Embaixada de Bangladesh promove evento cultural com atrações musicais de vários países para comemorar a data.
Liz Lôbo
O auditório da Biblioteca Nacional de Brasília ficou pequeno para a festa da multiplicidade de línguas, realizada em 27 de fevereiro. Cerca de 50 artistas brasileiros e estrangeiros mostraram diferentes tradições da música e da dança de países como Argentina, da Grécia, Japão, África do Sul, Egito, Líbano, Espanha, Bangladesh entre outros. O embaixador Zulfiqur Rahman lembrou drama vivido pela população bengali, a luta pela independência e manutenção das características próprias dela que culminou na Guerra da Libertação. “Todos nós sabemos, que a cultura é a identidade mais básica de uma população e a língua é o veículo mais forte de uma cultura”, discursou Rahman.
Segundo o diplomata, o multiculturalismo e o multilinguismo também estão juntos e foi pensando assim que a embaixada decidiu realizar um evento com uma mostra da diversidade cultural de várias nações. O embaixador Rahman anunciou na abertura do evento a aprovação, pelo Governo do Distrito Federal, da proposta dele de construir o Monumento da Língua em Brasília, a capital política, e em São Paulo, a capital comercial e cultural do Brasil.
As réplicas do Shaheed Minar, monumento em Dhaka, Bangladesh, estabelecido para homenagear os mortos durante as manifestações de 1952 pela manutenção do Bangla, a língua bengali, no então Paquistão Oriental, deverão ficar prontas para as comemorações do próximo ano. O embaixador manifestou a esperança de que o monumento tenha um papel na promoção de Bangladesh às massas do Brasil e ao fortalecimento das relações de amizade entre os dois países.
O evento comemorativo do Dia Internacional da Língua Materna teve as presenças de representantes de vários órgãos do governo, da Unesco, das embaixadas da Índia, da Turquia, da Malásia, da Tailândia, de Mianmar, do Sri Lanka, do Nepal, da Jamaica, da Zâmbia e de El Salvador. Ao todo mais de cem pessoas participaram da festa multicultural.
UNESCO – Em 1999, a UNESCO adotou uma resolução declarando o dia 21 de fevereiro como o Dia Internacional da Língua Materna – como um símbolo do programa global para conscientizar e salvar milhares de línguas negligenciadas em todo o mundo. Esse foi o caso do Bangla – com uma história de mais de 4.000 anos de existência. A data, então, passou a ser considerada pelos bengalis, o Dia dos Mártires da Língua. Resoluções semelhantes foram adotadas mais tarde pela Assembleia Geral das Nações Unidas, dando ao dia um reconhecimento global.
História – Em 1947, quando a Índia se libertou do domínio britânico, ela foi dividida em dois países: a Índia e o Paquistão. O Paquistão tinha duas partes: Paquistão Oriental e Paquistão Ocidental – separadas por alguns milhares de quilômetros do território indiano.Os bengalis que viviam no Paquistão Oriental eram pessoas diferentes – linguisticamente, culturalmente, etnicamente e assim por diante. A única coisa em comum entre o Paquistão Oriental e Ocidental era a religião – o Islã. No entanto, era um só país – o Paquistão.
Em 1948, apenas um ano após a independência da Inglaterra, a autoridade central do Paquistão declarou que apenas o urdu seria a língua estatal do Paquistão. Isso aconteceu apesar dos Bengalis constituírem a maior parte da comunidade do Paquistão – 56%. A eles foi negado o direito de falar o Bangla, a língua materna deles. Os bengalis protestaram contra a decisão. Apelaram às autoridades para fazer do Bangla outra língua estatal do Paquistão – além do urdu, o que foi recusado. Estudantes foram às ruas. Em 21 de fevereiro de 1952, a polícia atirou em uma manifestação de estudantes e matou muitos deles – apenas porque eles exigiam o direito de falar o seu próprio idioma. Este movimento eventualmente acabou resultando na Guerra da Libertação e a independência do Paquistão em 1971.
O embaixador Zulfiqur Rahman e a diretora da revista Embassy Brasília, Liz Lôbo
Yusif Madatov (Embaixada do Azerbaijão), Liz Lôbo e Lívia Campos (Assistente embaixador de Bangladesh)