O presidente Donald Trump — que está buscando a reeleição em novembro — tem um discurso contra a imigração irregular e recentemente suspendeu a maioria dos vistos de imigração, afirmando que dessa maneira protege o emprego dos americanos da crise causada pelo coronavírus.
O governo Trump “não concederá vistos aos estudantes matriculados em escolas e/ou programas que sejam completamente pela internet durante o semestre de outono (boreal) e os guardas fronteiriços não lhes permitirão entrar no país”, informou em um comunicado o Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês). Os estudantes com vistos F-1 e M-1 cujas unidades de ensino operam apenas online “devem sair do país ou tomar outras medidas, como a transferência para uma escola com instrução presencial”.
Caso contrário, os estudantes correm o risco de serem expulsos. De acordo com o novo regulamento, quando os estudantes estiverem em um centro com um modelo misto, eles terão que provar que estão matriculados no número máximo de cursos presenciais para preservar seu visto. Estas exceções não serão autorizadas para o estudo do inglês ou capacitação profissional. “A crueldade da Casa Branca não tem limites”, criticou imediatamente o senador Bernie Sanders, ex-pré-candidato democrata às presidenciais de 3 de novembro.
“Os estudantes estrangeiros são obrigados a escolher entre arriscar suas vidas nas aulas ou serem expulsos”, disse. “O pior é a incerteza”, disse à AFP Gonzalo Fernández, um espanhol de 32 anos que faz doutorado em economia na Universidade George Washington. “Estamos aqui sem saber se no próximo semestre teremos aulas presenciais ou não, não sabemos se devemos voltar para casa ou se vão acabar nos expulsando”, acrescentou. A maioria das escolas e universidades americanas ainda não anunciaram seus planos para o semestre que começa em setembro.
“Processos inevitáveis” – A medida atinge quem estuda com vistos F-1 (para “cursos acadêmicos”) e M-1 (para “formação profissional”). Em março, 1,2 milhão de pessoas tinham estes vistos, a grande maioria originária de países asiáticos (China, Índia, Coreia do Sul), mas também de Arábia Saudita e Canadá, segundo dados oficiais.
Como no restante do país, as universidades americanas, que têm em média 5,5% de estudantes internacionais e dependem em grande medida de seus pagamentos de matrícula, fecharam as portas em março e passaram a dar aulas ‘online’ em uma tentativa de conter o avanço da pandemia. Na falta de vacinas, algumas, inclusive a Universidade Estadual da Califórnia ou a prestigiosa Universidade de Harvard, anunciaram que vão continuar com os cursos 100% em formato virtual no começo do ano escolar, inclusive para os estudantes autorizados a residir em suas instalações.
Segundo Aaron Reichlin-Melnick, do centro de especialistas American Immigration Council, supõe-se que a nova regra vá permitir aos estudantes continuarem seus estudos em seus países, mas isto não é realista, em particular devido às dificuldades para viajar e o atraso tecnológico de algumas nações. “Os processos judiciais são inevitáveis”, antecipou no Twitter. O presidente Trump, em campanha pela reeleição, tem pressionado para que o país retome suas atividades normalmente, apesar de a pandemia ainda não estar sob controle. “As escolas devem abrir no outono!”, tuitou ontem.
No entanto, com mais de 130 mil óbitos e 2,9 milhões de casos, os Estados Unidos são o país mais afetado do mundo pela pandemia e há algumas semanas registrou um surto de infecções no sul e no oeste do país. Trump, que fez da luta contra a imigração a marca de sua Presidência, tomou medidas de pressão contra os estrangeiros desde o início da crise sanitária.
Em junho, congelou até 2021 a emissão de ‘green cards’, que dão status de residência permanente nos Estados Unidos, assim como de certos vistos de trabalho, particularmente os usados em setores de tecnologia, com o objetivo declarado de reservar postos de trabalho para os americanos. Um estudo publicado pelo Journal of the American Medical Association mostrou que o número de médicos de países principalmente muçulmanos que viajaram para os Estados Unidos para prosseguir seus estudos caiu 15% durante o governo Donald Trump.