O presidente boliviano Evo Morales disputa neste domingo (20) sua quarta eleição presidencial, com a possibilidade de, pela primeira vez, ter que enfrentar um segundo turno. Isso irá acontecer caso ele não consiga atingir 50% dos votos mais um ou 40% dos votos e uma vantagem de pelo menos dez pontos sobre o segundo colocado.
Quando foi eleito pela primeira vez, em 2005, Morales, que representa o partido Movimiento Al Socialismo (MAS), teve 53,7% dos votos, a primeira maioria absoluta na Bolívia em 40 anos. Em 2009, conseguiu 64,2% e, em 2014, teve 61,36%.
Desta vez, porém, com sua imagem desgastada após contestar um referendo que o impediria de disputar a reeleição e por sua resposta considerada insatisfatória aos incêndios florestais que afetaram o país nas últimas semanas, as projeções são bem menos otimistas.
No domingo (13), último dia em que foi permitida a divulgação de pesquisas, o resultado mais favorável foi apontado pela IPSOS, que dava a ele 40% de votos, contra 22% de Carlos Mesa, do Partido Comunidad Ciudadana (CC). Em terceiro aparece o senador Óscar Ortiz, da aliança Bolivia Dice No (BDN), com 10%. Neste cenário, o presidente ainda seria reeleito no primeiro turno.
Mas também esta semana a empresa CiesMori divulgou outra pesquisa na qual Morales teria 36,2%, Mesa, 26,9%, e Ortiz, 7,8%. Neste caso, a disputa seria levada a um segundo turno, a ser disputado dia 15 de dezembro.
Já uma sondagem da Universidad Mayor de San Andrés mostra o presidente com 32,3%, apenas cinco pontos acima de Mesa, com 27%. O Tribunal Superior Eleitoral proibiu a divulgação dessa última pesquisa, mas o reitor da universidade desafiou a proibição, publicando os números nas redes sociais.
As pesquisas indicam ainda um elevado índice de indecisos, por volta de 10%, o que pode ser decisivo para definição do resultado no primeiro turno ou não.
Estão convocados a votar 7,3 milhões de cidadãos, que também irão eleger os 36 senadores, 130 deputados e 9 representantes supra-estatais integrantes da Assembleia Legislativa Plurinacional (ALP).
Já 341 mil bolivianos que vivem no exterior, em sua maioria na Argentina, Espanha e Brasil, votarão apenas para presidente e vice. Apenas no Brasil, mais de 45 mil eleitores bolivianos estão habilitados para votar, sendo mais de 44 mil no estado de São Paulo.
Comícios
A campanha eleitoral foi encerrada oficialmente na quarta-feira, mas os últimos grandes comícios dos dois principais candidatos aconteceram no sábado (12).
Morales, de 59 anos, escolheu para se despedir a cidade de El Alto, ao lado de La Paz, onde milhares de pessoas chegavam em família ou em grupos sindicais, em meio a uma multidão de indígenas aimaras, com ‘cholitas’ (mulheres vestidas em trajes tradicionais), carregando seus fardos multicoloridos nas costas, segundo a agência France Presse.
Mesa, de 66 anos, se despediu de seus seguidores em Santa Cruz, a grande cidade industrial do leste do país, conhecida como reduto da oposição ao governo.
Argentina e Venezuela
Os dois principais candidatos usaram comparações com países da região para tentar conquistar votos.
Em seu discurso final de campanha, Evo Morales citou a crise econômica na Argentina e os distúrbios recentes no Equador: “Primeiro a Argentina; agora o Equador. Isso é o que acontece quando se entrega ao Fundo Monetário Internacional. É isso que vocês querem para a Bolívia?”, questionou. “Irmãos, não se enganem. Aqui só existem dois caminhos: voltar ao passado ou continuar com o processo de mudança”, afirmou.
Já Carlos Mesa usou a Venezuela, cujo presidente Nicolás Maduro é defendido por Morales, em um tom ameaçador. “O caminho do autoritarismo tende a aprofundar-se. O controle dos poderes do Estado tende a transformar-se num modo de ação. A geração do medo tende a transformar-se num sistema”, disse.
Economia
A longevidade de Morales na presidência e seu favoritismo nas eleições se devem principalmente aos bons índices econômicos de seu governo.
Segundo o ministro da Economia, Luis Arce, desde que Morales assumiu, o PIB do país quadruplicou, passando de US$ 9,5 bilhões para US$ 40,8 bilhões. Para 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 3,9% para a Bolívia. Além disso, o presidente redistribuiu a riqueza em bônus para idosos, crianças e mães solteiras, grupos historicamente desamparados no país.
A pobreza diminuiu de 60% a 34% da população a partir de um crescimento econômico de 4,9% em média ao longo de 14 anos. No entanto, especialistas indicam que o modelo ruma a um colapso se não houver um ajuste.
A economia boliviana acumula um déficit comercial anual em torno de 2% do PIB e um déficit fiscal próximo de 8%. A sensação de estabilidade é mantida graças às reservas internacionais do Banco Central, acumuladas até o auge de 2014, mas que já se reduziram pela metade em quatro anos. Também pelo endividamento externo, que pulou de 30% a 50% do PIB no período.
Segundo a France Presse, a Bolívia depende ainda das exportações de gás ao Brasil e à Argentina, países que tendem a comprar cada vez menos, graças à exploração crescente das suas próprias reservas.