Ocorreu, nesta quinta-feira (23), o 10º Fórum Lide do Agronegócio que é promovido pelo grupo de líderes empresariais (Lide), desta vez em modelo híbrido, com a participação de empresários de todo o Brasil. Os temas deste ano foram a imagem do Brasil no cenário global, as inovações tecnológicas e sustentáveis com foco em ESG e a evolução da agricultura sustentável no país.
Em sua participação no evento, o embaixador do Brasil na Índia, André Corrêa do Lago, afirmou que os produtores brasileiros precisam se preparar para oportunidades que surgirão nas próximas décadas, desenvolver uma agenda em conjunto já que enfrentam desafios complementares. Estando em hemisférios diferentes, os países têm safras diversas durante todo o ano. A seu ver, o Brasil não pode perder o trem para aquele país como perdemos para a China.
“O Brasil tem de pensar mais na Índia. O que os brasileiros podem fazer hoje a respeito dessa pauta?”, questionou, antes de responder: “Têm de começar a negociar já o papel que o país poderá ter nas próximas décadas nessa economia que será a terceira maior do mundo”.
Além disso, segundo o diplomata, os brasileiros deveriam trabalhar para uma produção especialmente voltada para o mercado indiano que tem uma enorme população vegetariana. Lago citou como exemplos os pulse (leguminosas secas) e as maçãs. De acordo com o embaixador quando a produção de pulses caiu, o país abriu a importação e a Embrapa começou pesquisas. “Nos anos seguintes, começamos a consolidar produção como maior exportador de determinados tipos de feijão para lá”, enfatizou. Em 2021, o país se tornou o maior importador de maçã do Brasil, acrescentou o embaixador.
A Índia necessita, de acordo com o diplomata, de tecnologia, maior cooperação internacional e produtos de outras origens, o envolve diretamente o Brasil que é um dos líderes mundiais no agronegócio. André Lago reitera que uma aproximação do Brasil com a Índia será essencial para o setor agrícola brasileiro num futuro próximo. Entre os indicadores elencados por ele está o crescimento da classe média indiana, que já supera a da União Europeia.
De acordo com Secex (Secretaria de Comércio Exterior) as relações comerciais entre Brasil e Índia no setor agropecuário não são expressivas. Entre janeiro e agosto, o Brasil exportou o correspondente a US$ 527 milhões (R$ 2,8 bilhões). Os principais produtos foram óleo de soja, açúcar, etanol e feijão.
A Índia é uma grande fornecedora de insumos agroquímicos para o Brasil. As importações brasileiras nessa área chegaram a US$ 320 milhões (R$ 1,7 bilhão) até agosto, deixando os indianos na terceira posição entre os maiores fornecedores de agroquímicos para o Brasil.
A décima edição do Fórum LIDE Agronegócios aconteceu em modelo híbrido, com a participação de empresários de todo o Brasil, e presenças de Mônika Bergamaschi, presidente do LIDE Agronegócios e curadora do Fórum; Celia Pompeia, vice-presidente executiva do Grupo Doria e membro do Comitê LIDE; João Doria Neto, diretor-executivo do Grupo Doria; Luiz Fernando Furlan, Chairman do LIDE; João Dornellas, presidente da Abia; Rodrigo Simonato, da Tereos; e Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos. Logo na abertura, Celia ressaltou que o agro é feito por pessoas, as empresas, os setores privado e público que acreditam nele.
Imagem do Brasil no cenário global – No primeiro painel do Fórum, Aldo Rebello, ex-ministro da Defesa (2015-2016), observou que o Brasil é um país sem aliados. “Nossa política externa não é de Estado e sim ideológica. Isso não é o Brasil. Temo que essa imagem possa comprometer interesses nacionais legítimos e o Brasil precisa recuperar a sua tradição diplomática. Sou otimista e isso é uma síncope brasileira. A tradição diplomática haverá de ser recuperada”, argumentou.
Marcos Jank, professor-sênior de Agronegócio Global do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), por sua vez, lembrou que a COP 26 será relevante, pois os países estarão pressionando por metas ambientais. “Não sabemos o que será levado pelo Brasil. 73% das emissões vêm de transporte e energia, e o Brasil tem a solução comprovada, mas seremos atacados pelo desmatamento. O agro tem um lado de solução maravilhoso, várias ações que buscam a sustentabilidade. O assunto mais falado sobre o Brasil é a Amazônia e temos que resolver isso. A comunicação internacional tem que ser feita e deve haver uma coordenação para isso. Temos que nos organizar melhor na divulgação de trabalhos científicos, propagar esses dados interessantes para fora do Brasil”, sugeriu.
Inovações tecnológicas e sustentáveis – Maurício Lopes, pesquisador da Embrapa Agroenergia, iniciou o segundo painel falando sobre tecnologia e a evolução das métricas para a sustentabilidade utilizadas pelos consumidores, fornecedores e outros integrantes da cadeia do agro. “Entendo a sustentabilidade como um processo de reconciliação entre os sistemas humanos e a natureza. A maior força motriz para a sustentabilidade é a Agenda 2030 da ONU, que tem capacidade para mobilizar e convencer as pessoas de que é possível prosperidade econômica com desenvolvimento sustentável. Desde que a agenda de sustentabilidade ganhou força no mundo, partimos para a agricultura sistêmica e multifuncional. Precisamos entregar valor e não apenas produtos”, salientou.
Já Daniel Vargas, professor da FGV/EESP e diretor de Pesquisa do FGV Agro, comentou sobre as vulnerabilidades do agronegócio, que vão além de clima, preço e mercado. “Temos um pacto mundial a favor da sustentabilidade e do clima, e uma medida de grande convergência é a criação de um mercado global de carbono, um artifício criado por lei e com métrica que tem um componente científico, mas vai além. Sabemos quanto custa uma saca de soja, mas quantos carbonos estão presentes nessa soja? A maneira como se computa a métrica atinge critérios com potencial de criar resultados diferentes dependendo do clima, ambiente de produção, produtividade e outros fatores”, analisa.
Caio Penido, vice-presidente da GTPS Pecuária Sustentável, acionista e membro do Conselho do Grupo Roncador, elencou alguns desafios na pecuária como o combate ao desmatamento ilegal, o fortalecimento de uma agenda comum e positiva, e a diminuição do radicalismo. “Temos que desassociar o agro da imagem do desmatamento e associá-lo à imagem da conservação. Contar para o mundo que temos um Código Florestal, que precisa ser implementado, valorizar a nossa biodiversidade. Criar uma agenda que una produtores, indígenas, governo, pessoas de bom senso que querem produzir com conservação”, apontou.