Se havia dúvidas sobre a existência de uma maioria silenciosa contra os protestos em Hong Kong, elas se dissiparam totalmente no domingo (24), com o voto esmagador respaldando o movimento pró-democracia que há seis meses sacode o território semi-autônomo da China.
O último argumento de Carrie Lam, a chefe-executiva de Hong Kong, para desabonar a força das manifestações, caiu por terra: candidatos apoiados pelos manifestantes venceram 389 das 452 cadeiras em 17 dos 18 conselhos distritais, deixando o bloco pró-Pequim com apenas 58 representantes.
Na prática, essa eleição tem peso limitado — cabe aos conselhos decidirem apenas sobre questões locais. Mas é também o mecanismo mais próximo do voto a que os moradores de Hong Kong têm direito. Os conselhos distritais são o elo mais direto com os eleitores e integram o comitê que elege o diretor-executivo do território, amplamente dominado pelo governo central.
Diante da convulsão social, o comparecimento de 70% dos eleitores foi recorde, num claro recado a Lam, que insistiu, na tese de que tinha apoio da maioria silenciosa. Estava errada. A mensagem que sai das urnas é traduzida pelo desejo de mudança. Mas, a contar pela reação do governo Xi Jinping, é improvável que ela ocorra:
“Não importa como a situação em Hong Kong mude, é muito claro que Hong Kong faz parte do território chinês. Qualquer tentativa de minar sua estabilidade e prosperidade não terá êxito”, assegurou o chanceler chinês, Wang Yi.
Os manifestantes querem a renúncia de Lam, uma investigação sobre a atuação da polícia local na repressão aos protestos, e mais autonomia em relação a Pequim. A ex-colônia britânica foi devolvida em 1997 à China e, por 50 anos, seria regida pelo princípio “um país dois sistemas”. A eleição de domingo fortalece os manifestantes e desafia a diretora-executiva.
Apoiada pelo governo central, Lam prometeu encarar com humildade o significado do voto, como reflexo da insatisfação. Seja lá o que estas palavras signifiquem, seu poder, contudo, é limitado e vinculado às ordens expressas de Xi Jinping — que parece não estar disposto a fazer concessões.