Foto: Delegação talibã nas negociações na Noruega (Stian Lysberg Solum / NTB)
Trata-se de um primeiro passo para o entendimento, para quebrar o gelo com o governo afegão seis meses depois que o Talibã tomou o poder. A tentativa de remediar a terrível crise humanitária no Afeganistão está passando pelas mesas da diplomacia europeia antes de chegar ao Conselho de Segurança da ONU em Nova York. Em Oslo, Noruega, nestes dias, foram feitas as primeiras negociações europeias com os representantes do governo Talibã que parecem ter mostrado “compreensão e vontade de cooperar”, declarando a necessidade de se concentrar na situação do país agora à beira de uma catástrofe humanitária. Cerca de 23 milhões de afegãos passam fome, no contexto de um inverno extremamente rigoroso que assola o país e no clima de violação sistemática dos direitos humanos e civis, em detrimento das mulheres em particular. Foi precisamente dos representantes dos grupos em defesa das mulheres que as conversações começaram, antes de chegar ao encontro com os diplomatas ocidentais.
Diálogo que não é reconhecimento do Talibã
O Primeiro Ministro norueguês, Jonas Gahr Store, definiu as conversações como “sinceras”. “Um primeiro passo” disse a Ministra norueguêsa das Relações Exteriores, Anniken Huitfeldt, “o que não constitui legitimação ou reconhecimento. Mas temos que falar com as autoridades que realmente governam o país”. No centro das exigências de Oslo está o respeito pelo direito das meninas à educação. “Nós”, acrescentou ainda, “indicamos claramente que queremos que as meninas voltem à escola em março, inclusive as que têm mais de 12 anos de idade”.
Direitos das mulheres a serem protegidos
A questão dos direitos das mulheres é crucial e foi discutida por uma delegação do Talibã liderada pelo Ministro das Relações Exteriores Muttaqi e um grupo de mulheres ativistas que descreveram a reunião como “positiva”. “Os Talibãs demonstraram boa vontade. Ouviram pacientemente”, disse Jamila Afghani, que estava presente na reunião, “e responderam à maioria de nossas preocupações”. Vamos ver quais serão suas ações depois do que disseram”.
Um país no precipício
Já em dezembro passado, o subsecretário-geral da ONU, Griffith, em seu discurso ao Conselho de Ministros das Relações Exteriores sobre o Afeganistão em Islamabad, enfatizou que em meados deste ano, a situação humanitária e social do país poderia ter atingido um ponto sem retorno. “A parcela de 97% da população na pobreza absoluta poderia ser o próximo ‘triste marco’ na história do país”, disse Griffith, acrescentando que dentro de um ano, 30% do PIB do Afeganistão poderá desaparecer e o desemprego masculino dobrar para 29%.
Financiamento da ONU para os mais vulneráveis
Em Islamabad, houve também o anúncio do Subsecretário Griffith da ONU da busca de financiamento para 2022, totalizando um recorde de 4,5 bilhões de dólares a serem destinados à assistência humanitária para os mais vulneráveis no Afeganistão. Na ocasião Griffith salientou a urgência não apenas de injetar liquidez no país, mas também e sobretudo “de estabilizar o sistema bancário para salvar vidas, e também para permitir que as organizações humanitárias respondam e operem de modo eficaz”. Os serviços sociais básicos dos quais todos os afegãos dependem”, acrescentou, “estão em colapso e o apoio internacional ao desenvolvimento interno, do qual o país depende há tanto tempo, poderia ser completamente bloqueado até meados do próximo ano”.