Isaura Daniel
São Paulo – A diplomacia e a colaboração entre países ganharam um papel ainda mais relevante durante a pandemia da covid-19. Como as relações diplomáticas ajudaram a manter próximos o Brasil e os países árabes na atual crise foi tema de webinar que a Câmara de Comércio Árabe Brasileira promoveu nesta quarta-feira (24), com participação de diplomatas brasileiros e árabes. A conferência virtual foi acompanhada por cerca de 800 pessoas do Brasil e exterior.
“Essas relações agora se tornam ainda mais necessárias e muito mais importantes”, disse o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun. No encontro, o Itamaraty apresentou como deu continuidade às conversas com os governos árabes, de forma virtual, na pandemia. Hannun afirmou que a colaboração internacional tem sido particularmente importante no período, apesar das necessidades dos países de fechamento de fronteiras e interrupção de comércio de alguns produtos essenciais.
O subsecretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Ministério das Relações Exteriores, Kenneth da Nóbrega (foto acima), contou que no primeiro momento da pandemia, o Itamaraty voltou-se principalmente para a repatriações de cidadãos, que já ultrapassaram 25,5 mil pessoas até o momento, mas que em seguida retomou a agenda diplomática com os países.
“A retomada com o mundo árabe foi especialmente vigorosa e incluiu, até o momento, teleconferências ou videoconferências, em nível ministerial, com a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar e Kuwait”, afirmou. O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, programou, antes do surgimento da covid-19, viagem a esses países em abril.
Nóbrega disse que o objetivo das conversas com Arábia Saudita, Emirados e Catar foi dar continuidade a assuntos da visita do presidente Jair Bolsonaro aos países em 2019. Com o Kuwait foram discutidos comércio e perspectivas de investimentos, cooperação em defesa e agronegócio. Bolsonaro deveria visitar o Kuwait neste ano, mas a possibilidade é incerta em função da covid-19.
O subsecretário afirmou que marcará reuniões no curtíssimo prazo com suas contrapartes no Egito, Marrocos, Líbano e Jordânia. Estarão na agenda dos encontros a troca de informações e cooperação sobre a pandemia, sobre medidas econômicas e de cunho social adotadas e outros temas da relação bilateral. O Itamaraty já teve uma segunda conferência com Emirados, reunião do comitê interministerial para comércio e investimentos Brasil-Arábia Saudita e, em julho, haverá reunião de consultas políticas com o Egito.
Segundo Nóbrega, o agronegócio e as exportações terão destaque na reunião com o Egito. No webinar, o subsecretário lembrou que os embarques do agronegócio brasileiro se mantiveram na pandemia e para alguns países se expandiram. “É fruto da resiliência da cadeia produtiva do nosso agronegócio e coloca o Brasil como país que cumpre a responsabilidade de um grande exportador de produtos agrícolas de assegurar a segurança alimentar dos seus parceiros”, disse Nóbrega.
O vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, o diplomata Osmar Chohfi, que mediou os debates do webinar ao lado do secretário-geral da entidade, Tamer Mansour, lembrou da complementariedade entre Brasil e países árabes no comércio exterior. O Brasil exporta alimentos ao mercado árabe e os árabes são importantes fornecedores dos fertilizantes usados na produção deles.
“O bom desempenho do setor agropecuário do Brasil fez com que os adubos e fertilizantes pela primeira vez se tornassem o principal produto da pauta das exportações árabes ao Brasil, tendo somado US$ 778 milhões de janeiro a maio. Se torna evidente a complementariedade das exportações árabes e brasileiras”, disse Chohfi.
Ele lembrou que as relações entre Brasil e mundo árabe tiveram grande expansão nos últimos 20 anos, tanto no campo político quanto no econômico comercial. “Essa sintonia entre a aproximação política e a expansão econômica é demonstrada pelo fato de que o intercâmbio comercial entre o Brasil e o mundo árabe tem representado, nos últimos anos, em torno de 5% a 6% do total de comércio exterior do Brasil”, afirmou o vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe.
O diplomata citou os números da Organização Mundial de Comércio (OMC), de previsão de declínio entre 13% e 32% para o intercâmbio mundial de mercadorias em 2020, dependendo da duração da pandemia e efetividade de políticas públicas adotadas. “À luz desse panorama, a atuação dos governos será fundamental para a retomada das economias, do comércio e dos investimentos, no âmbito internacional também”, falou Chohfi. Nesse contexto, as embaixadas terão papel essencial, segundo ele.
O decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, disse no webinar que a economia é uma continuidade da política e vice-versa. Segundo ele, o compromisso dos embaixadores árabes é tornar a parceria com o Brasil estratégica. “Estamos trabalhando incansavelmente para manter um excelente intercâmbio e superar as dificuldades”, falou. Ibrahim Alzeben expressou solidariedade ao Brasil em função da covid-19. “O Brasil vai sair mais fortalecido tanto da pandemia quanto da crise que está atingindo esse queridíssimo país”, afirmou.
Além dos citados acima, falaram no webinar os embaixadores do Brasil no Egito, Antonio Patriota; no Marrocos, Julio Bitelli; na Jordânia, Ruy Amaral; nos Emirados, Fernando Igreja; e os embaixadores no Brasil do Líbano, Joseph Sayah; da Mauritânia, Wagne Abdoulaye; do Marrocos, Nabil Adghoghi; do Kuwait, Nasser Almotairi; do Egito, Wael Ahmed Kamal Aboul Magd; da Liga Árabe, Qais Shqair; o encarregado de negócios no Brasil do Bahrein, Bader Alhelaibi, e o cônsul geral dos Emirados em São Paulo, Ibrahim Salem Alalawi.