Delegação está acompanhada do embaixador Ibrahim Alzeben e reúne representantes de diferentes denominações. Ela quer sensibilizar brasileiros sobre problemas que mudança de embaixada podem causar.
Alexandre Rocha
alexandre.rocha@anba.com.br
São Paulo- A Câmara de Comércio Árabe Brasileira promoveu na noite desta sexta-feira (25), em São Paulo, um jantar de recepção para uma delegação de lideranças religiosas da Palestina em visita ao Brasil. O grupo é formado por representantes de diferentes denominações cristãs.
“Nós viemos principalmente para falar de paz e somos representantes de todas as igrejas de Jerusalém”, disse à ANBA o padre Ibrahim Faltas, franciscano de Jerusalém, secretário-geral da organização Custódia da Terra Santa e líder da delegação. O grupo terá nos próximos dias uma extensa agenda de reuniões com lideranças e entidades cristãs em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.
“Falaremos também sobre encontrar uma solução para Jerusalém, pois é um problema que já dura 70 anos, entre palestinos e israelenses, e pedimos ao povo brasileiro que ajude neste processo pelo bem de todos os povos do Oriente Médio e de todo o mundo”, destacou Faltas.
A ideia é sensibilizar as comunidades cristãs brasileiras, principalmente as evangélicas, sobre os problemas que a eventual mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém pode causar. “Pedimos ajuda para não complicar as coisas, porque mudar a embaixada complicaria as coisas. Jerusalém deve ser uma cidade para todos e não a capital de um só povo”, acrescentou.
Na mesma linha, o pastor Jack Sara, de Belém, afirmou que um dos objetivos da missão é informar comunidades evangélicas brasileiras sobre a realidade da Palestina. “Sou evangélico e dirijo um seminário para treinamento de pastores em Belém e Nazaré”, contou ele à ANBA. “Vim falar com a comunidade evangélica aqui sobre nossa presença na Palestina, pois muitos não sabem nem que existimos”, ressaltou. A instituição que dirige chama-se Faculdade da Bíblia de Belém (Bethlehem Bible College).
Para Sara, existem no Brasil denominações evangélicas “que têm um ponto de vista teológico e político que algumas vezes é destrutivo”, referindo-se a quem defende a sagração de Jerusalém como capital de Israel.Palestinos e israelenses reivindicam Jerusalém como sua capital, mas as Nações Unidas e a maioria esmagadora dos países defende que o status da cidade só seja decido no âmbito de negociações de paz para atingir uma solução de dois estados.
“Os evangélicos têm que se envolver na paz e não ser um obstáculo para a paz”, declarou Sara. “A mudança da embaixada é um movimento unilateral que justifica um posicionamento político que diz que Jerusalém é de apenas um povo, e isso fere a presença cristã em Jerusalém”, acrescentou.
O pastor quer convencer os evangélicos brasileiros que “suspendam esta movimentação até que haja realmente um processo de paz”.
“Nosso objetivo é a paz, e a Igreja Católica tem clareza que para ter paz tem que haver dos estados, acreditamos que a paz será fruto dessa decisão que já existe no âmbito da ONU. Que Jerusalém seja para todos”, comentou o padre franciscano Bruno Varriano, brasileiro radicado em Nazaré, cidade de maioria árabe em Israel. Ele é reitor da Basílica da Anunciação em Nazaré. “São João Paulo II dizia: ‘Se tem paz em Jerusalém, esta paz se estenderá para todo o mundo’”, acrescentou ele, referindo-se ao papa canonizado João Paulo II.
“Queremos estabelecer um diálogo com os cristãos brasileiro para explicar o ponto de vista dos cristãos palestinos, que vivem sob a ocupação israelense e sofrem como parte do povo palestino”, declarou o embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben, que é também o decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil. “Queremos evitar uma decisão errada que não contribui para a paz, afronta o direito internacional e fere os palestinos”, destacou.Para o diplomata, o delegação vai buscar sensibilizar os evangélicos do Brasil sobre “a importância de manter Jerusalém longe da política”.
O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, disse à delegação que o grupo traz ao Brasil uma mensagem de paz e que o País é um exemplo de convivência pacífica entre os povos. “A Câmara Árabe é uma entidade comercial, não religiosa e não política, e preza por esta característica do Brasil”, declarou. “E é por isso que dizemos que vocês podem contar com a nossa entidade para levar esta mensagem de paz”, destacou.
Integram a delegação também os pastor luterano Mitri Rehab, presidente da Dar Al-Kalima Universidade e Faculdade de Artes e Cultura, de Belém; a embaixadora Amira Hananina, diretora-geral do Comitê Presidencial de Assuntos das Igrejas, e cristã ortodoxa; o responsável por Relações Internacionais no movimento nacional de libertação da Palestina, o Fatah, Imad Imtyair; e o diplomata Mohamad Imar, do Ministério de Relações Exteriores e Expatriados.
Participaram da recepção também o embaixador da Jordânia em Brasília, Malek Twal, vice-decano do Conselho dos Embaixadores; o arcebispo ortodoxo de São Paulo, Dom Damaskinos Mansour; o padre Dimitrios Attarian, também da Igreja Ortodoxa; o xeique Mohammed Barakat, da Mesquita Brasil; os ex-presidentes da Câmara Árabe, Salim Schahin e Orlando Sarhan; os vice-presidentes Osmar Chohfi (Relações Internacionais), Riad Younes (Marketing) e Adel Auada (Administrativo); o diretor-tesoureiro Nahid Chicani; os diretores Mohamed Orra Mourad, Mohamed Abdouni e William Atui; e o ex-diretor Mustapha Abdouni.
Nesta sexta-feira, a delegação participou da missa pelos 465 anos de São Paulo na Catedral da Sé, celebrada pelo arcebispo Dom Odilo Scherer, e se reuniu com cerca de 20 lideranças religiosas locais.