O evento, que reuniu cerca de 150 blindados e teve a participação do presidente da República, Jair Bolsonaro, foi descrito por jornais e agências pelo mundo como “pouco usual” e apontado como uma “desajeitada tentativa” de demonstração de força de Bolsonaro em meio à tramitação do projeto do voto impresso na Câmara.
O jornal britânico The Guardian destacou as críticas de opositores à tentativa de Bolsonaro, “ao estilo de uma república de bananas”, de demonstrar força perante os demais Poderes. A publicação também citou que a parada militar ocorreu em um momento de queda dos índices de popularidade do presidente pela “caótica resposta à pandemia de covid”.
“Muitos também consideraram a tanqueciata (desfile de tanques) do presidente – que durou apenas 10 minutos, apresentava uma seleção distintamente limitada de equipamentos militares expelindo fumaça, incluindo um único tanque austríaco, e foi assistida por apenas cerca de 100 apoiadores fiéis de Bolsonaro – como um fiasco. Para aumentar a sensação de absurdo, um legislador pró-Bolsonaro comemorou o desfile no Twitter usando uma imagem de tanques chineses na Praça Tiananmen de Pequim há dois anos para marcar o aniversário da revolução comunista de 1949 de Mao Tsé-tung”, escreveu o jornal inglês.
O Le Monde destacou que, antes do desfile de blindados, Bolsonaro mobilizou apoiadores nos últimos fins de semana para questionar o voto eletrônico e ameaçou agir fora da Constituição. O jornal francês também mencionou que a retórica do presidente vem se intensificando à medida em que pesquisas apontam vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
“No Brasil, agora há temores de um ‘cenário Trump’ de derrota de um presidente populista e cessante, agarrando-se ao poder e mobilizando seus apoiadores nas ruas. Jair Bolsonaro, que sabe que as instituições de Brasília são muito mais frágeis que as de Washington, nada fez aqui para tranquilizar: ‘Se não tivermos o voto no papel em 2022, teremos um problema ainda pior do que nos Estados Unidos. Unidos’, alertou em janeiro de 2021”, escreveu o Le Monde.
A agência de notícias britânica Reuters afirmou que as Forças Armadas do Brasil fizeram uma “exibição incomum” de equipamentos militares, acompanhada por Bolsonaro, “antes de um provável revés no Congresso por seus planos de alterar o sistema de votação no País”. “Políticos de todos os matizes chamaram o desfile de tanques da Marinha, veículos blindados e veículos anfíbios de uma forma de intimidação horas antes de os legisladores votarem contra uma emenda constitucional apoiada por Bolsonaro”, relatou a Reuters. A Associated Press também mencionou a construção de cenário similar às eleições americanas de 2020.
“A Câmara havia agendado uma votação para terça-feira sobre a reforma constitucional pela qual Bolsonaro fez uma cruzada: exigir recibos impressos das urnas eletrônicas que o presidente alega serem passíveis de fraude. Os críticos alegam que Bolsonaro, que está atrás de rivais nas primeiras pesquisas de opinião, está tentando semear dúvidas entre seus apaixonados apoiadores sobre os resultados das eleições de 2022, preparando o cenário para conflitos potencialmente semelhantes aos gerados pelas alegações de fraude nos Estados Unidos do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump”.
A agência americana citou ainda que o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro reforçou a associação da família com Trump ao postar nas redes sociais, na segunda-feira, o que parecia ser uma foto recente dele ao lado do ex-líder americano, dizendo que ele está “do lado dos homens com reputação imaculada e autoridade moral para andar pela rua, cabeça erguida”.