Daniel Zonshine cobra postura mais incisiva do Brasil em relação à guerra. Segundo o MRE, convocação faz parte da praxe das relações entre nações, mas incômodo com críticas do diplomata é evidente
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) chamou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para cobrar explicações sobre as críticas que fez à atuação do governo brasileiro em relação à guerra entre Israel e o Hamas. Na semana passada, o representante diplomático chegou a se reunir, na Câmara dos Deputados, com parlamentares da oposição para pedir apoio àquilo que dissera, uma vez que classificou como “brandas” as manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o conflito no Oriente Médio.
Segundo o MRE, Zonshine foi chamado pelo secretário de África e Oriente Médio, embaixador Carlos Duarte, para o esclarecimento de posições, na quarta-feira. “No contexto do debate público interno sobre a crise no Oriente Médio, foram reiteradas as posições brasileiras no assunto”, informou o Itamaraty.
Apesar de a convocação ser uma demonstração de descontentamento do governo com as declarações do representante israelense, o MRE classificou o procedimento como da praxe diplomática. “Chamadas assim são parte da rotina, sempre que é preciso alguma conversa pessoal para esclarecer posições”, respondeu o Itamaraty ao questionamento do Correio.
Na conversa no Itamaraty, Zonshine teria sido cobrado sobre a acusação que fez ao governo brasileiro de que faltaria “empenho” para que os reféns mantidos pelo Hamas fossem resgatados.
Além das reuniões com integrantes da oposição no Congresso, Zonshine envolveu-se, na segunda-feira, em outra polêmica. Ele criticou a postura do PT, partido de Lula, em relação ao Hamas e à situação na Faixa de Gaza. O partido considerou “falsa e maliciosa” a interpretação dada pela embaixada israelense a uma manifestação sobre o tema.
Vieira no Cairo
O Brasil enviará o chanceler Mauro Vieira para a reunião de cúpula de países árabes da região do Golfo, amanhã, em Cairo, no Egito. A decisão foi tomada nas últimas horas. Na quarta-feira, após participar de audiência no Senado, o ministro das Relações Exteriores afirmou que não poderia ir ao encontro, pois se dedicaria às articulações no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) na tentativa de fechar um acordo para a ajuda humanitária a Gaza.
Vieira embarca ainda hoje de Nova York para o Cairo. A cúpula tratará da crise humanitária enfrentada pelos palestinos sitiados. O Brasil foi o único país das Américas convidado pelo Egito para o encontro. A ida do chanceler confere prestígio ao fórum árabe e confirma a confiança dos países do Oriente Médio na capacidade de interlocução brasileira.
Para o governo brasileiro, o encontro pode ser mais uma oportunidade para negociar com o governo egípcio a liberação da fronteira para os cerca de 30 brasileiros que solicitaram resgate para serem repatriados. Eles permanecem retidos em Gaza e aguardam a abertura da fronteira pelo Egito — que já concordou em facilitar a extradição.
Repatriação
Com o pouso no Rio de Janeiro, na madrugada de ontem, do sexto voo da operação de repatriação que estavam na zona de conflito, o governo contabiliza 1.135 nacionais transportados pelos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Estão previstos mais dois voos de Tel Aviv para o Brasil — um saindo hoje e outro amanhã, o que deve encerrar a operação de resgate.
A última operação será a do Egito. Segundo o Itamaraty, os veículos contratados pelo governo para o transporte dos brasileiros em Gaza seguem em prontidão, aguardando a abertura da passagem de Rafah. A aeronave utilizada pela Presidência da República continua no Cairo à espera do grupo.
Fonte: Correio Braziliense