram feridos no ataque. Paris denunciou um ato de “barbárie” por parte de Moscou. E a promotoria antiterrorismo abriu uma investigação na noite de sexta-feira (2).
Combatentes franceses eliminados
Este episódio ocorre logo após um conflito entre Paris e Moscou, desta vez no campo da informação. O Ministério da Defesa russo afirmou no mês passado ter “eliminado” cerca de 60 combatentes, incluindo uma maioria de “mercenários franceses”, num ataque na noite de 16 para 17 de janeiro, em Kharkiv, nordeste da Ucrânia. Informação que foi imediatamente negada por Paris.
Na sequência destas acusações, várias listas, incluindo uma que supostamente revelava a identidade de cerca de 30 “mercenários franceses mortos”, foram massivamente retransmitidas pelos canais do Telegram e por ativistas pró-Kremlin antes que os próprios voluntários franceses na Ucrânia negassem.
“Esperamos uma onda de desinformação antes da visita de Macron à Ucrânia”, programada para este mês, sublinhou recentemente um especialista francês em questões militares a alguns jornalistas.
“A França é hoje um dos principais alvos da Rússia no domínio da informação”, lembrou, avaliando que a história dos alegados mercenários era “um caso de livro didático”, o ritmo das acusações corresponde precisamente aos anúncios franceses a favor de Kiev. A Rússia é regularmente acusada por Paris de manipulação de informações dirigidas à França e a outros países ocidentais.
Fake news
Em junho passado, as autoridades francesas denunciaram uma vasta operação de interferência digital, através da publicação de conteúdos falsos hostis à Ucrânia em sites que imitavam as páginas dos principais jornais franceses. Um desses artigos afirmava que Paris iria introduzir um imposto para financiar a ajuda à Ucrânia.Recentemente, no outono do hemisfério norte, circularam na Internet anúncios e pichações falsas contra o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para apoiar a ideia de um cansaço crescente da opinião pública na Europa e nos Estados Unidos em relação a Kiev.
Entre as muitas acusações negadas pelas equipes de verificação da AFP, artistas de rua teriam pintado murais em Montreuil, cidade próxima a Paris, ou em Berlim, retratando o presidente ucraniano como um canibal. O objetivo é fazer as pessoas acreditarem num aumento de manifestações espontâneas hostis a Zelensky nos países ocidentais, cujos líderes, no entanto, apoiam esmagadoramente Kiev.
Baseadas num processo clássico de desinformação com objetivo político, estas narrativas procuram não só minar este apoio, mas também suscitar dissensões nas sociedades ocidentais, acreditam as autoridades francesas.
“A Rússia não pode contar com qualquer cansaço dos europeus no seu apoio à Ucrânia”, assegurou Emmanuel Macron, após o acordo alcançado pelos líderes europeus sobre uma ajuda de € 50 bilhões à Ucrânia. Uma mensagem clara enviada a Vladimir Putin. O presidente francês anunciou durante suas saudações à imprensa que visitaria a Ucrânia em fevereiro, mas data precisa ainda não foi comunicada.
(Com informações da AFP)