Os militares mantêm o argumento de que a polícia e o Exército vêm agindo com “extrema moderação” ao lidar com o o que eles descrevem como “manifestantes rebeldes”
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O porta-voz da junta militar que assumiu o poder em Mianmar após o golpe de Estado em 1º de fevereiro disse nesta quinta-feira (11) que o país caminha para uma “democracia autêntica” e que a comunidade internacional não tem com o que se preocupar, a despeito dos milhares de pessoas que têm ido às ruas contra as Forças Armadas.
Enquanto isso, ao menos oito pessoas foram mortas pelas forças de segurança enquanto protestavam contra a ditadura, elevando o número de vítimas para mais de 60, de acordo com levantamento da Associação de Assistência a Presos Políticos de Mianmar.
Os militares mantêm o argumento de que a polícia e o Exército vêm agindo com “extrema moderação” ao lidar com o o que eles descrevem como “manifestantes rebeldes”. Em suas versões, são os participantes dos protestos que têm atacado a polícia com o objetivo de prejudicar a segurança e a estabilidade nacional.
Entidades de defesa de direitos humanos e relatos de testemunhas, no entanto, contam uma história diferente. A Anistia Internacional acusa os militares de usarem táticas de batalha e força letal contra civis desarmados “de forma planejada, premeditada e coordenada”. Para a entidade, as mortes de manifestantes são execuções extrajudiciais.
“Estas não são ações de oficiais sobrecarregados tomando decisões ruins”, disse Joanne Mariner, diretora de resposta a crises da Anistia Internacional. “São comandantes que não demonstram arrependimento, já implicados em crimes contra a humanidade, deslocando suas tropas e seus métodos assassinos abertamente.”
O general Zaw Min Tun, porta-voz da junta militar, afirmou em entrevista coletiva nesta quinta que as forças de segurança agiram com disciplina e usaram a força apenas quando necessário.Segundo ele, os países ocidentais –que acumulam críticas aos atos dos militares mianmarenses– estão fazendo suposições incorretas, e os protestos, que são diários há mais de um mês, não configuram uma situação que deva preocupar a comunidade internacional.
Zaw Min Tun também fez novas acusações contra a líder civil de Mianmar deposta no dia do golpe, Aung San Suu Kyi. De acordo com o general, ela recebeu pelo menos US$ 600 mil (R$ 3,4 milhões) e 11 quilos de ouro em subornos enquanto estava no governo.
A conselheira de Estado responde por quatro acusações criminais. As duas primeiras, apresentadas ainda na semana do golpe, foram de importação ilegal de seis walkie-talkies e de uma suposta violação dos protocolos de combate à propagação do coronavírus.