Papa Francisco e diplomatas | Foto: Vatican Media
“O objetivo da diplomacia é ajudar a deixar de lado os dissabores da convivência humana, favorecer a concórdia e experimentar como, superando as areias movediças da conflitualidade, podemos redescobrir o sentido da unidade profunda da realidade”, discursou o Papa Francisco nesta segunda-feira (10) durante audiência com o corpo diplomático. O pontífice disse ainda para os diplomatas credenciados na Santa Sé que a paz é contagiosa e é construída com diálogo e fraternidade. Francisco abordou ainda temas como pandemia, migração e mudanças climáticas que são, a seu ver, os principais desafios que a humanidade deve enfrentar hoje. O discurso aos diplomatas no início do ano é ocasião para uma análise de conjuntura internacional. Estiveram presentes no Vaticano diplomatas representando mais de 180 países.
O Papa Francisco defendeu a vacinação para e considerou as vacinas não “instrumentos mágicos de cura”, mas “a solução mais razoável para a prevenção do coronavírus”. “Todos temos a responsabilidade de cuidar de nós próprios e da nossa saúde, o que se traduz também no respeito pela saúde de quem vive ao nosso lado. O cuidado da saúde constitui uma obrigação moral, afirmou o pontífice.”
Francisco destacou ainda que “A diplomacia multilateral é chamada a ser verdadeiramente inclusiva, não eliminando, mas valorizando as diversidades e as sensibilidades históricas que caracterizam os vários povos. Recuperará, assim, credibilidade e eficácia para enfrentar os próximos desafios, que exigem que a humanidade se reúna como uma grande família”. O Papa atribuiu a “crise de confiança” na diplomacia à “reduzida credibilidade dos sistemas sociais, governamentais e intergovernamentais”.
“Este desequilíbrio, que hoje se tornou dramaticamente evidente, gera insatisfação para com os organismos internacionais por parte de muitos Estados e enfraquece no seu todo o sistema multilateral, tornando-o cada vez menos eficaz para enfrentar os desafios globais”, acrescentou Francisco.
Ao falar do drama da migração, ressaltou a necessidade de vencer a indiferença. “Não se pode entrincheirar atrás de muros e arame farpado a pretexto de defender a segurança ou um estilo de vida.” Fez menção específica ao “êxodo de refugiados sírios, afegãos e os inúmeros latino-americanos, sobretudo haitianos”.
Francisco, no final, apelou por uma consciência ecológica. “O cuidado da nossa Casa Comum constitui o terceiro desafio planetário. Diante de uma contínua e indiscriminada exploração dos recursos, é preciso encontrar soluções comuns e colocá-las em prática”, asseverou. Para ele, a timidez demonstrada na COP26 deve ser superada na COP27, prevista para novembro próximo no Egito.
Vencer a indiferença – Apesar das restrições, em 2021 foram retomadas as audiências a chefes de Estado no Vaticano, bem como as viagens apostólicas internacionais. O Pontífice mencionou o encontro de reflexão e oração pelo Líbano, e as visitas a Iraque, Budapeste, Eslováquia, Chipre e Grécia. Ao recordar a etapa na ilha de Lesbos, Francisco falou do drama da migração e da necessidade de vencer a indiferença. “Diante destes rostos, não podemos permanecer indiferentes, nem se pode entrincheirar atrás de muros e arame farpado a pretexto de defender a segurança ou um estilo de vida, discursou”. Segundo o Papa, não se trata apenas de um problema da Europa, mas diz respeito também à África e Ásia, como demonstra o êxodo de refugiados sírios, afegãos e os inúmeros latino-americanos, sobretudo haitianos.
Conflitos intermináveis – Além das crises globais, Francisco lembrou que há aquelas regionais, que se tornaram “conflitos intermináveis, que por vezes assumem a fisionomia de verdadeiras e próprias guerras por procuração (proxy wars)” como Síria, Iêmen, Terra Santa, Líbia, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia, Cáucaso e Myanmar. No contexto das Américas o Papa afirmou que “as desigualdades profundas, as injustiças e a corrupção endêmica, assim como as várias formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, continuam a alimentar conflitos sociais também no continente americano, onde as polarizações cada vez mais fortes não ajudam a resolver os problemas reais e urgentes dos cidadãos, sobretudo dos mais pobres e vulneráveis”.
De acordo com o pontífice, todos os conflitos são favorecidos pela abundância de armas à disposição. Citando Paulo VI, recordou que quem possui armas acaba mais cedo ou mais tarde por usá-las, porque, “não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”. Dentre as armas que a humanidade produziu, causam particular preocupação as armas nucleares, disse o Papa, reiterando a posição contrária da Santa Sé: “A sua posse é imoral”.
Fonte: CNBB e Vatican News