A certificação segue mais de 50 anos de compromisso do governo e do povo salvadorenho com o fim da doença em um país com densa população e geografia favorável à malária.
A certificação de eliminação da malária é concedida pela OMS quando um país prova, além de qualquer dúvida razoável, que a cadeia de transmissão autóctone foi interrompida em todo o país por pelo menos os últimos três anos.
El Salvador se tornou nesta quinta-feira (25) o primeiro país da América Central a receber uma certificação de eliminação da malária pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A certificação segue mais de 50 anos de compromisso do governo e do povo salvadorenho com o fim da doença em um país com densa população e geografia favorável à malária.
“A malária aflige a humanidade há milênios, mas países como El Salvador são uma prova viva e inspiração para todos os países de que podemos ousar sonhar com um futuro sem malária”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A certificação de eliminação da malária é concedida pela OMS quando um país prova, além de qualquer dúvida razoável, que a cadeia de transmissão autóctone foi interrompida em todo o país por pelo menos os últimos três anos.
Com exceção de um surto em 1996, El Salvador reduziu de forma constante sua carga de malária nas últimas três décadas. Entre 1990 e 2010, o número de casos da doença diminuiu de mais de 9 mil para 26. O país registrou zero casos autóctones da doença desde 2017.
“El Salvador tem trabalhado muito para erradicar a malária e o sofrimento humano que ela gera”, disse a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne. “Ao longo dos anos, El Salvador dedicou os recursos humanos e financeiros necessários para ter sucesso. Esta certificação é uma conquista que salva vidas nas Américas.
El Salvador é o terceiro país a ter alcançado o status de livre da malária nos últimos anos na Região das Américas, depois da Argentina, em 2019, e do Paraguai, em 2018. Sete países da região foram certificados entre 1962 e 1973. Globalmente, um total de 38 países e territórios alcançaram este marco.
O ministro da Saúde de El Salvador, Francisco José Alabi Montoya, declarou que “o povo e o governo de El Salvador, junto com seus profissionais de saúde, lutam há décadas contra a malária. Hoje comemoramos esta conquista histórica de ter El Salvador certificado como livre da malária”.Veja aqui o vídeo com o pronunciamento da diretora da OPAS, Dra Carissa F. Etienne, sobre a eliminação da malária em El Salvador (em inglês com legenda em espanhol)
O caminho de El Salvador para a eliminação – Os esforços contra a malária de El Salvador começaram ainda na década de 1940 com o controle mecânico do vetor da malária – o mosquito – por meio da construção dos primeiros drenos permanentes em pântanos, seguido pela pulverização interna com o pesticida DDT. Em meados da década de 1950, El Salvador estabeleceu um Programa Nacional de Malária (CNAP) e recrutou uma rede de agentes comunitários de saúde para detectar e tratar a malária em todo o país. Os voluntários, conhecidos como “Col Vol”, registraram casos e intervenções de malária. Os dados, inseridos nos sistemas de informação de saúde pelo pessoal de controle de vetores, permitiram respostas estratégicas e direcionadas em todo o país.
No final dos anos 1960, o progresso diminuiu à medida que os mosquitos desenvolveram resistência ao DDT. Acredita-se que uma expansão na indústria de algodão do país tenha alimentado um aumento ainda maior nos casos de malária. Ao longo da década de 70, houve um aumento repentino de trabalhadores migrantes em fazendas de algodão em áreas costeiras próximas a criadouros de mosquitos, além do uso interrompido de DDT. El Salvador experimentou um ressurgimento da malária, atingindo um pico de quase 96 mil casos em 1980.
Com o apoio da OPAS, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), El Salvador reorientou com sucesso seu programa de malária, o que levou a um melhor direcionamento de recursos e intervenções com base na distribuição geográfica de casos. O governo também descentralizou sua rede de laboratórios de diagnóstico em 1987, permitindo que os casos fossem detectados e tratados mais rapidamente. Esses fatores e o colapso da indústria do algodão levaram a um rápido declínio de casos na década de 80.
A reforma da saúde de 2009, que incluiu melhorias importantes no orçamento e cobertura da atenção primária à saúde, bem como a manutenção do programa de controle de vetores como líder técnico em intervenções contra a malária, contribuiu para o sucesso de El Salvador.
Liderança do país e financiamento consistente – O governo de El Salvador reconheceu desde o início que um financiamento interno consistente e adequado seria crucial para alcançar e manter seus objetivos relacionados à saúde, incluindo para a malária. Este compromisso se reflete há mais de 50 anos nas rubricas orçamentárias nacionais.
Apesar de ter notificado sua última morte relacionada à malária em 1984, El Salvador manteve seus investimentos internos para combate à doença. Em 2020, o país continuou a contar com 276 equipes de controle de vetores, 247 laboratórios, enfermeiras e médicos envolvidos na detecção de casos, epidemiologistas, equipes de gestão e pessoal e mais de 3 mil agentes comunitários de saúde. Como parte do compromisso de El Salvador de manter zero casos, o orçamento nacional para a malária foi e será preservado, mesmo durante a pandemia.
Iniciativas globais e regionais – El Salvador é membro da iniciativa global “E-2020” da OMS – um grupo de 21 países identificados em 2016 como tendo potencial para eliminar a malária até 2020. Com o apoio da OMS e da OPAS, funcionários do programa nacional de El Salvador participaram de eventos globais que reúnem países que eliminaram a malária para compartilhar inovações e melhores práticas.
Embora a maior parte do financiamento para a malária tenha vindo de recursos internos, o esforço de eliminação de El Salvador recebeu doações externas pelo Fundo Global.
Em 2019, o país aderiu à Iniciativa Regional de Eliminação da Malária (RMEI), organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento com liderança técnica da OPAS e participação do Conselho de Ministros da Saúde da América Central (COMISCA). A iniciativa apoia países da América Central, República Dominicana, México e Colômbia em um esforço colaborativo para eliminar a malária.
A OPAS prestou apoio técnico em toda a campanha antimalária de El Salvador, desde o controle até a eliminação e a prevenção do restabelecimento da doença. O sucesso do país é uma contribuição importante para a Iniciativa de Eliminação da OPAS, um esforço colaborativo entre governos, sociedade civil, academia, setor privado e comunidades para eliminar mais de 30 doenças transmissíveis e condições relacionadas nas Américas, incluindo a malária, até 2030.
Tendências globais e regionais – Contraída por meio de picadas de mosquitos infectados, a malária continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, com mais de 200 milhões de casos e 400 mil mortes relacionadas à doença notificadas a cada ano. Aproximadamente dois terços dessas mortes ocorrem entre crianças menores de cinco anos.
Em 2019, as Américas notificaram 723 mil casos confirmados de malária, em comparação com quase 1,2 milhão de casos em 2000. O número total de mortes por malária caiu 52% no mesmo período – de 410 para 197. Desde 2015, a região viu um aumento de 66% nos casos, principalmente devido ao aumento da transmissão da malária em alguns países. Apesar do aumento, os avanços contra a malária continuam. Em 2020, Belize completou dois anos sem transmissão autóctone e, no final de 2020, 10 países e territórios notificaram menos de 2 mil casos do que em 2019.