A modernização da agricultura para evitar êxodo rural
| Oda Paula Fernandes
O Dia Mundial da Alimentação será celebrado no próximo dia 16 de outubro. Em Brasília, o governador Rodrigo Rollemberg participou, hoje (10), de solenidade com a presença de representantes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Secretaria de Agricultura do DF (Seagri-DF) e com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Em 2017 o tema é “Mudar o futuro da migração: investir em segurança alimentar e desenvolvimento rural”.
“É muito importante perceber a necessidade de fortalecer o desenvolvimento rural criando condições especialmente para que os agricultores familiares, os pequenos agricultores, aqueles que tiram seu sustento da terra, que tiram o alimento da sua família da terra, possam ter cada vez melhores condições de desenvolver o seu trabalho”, disse o governador do Distrito Federal.
A data, comemorada anualmente, vem em 2017 alertar a população sobre os impactos dos deslocamentos humanos na atualidade. O evento é promovido em vários países pela FAO. Relatório divulgado nesta segunda-feira (9) aponta que, com o futuro aumento da população jovem, o setor agrícola precisa se modernizar para absorver excedentes de mão de obra. O documento desmistifica a ideia de que o meio rural está fadado a concentrar os índices mais elevados de pobreza.
No entanto, diz o documento, que para superar a miséria, as comunidades de agricultores familiares precisarão de mais investimentos e políticas inteligentes, capazes de evitar a migração das zonas rurais para as áreas urbanas. De 2015 a 2030, o número de pessoas com idade entre os 15 e os 24 anos aumentará em 100 milhões, até chegar a 1,3 bilhão. Quase todo o crescimento demográfico para essa faixa etária ocorrerá na África Subsaariana, principalmente no campo.
A publicação aponta ainda que, em países em desenvolvimento da região — e também na Ásia Meridional —, os setores industriais e de serviços não conseguirão incorporar a nova força de trabalho em seus quadros por conta da desaceleração econômica. Por ano, de 2010 a 2015, cerca de 1,1 milhão de jovens da porção subsaariana da África e 2,2 milhões de jovens do sul da Ásia entraram no mercado.
A agricultura, tal como é explorada atualmente, também não oferecerá perspectivas de emprego muito melhores. O cenário, de acordo com a agência da ONU, favorecerá a migração — e o ingresso de parcelas da população rural nos segmentos urbanos pobres.
Solução – A agência revela, no entanto, que há esperança. A história recente mostra que o campo tem passado por transformações importantes, tornando-se um local de geração de renda onde a miséria não tem vez. Desde os anos 1900, lembra o relatório da FAO, 750 milhões de pessoas vivendo no meio rural alcançaram rendimentos acima da linha moderada de pobreza média — definida pelo valor de 3,10 dólares por indivíduo diariamente.
O levantamento recomenda a criação de sistemas alimentares eficazes, para manter e ampliar avanços, que conectem a demanda crescente dos centros urbanos à oferta da agricultura familiar. A pesquisa calcula que, de 2010 a 2030, o valor dos mercados de alimentos da África Subsaariana urbana aumentará quatro vezes — passando de 313 bilhões para 1 trilhão de dólares.
Nas porções sul e leste do continente africano, a parcela dos consumidores urbanos no mercado de alimentos já equivale a 52% do total da demanda. Até 2040, o índice deverá subir para 67%. A conjuntura, no entendimento da FAO, oferece oportunidades para que o campo se torne um polo de crescimento econômico, impulsionado pela produção de comida. Em média, o consumo urbano no mundo já abocanha 70% dos alimentos, mesmo em países com populações rurais consideráveis. Para a FAO, melhorias na agricultura não será uma panaceia, mas gerarão empregos necessários e contribuirão para que a migração seja uma alternativa e não uma necessidade.
Cidades pequenas, grandes lucros – O relatório O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo indica ser necessário um aproveitamento mais diversificado da demanda urbana por alimentos. A publicação aponta que, além de diversificar os sistemas alimentares, países devem estimular novas atividades econômicas associadas à produção de comida — como refinamento, empacotamento, transporte e armazenamento, vendas e fornecimento de insumos.
A FAO alerta também que medidas para garantir a participação da agricultura familiar no mercado devem ser consolidadas em políticas públicas. O objetivo dessas estratégias é evitar que o mercado seja dominado por grandes produtores.
A agência da ONU recomenda ainda que países construam a infraestrutura necessária para conectar os meios rural e urbano. Segundo o organismo internacional, em muitos países em desenvolvimento, a falta de estradas nas áreas agrícolas, de redes elétricas e instalações para armazenamento, bem como de sistemas de transporte refrigerados é um gargalo para agricultores que buscam vender produtos frescos.
“Eu sempre digo que o campo pode viver sem a cidade, mas a cidade não pode viver sem o campo, e em Brasília nós temos uma condição muito especial, até pela área pequena do nosso território; a preservação da área rural é condição fundamental para preservar a qualidade do meio urbano do Distrito Federal. Não apenas pelos alimentos, mas, sobretudo, hoje, pela água, e hoje nós vemos que nós temos cada vez mais no meio rural uma consciência muito grande disso”, afirmou Rollemberg.
Outra orientação da FAO é a inclusão de centros urbanos menores no planejamento dos sistemas alimentares. O relatório assinala que essas regiões têm demandas subaproveitadas, mas que representam 60% do consumo urbano de alimentos.
Nos países em desenvolvimento, a maioria das zonas urbanas é relativamente pequena — cerca de metade da população vivendo em cidades (1,45 bilhão de pessoas) mora em cidades de 500 mil habitantes ou menos. Quase metade da população mundial vive ou nesses centros urbanos menores, ou em zonas rurais.
“Muito frequentemente ignoradas por decisores e gestores políticos, as redes territoriais de pequenas cidades são pontos de referência importante para os povos rurais — são os lugares onde eles compram suas sementes, para onde mandam seus filhos estudar e onde têm acesso ao cuidado médico e outros serviços”, afirmou o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, durante o lançamento do relatório.
O dirigente acrescentou que é urgente o reconhecimento do papel catalítico dessas cidades menores, pois elas oferecem mais oportunidades para agricultores familiares venderem sua produção e se beneficiarem do crescimento econômico.