Em entrevista ao Comexdobrasil.com, por email, o embaixador argentino reiterou o mesmo otimismo verbalizado ao entregar as cartas credenciais ao mandatário brasileiro e voltou a afirmar que sua missão em Brasília terá como foco central a intensa agenda comercial bilateral.
Político habilidoso e competente, com um vasto curriculum onde constam, entre outros, os cargos de ex-vice-presidente da República, ex-governador da província de Buenos Aires e também ex-presidente do legendário Boca Juniors, o peronista Daniel Sciolli usou sua vasta experiência para driblar obstáculos interpostos à sua trajetória antes mesmo de assumir o comando da chancelaria argentina nesta capital.
De forma clara e objetiva, ele afirmou que “a relação entre os dois países é tão forte que é impossível ser enfraquecida apenas por ideologias. Além das ideias preconcebidas, os dois governos sabem da necessidade de trabalhar juntos e é isso que estamos fazendo”.
E nem mesmo os dados estatísticos mostrando quedas constantes e crescentes no outrora vigoroso comércio bilateral são capazes de reduzir o otimismo do embaixador Daniel Sciolli com o futuro do intercâmbio entre os dois países.
Ao falar sobre o assunto, ele disse que “estou convencido de que, após o acentuado declínio econômico causado pela pandemia, há agora uma recuperação vigorosa. Eu dou um exemplo: somente em setembro, o comércio bilateral cresceu 14% em relação a agosto. Tenho certeza de que, mês após mês, acontecerá a mesma coisa”.
Os números relativos às trocas comerciais bilaterais em setembro são corretos e animadores e podem mesmo marcar o início de uma recuperação. Entretanto, um longo caminho existe a ser percorrido para serem recuperados os efeitos causados pela crise econômica, que atinge os dois países, e pela pandemia, que também afetou gravemente a produção e o comércio exterior dos dois parceiros.
De janeiro a setembro, as exportações brasileiras registraram uma forte queda de -22,4% e somaram US$ 5,938 bilhões, enquanto as vendas argentinas tiveram uma contração de -28,9% para US$ 5,557 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
A forte retração nas vendas bilaterais de produtos industrializados –e do setor automobilístico em especial- é outro grande desafio a ser enfrentado pelos dois países e que, consequentemente, figura entre as preocupações do embaixador argentino.
De janeiro a setembro, as exportações brasileiras de automóveis recuaram -43%, e somaram US$ 931 milhões, com uma perda de US$ 704 milhões, comparativamente com a receita alcançada em igual período de 2019. Nesse mesmo intervalo, os embarques argentinos de automóveis tiveram uma queda ainda maior, de -46% para US$ 1,008 bilhão, uma redução de US$ 840 milhões no faturamento das montadoras instaladas no país.
Apesar desses números preocupantes, o Embaixador Daniel Sciolli ressalta que “desde minha chegada ao Brasil, tenho mantido conversas com as associações automotivas dos dois países (ANFAVEA e ADEFA) mas também com o restante do setores industriais. Devido à minha carreira política na Argentina, tenho contato direto com todos os governadores e setor empresariais argentinos, e junto com eles estamos planejando missões comerciais nos diferentes estados do Brasil para promover os bens industrializados argentinos”.
O turismo é outro setor de grande relevância nas relações entre a Argentina e o Brasil e foi uma das áreas mais afetadas pela pandemia que atinge intensamente os dois países. E também em relação a esse tema o embaixador Daniel Sciolli vê motivo para alimentar animadoras expectativas para o pós-pandemia.
Segundo ele, “em primeiro lugar, estamos trabalhando no restabelecimento dos voos entre os dois países, na medida em que a situação epidemiológica permitir. Na semana passada, fiz uma videoconferência com o Country Manager da Gol na Argentina e o ministro dos Transportes, Mario Meoni. Na oportunidade, a Gol prometeu continuar voando na Argentina e a aumentar o número de frequências. Também tive uma reunião com o ministro brasileiro do Turismo, e acordamos que, passada a emergência da pandemia, é prioridade para Brasil e Argentina saírem juntos no mercado internacional para promover os dois países com um ‘pacote turístico’.
Com cautela e habilidade, o Embaixador Daniel Sciolli abordou a maneira como o governo argentino segue a campanha eleitoral nos Estados Unidos. Pragmático e incisivo, ele sintetizou a postura do governo de Alberto Fernández em um breve comentário: “o governo argentino tem um respeito indissociável pela democracia e pela vontade popular. Eles vão trabalhar com quem vencer, buscando o melhor para o nosso país”.