A IX Cúpula das Américas, que terminou na sexta-feira (10), em Los Angeles, mostrando uma falta de entendimento num debate que promete se intensificar nos próximos tempos: o que fazer com governos acusados de violar os direitos humanos, perseguir opositores e não respeitar regras básicas da democracia que, neste caso, foram excluídos pela Casa Branca do encontro hemisférico?
O presidente americano Joe Biden recebeu duras críticas. Dirigentes de peso na região como o mexicano Andrés Manuel López Obrador optaram por não participar do evento para expressar seu desconforto pela ausência de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Outros seguiram seus passos, entre eles os presidentes de Honduras, Guatemala e El Salvador.
Além desse “embaraço”, Biden teve que ouvir ainda muitos dos que vieram até Los Angeles e aproveitaram os seis minutos concedidos a cada chefe de Estado para questionar a decisão americana e defender a necessidade de incluir todos os países em debates e negociações continentais. Um dos mais enfáticos foi o presidente do Chile, Gabriel Boric, que em Los Angeles fez sua estreia em cúpulas internacionais.
“Não gostei da exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua. É urgente a liberação de presos políticos na Nicarágua, mas também existe a importância moral de terminar de uma vez por todas com o injusto é inaceitável bloqueio dos Estados Unidos ao povo de Cuba. Estas são coisas que devemos dizer na cara. A exclusão fomenta o isolamento, declarou o presidente chileno. Para Boric,“chegou a hora de deixar atrás a fragmentação, de ter uma só voz das Américas para o mundo”.
Já o presidente da Colômbia, Iván Duque, aplaudiu a postura dos americanos. A seu ver não houve exclusão ideológica, mas uma rejeição contundente a qualquer forma de ditadura ou de atentado contra a estrutura democrática das nações. Segundo Duque, “nossa região não se divide entre esquerda e direita, aqui existe numa diferença entre os que somos democratas e os autocratas”.
Duque foi talvez o mais duro ao referir-se a governos que outros países da região insistem em incorporar a debates continentais. A posição de Boric é compartilhada pela Argentina, Bolívia, Peru, Honduras e vários caribenhos, entre eles Barbados e Bahamas.
No encontro em Los Angeles foram alcançados poucos consensos. Os chefes de Estado presentes assinaram documentos sobre democracia, migração e futuro verde. Mas em relação às grandes questões que hoje separam países do continente, as posições continuam muito distantes. Os que querem buscar o diálogo com Venezuela, Cuba e Nicarágua são muitos, e nos últimos tempos ganharam novos aliados, como o Chile, agora governado pela esquerda.
Se o esquerdista Gustavo Petro vencer a eleição presidencial colombiana, os EUA perderão um aliado importante nesta luta contra governos autoritários, aos quais são aplicadas sanções e bloqueios cada vez mais criticados pelos demais países da região. O resultado da eleição no Brasil também será importante para a equação política latino-americana.
Naturalmente, os governos da Venezuela, Nicarágua e Cuba a partir de agora se sentem muito menos acuados e, portanto, também menos flexíveis para lidar com seus opositores.