Abdollah Nekounam Ghadirliele fala sobre uma série de temas como as eleições iranianas, relações bilaterais, BRICS, turismo, o atual conflito na Palestina e a visita “discreta” de representante dos EUA ao Brasil.
O Embaixador da República Islâmica do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli recebeu, na manhã de sexta-feira (21), representantes da imprensa para um café da manhã, na sede diplomática. Na ocasião, Ghadirl respondeu perguntas sobre diferentes temas atuais. O chefe de missão iraniano esteve recentemente com representantes do governo e parlamentares no Congresso Nacional e afirmou à época, que o governo de seu país quer “retomar e aprofundar essas relações, inclusive com uma missão parlamentar ao Irã ainda neste ano”.
Ghadirl disse, na coletiva, que é de interesse do governo iraniano retomar relações parlamentares com o Brasil. O país negocia como Brasil a importação de gado vivo que pode ser do Rio Grande do Sul, estado que possui legislação para isso. Acordo de serviços aéreos com o Brasil também está também na pauta das prioridades para as relações bilaterais. O Brasil exporta para o Irã alimentos, sobretudo carnes e grãos.
Em relação às eleições iranianas, prevista para o próximo dia 28, Ghadirl afirmou que o processo eleitoral é democrático, “embora a mídia estrangeira faça ataques, independente do resultado”. “Até se pode pensar que as notícias que vão divulgar já estão prontas. Pela experiência que eu tenho, posso dizer o que Reuters, AFP e outros vão noticiar depois da eleição”, afirmou.
Segundo o embaixador, a eleição iraniana “é uma eleição séria, real e baseada pela vontade e desejo do povo, fato contorcido pela mídia que dissemina a imagem de um Irã autoritário e ditador”. Ghadirl afirma que o Irã é um país islâmico de história e tradição milenar, além de zelar pelo interesse do povo, é comprometido com a proteção do seu patrimônio nacional e cultural.
O embaixador Ghadirl agradeceu mais uma vez o apoio do governo brasileiro em relação ao acidente de helicóptero que matou o presidente Ebrahim Raisi e líderes estatais no domingo, dia 19. A Embaixada do Irã agradeceu, em nota oficial, a solidariedade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
EUA quer fazer “máxima pressão”
O embaixador Ghadirl se disse surpreso com a notícia “discreta” da visita de Abram Paley (foto), enviado especial adjunto para o Irã desde março de 2023, divulgada em uma postagem na rede X. “Acabo de regressar do Brasil, onde tive reuniões construtivas com autoridades sobre as nossas preocupações sobre as atividades desestabilizadoras do Irã e dos seus representantes na região, a aplicação de sanções, a cooperação contra a luta contra a proliferação e os nossos objectivos comuns de não-proliferação”, escreveu.
O Itamaraty confirmou o encontro, mas não fala em sanção. Embaixador iraniano diz que decisão brasileira sempre foi soberana, sem ceder à “máxima pressão” dos EUA. Um representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos esteve no Brasil esta semana para falar a respeito de sanções contra o Irã.
Paley é o 2º na hierarquia da seção responsável pelo Irã no Departamento de Estado dos EUA, equivalente no Brasil ao Itamaraty. O cargo de Paley é vice-enviado especial dos EUA para o Irã. A função da seção é discutir com outros países sanções ao Irã. Os EUA e o Irã não têm relações diplomáticas.
120 anos: Brasil-Irã mantêm uma longa amizade
As relações bilaterais com o Brasil já completaram 120 anos, e continua em constante crescimento e expansão. De acordo com o embaixador, “ao contrário do que muitos pensaram, nossas relações com o Brasil triplicaram nos últimos tempos e independente do governo, nós aprendemos que é possível continuar fomentando essa amizade em campos diversos e de interesse mútuo para ambas as nações”.
Para a imprensa, o diplomata iraniano destacou que as relações do Irã, não só com o Brasil, mas com outros países estão enraizadas na maturidade política. “São relações feitas através dos pontos comuns que nós podemos criar e nos conectar”.
O embaixador explicou que, entre suas prioridades, está difundir o turismo e o intercâmbio cultural. “Um de nossos interesses principais é fomentar o âmbito turístico, para que as pessoas de todo o mundo possam visitar, possam entrar no país e visitar nossas atrações turísticas”. Os brasileiros que desejam visitar o Irã por um período de duas semanas não precisam de visto.
Em relação ao BRICS, o embaixador lembrou que seu país se tornou oficialmente um membro do BRICS, bloco no qual, o Irã usufrui de uma cooperação política e econômica significativa com todos os cinco membros originais (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), apoiando fortemente os esforços em fortalecer as relações econômicas entre os membros, bem como a utilização de moedas nacionais e o reforço dos mecanismos do bloco para pagamentos.
Palestina: “Todos merecem direitos iguais”
À imprensa, Ghadirli reforçou o direito do povo palestino à liberdade e à autodeterminação, silublinhando que a criação de um Estado próprio e independente deve ser reconhecido por todos, afinal, “todos merecem direitos iguais”.
Ao ser questionado sobre a posição do Brasil perante à situação da Palestina, o diplomata enfatizou que cabe à cada nação, em sua individualidade, sintonizar as suas relações com outros países baseados na sua visão e na sua abordagem própria. “O processo em que muitos pensam que todos os países têm que pensar no mesmo sentido que eles, não é cabível. Cada um se baseia pelos interesses dos seus povos, dos seus países”.