Bruna Garcia Fonseca
São Paulo – O curta-metragem brasiliense “Castigo” recebeu o prêmio de melhor filme no festival internacional de curtas-metragens da Argélia (Digital Gate International Film Festival, DGIFF), país árabe do Norte da África. O filme dirigido por Iago Kieling também conquistou o prêmio de melhor ator para Lúcio Campello. Outros dois filmes brasileiros conquistaram a terceira colocação no Digital Gate International Film Festival.
O curta de 16 minutos foi dirigido por Iago Kieling, de 23 anos, e este foi seu primeiro filme. Ele contou à ANBA que o curta é uma releitura da obra “Crime e Castigo”, do aclamado autor russo Dostoiévski. “Mas não é uma adaptação, é só uma releitura do ambiente e das personagens, adaptada à nossa realidade no Brasil e à nossa visão”, explica o diretor à ANBA.
O protagonista não tem falas e o filme tem ao todo apenas quatro diálogos curtos. “Ele é um marceneiro e está revivendo traumas do passado, enfrentando a miséria e a doença que aparenta ter. Moribundo, ele acaba tendo algumas crises e lembra coisas do passado. O filme é um retrato do protagonista por uma perspectiva psicanalítica da relação dele com a mãe, sua infância e os traumas que afetam a forma como se relaciona com a figura feminina”, conta Kieling. Há cenas do passado e do presente de forma não linear, metáforas e o diretor brinca com o real, o irreal e até mesmo o surreal.
O filme foi o projeto de conclusão de curso de Kieling, juntamente com Caio Almeida, que assina a produção, e Benny Leite, diretor de arte. Eles se formaram em Comunicação Social na Universidade Católica de Brasília (UCB) em 2018. A equipe do filme contou com quase 30 pessoas, e um financiamento coletivo de amigos, colegas e familiares ajudou no orçamento, que foi de cerca de R$ 5 mil. Como foi um projeto para a universidade, ninguém recebeu pelo trabalho, explicou Kieling. Ao todo, foram quatro diárias de gravação.
“Castigo” foi finalizado no final de 2019 e lançado em 2020, quando foi inscrito em cinco festivais no exterior e dois no Brasil. Para o diretor, o curta conquistou o júri do festival por sua pegada experimental. “Ele foge de uma ordem cronológica, tem muito campo simbólico e acho que isso é valorizado pelos festivais. É muito interessante o sentimento de representar o País, recebemos feedback de lá e daqui do Brasil, e ver que uma obra brasileira independente chegou tão longe em um festival de um lugar distante é algo que estimula. Essa é a essência do cinema, ser assistido e gerar sensações e sentimentos em diferentes lugares”, declarou. O curta ainda não tem data de lançamento para o público nas plataformas. Este é o primeiro prêmio da obra e do diretor, que hoje tem produtora própria em Brasília e planeja produzir outros filmes com Almeida e Leite.
O festival argelino não oferece premiação em dinheiro, mas publicou um certificado para os vencedores. Em terceiro lugar, levaram outros dois curtas brasileiros, “Inconsciente” (Unaware), de Tarcisio Coelho Borges, e “Luis Humberto: O Olhar Possível” (The Possible View) dirigido por Mariana Costa e Rafael Lobo.
Foram selecionados 56 filmes de 17 países, entre eles Brasil, Reino Unido, França, Irã, Índia, Espanha, Suécia, Nigéria e Finlândia. Filmes árabes foram selecionados da Argélia, Tunísia, Egito, Omã, Marrocos, Iraque, Jordânia e Síria. O festival argelino está em sua nona edição e ocorreu em dezembro. Os vencedores foram divulgados em 1º de janeiro.