Pinotage, símbolo da África do Sul, a uva emblemática desse país tem origem um tanto curiosa.
Por Rachel Alves Nariyoshi
Antes de falar da Pinotage, preciso contar a história do seu criador: Matemático, Físico e Doutor em Química pela Halle na Alemanha, o Doutor Abraham Izak Perold (1880-1941) falava ingles, portugues, espanhol, italiano, francês e alemão. Viajou pela Europa visando conhecer variedades de uvas diferentes e levou para a África do Sul um total de 177 variedades que formam o viveiro de uma coleção para estudos que até hoje é feito na Fazenda Experimental Welgevallen da Universidade de Stellenbosch. Foi o primeiro professor de enologia e depois reitor da Faculdade de Agricultura do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade de Stellenbosch.
Na Fazenda Welgevallen, Doutor Abraham iniciou exames científicos das videiras e pesquisas sobre a sanidade, resistência, melhores condições de crescimento e maior produtividade em terras sul africanas. Em 1925 ele cruzou com sucesso as variedades francesas Pinot Noir com Hermitage (também conhecida por Cinsault) e assim criou a Pinotage, atual variedade emblemática sul-africana. O objetivo desse cruzamento era nada mais do que criar uma variedade que se adaptasse ao terroir sul africano. E conseguiu! A Pinot Noir nunca conseguiu adaptar-se plenamente em solo sul-africano, mas cedeu à Pinotage a complexidade aromática e a Hermitage, cedeu a robustez e a resistência ao calor.
A Pinotage amadurece precocemente, apresenta níveis elevados de açúcar e permanece saudável e vigorosa por mais tempo. Os vinhos também apresentam cor rubi mais profunda e intensa do que qualquer das outras variedades testadas.
Dados históricos dão conta de que em 1941 foi produzido o primeiro barril de vinho Pinotage, em Stellenbosch. O nome apareceu no rótulo de um vinho pela primeira vez em 1961 como Lanzerac Pinotage 1959. E não é nenhuma surpresa o bom envelhecimento dos vinhos elaborados a partir da Pinotage.
Variedade de tal importância para a África do Sul que foi fundada em meados de 1990, a Pinotage Association, responsável por manter a liderança, a qualidade dos vinhos e, dentre outros objetivos, “Priorizar as necessidades de pesquisa em relação à Pinotage”. Imparado pela associação, houve um renovado interesse pela Pinotage e desde então tem havido contínuo melhoramento das videiras com avaliação de clones e os plantios aumentaram consideravelmente nas terras sul africanas. A partir de então, a Pinotage foi colocada no mesmo nível das variedades tradicionais europeias e se tornou a uva mais apreciada da África do Sul, sendo celebrado até o World Pinotage Day, em 14 de outubro.
No Guia Wine Folly de Puckettte, Madeline. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseco, 2016, às páginas 160/161, numa escala até 5 a Pinotage apresenta: fruta 4, corpo 5, taninos 4, acidez 2, e álcool 5. Seus aromas dominantes são: Cereja-negra, amora-silvestre, figo, mentol e carne assada. Curiosamente, a Pinotage em nada se parece com seus pais (Pinot Noir e Hermitage). É um enigma!
A variedade Pinotage também é cultivada na Califórnia (53 acres/21 ha em 2009, principalmente no Vale de San Joaquin, e também em Napa Valley e na Costa de Sonoma), no Brasil (112 ha/277 acres em 2007 no Rio Grande do Sul), Nova Zelândia (74 ha/183 acres em 2008 em Gisborne, Hawke’s Bay e Marlborough) e, em menores proporções no Oregon, Estado de Washington, Colúmbia Britânica no Canadá, na Austrália, no Zimbabué e em Israel, segundo Robinson, Jancis no livro Wine Grapes: A complete guide to 1,368 vine varieties, Penguin Books Ltd. Edição do Kindle.
Um brinde ao World Pinotage Day.
@rachelalves.professoravinhos