Brasília – Após manter-se estável nos últimos anos, o comércio entre o Brasil e a Índia vem registrando forte crescimento em 2021 e nos quatro primeiros meses do ano as exportações brasileiras para o país asiático tiveram uma alta de 23,6% e somaram US$ 1,776 bilhão. No mesmo período, as vendas indianas para o Brasil cresceram 25,9%, totalizando US$ 1,868 bilhão. A corrente de comércio (exportação+importação) entre os dois países totalizou US$ 3,146 bilhões e a balança comercial bilateral proporcionou aos indianos um superávit de US$ 592 milhões nos quatro primeiros meses deste ano.
Apesar do aumento expressivo, e do fato de que após vários anos o fluxo de comércio entre os dois países deverá voltar este ano a superar a cifra de US$ 9 bilhões nos dois sentidos, as trocas bilaterais ainda permanecem muito distantes das cifras recordes registradas em 2014, quando o comércio bilateral totalizou o recorde histórico de US$ 11,428 bilhões.
Ao fazer uma palestra na série ”A Nova Política Externa Brasileira: Índia”, promovida em parceria entre a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), realizada no dia 5 de maio, a embaixadora Maria Izabel Vieira, Diretora do Departamento de Índia e Sudeste da Ásia, do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que ”a Índia é o quarto maior parceiro comercial do Brasil na Ásia e o décimo em todo o mundo. É um mercado importante e que ainda tem muito a ser explorado, pois tem grande potencial de ampliação. Em 2019 e 2020 houve uma queda no intercâmbio comercial bilateral, mas ainda assim a Índia conseguiu elevar a sua posição relativa entre os parceiros comerciais brasileiros”
Ao mesmo tempo em que sublinha a existência de relevantes oportunidades comerciais a serem exploradas, a embaixadora lembra que a pauta exportadora brasileira para o gigantesco mercado indiano ainda é pouco diversificada: “entre janeiro e abril deste ano, apenas quatro produtos responderam por 77,5% das nossas exportações para a Índia. São eles petróleo (com 48% do total embarcado), ouro (12%), gorduras e óleos vegetais (9,3%), açúcares e melaços (8,2%). Essa pauta pode ser reestruturada com uma maior participação de produtos manufaturados, de maior valor agregado. Do lado indiano, 99% dos produtos vendidos ao Brasil pertencem à categoria dos bens manufaturados”.
O leque de produtos com expressivo potencial de serem exportados para a Índia apontados pela embaixadora são, entre outros, carne suína, frutas, óleos vegetais, calçados e móveis, além do petróleo, que já lidera a pauta exportadora brasileira para os indianos, com uma participação de 40% no total embarcado.
No campo dos bens industrializados, são relevantes as oportunidades no mercado indiano para os produtos do setor de defesa, que se inserem no contexto de modernização em curso das forças armadas indianas. De acordo com a embaixadora Maria Izabel Vieira, “outras áreas de importância e com potencial de aumento das exportações são os de máquinas, logística, armazenamento e processador de alimentos. A Índia tem uma carência no processamento de alimentos, inclusive nas cadeias frias e a experiência e tecnologia brasileiras nessa área são de grande interesse do lado indiano”.
Outros setores podem acrescentar valor agregado às exportações para o mercado indiano. São eles as áreas de defesa, energias renováveis e aviação civil. Segundo a embaixadora, “em matéria de defesa e aviação civil, a Índia é um importante mercado. O país possui o terceiro maior orçamento militar do mundo, é o segundo maior importador de produtos de defesa em volume e possui o maior efetivo militar do planeta”.
O setor da aviação civil é igualmente mencionado pela diplomata brasileira como bastante promissor no contexto das relações bilaterais. Segundo ela, “a Índia é o terceiro mercado mundial em termos de tráfego aéreo doméstico e quando a pandemia passar, ou mesmo antes que isso ocorra, o país continuará sendo muito ativo no mercado, seja em termos de compra de aeronaves, seja por meio de parcerias nesses setores, de fornecimento de peças e produtos e essa é uma área na qual o Brasil tem grande interesse “.
A embaixadora destaca que em 2030 a Índia superará a China como país mais populoso do planeta e que hoje o país é a terceira maior economia mundial, com um Produto Interno Bruto (PIB) por Paridade de Poder de Compra da ordem de US$ 10,25 trilhões e um PIB nominal de US$ 3,05 trilhões. Além disso, o setor farmacêutico da Índia ocupa a décima-quarta posição mundial em termos de valor e a terceira em matéria de vendas.
Esses números fazem da Índia, segundo a embaixadora, “um ator importantíssimo na área da indústria farmacêutica. O país é o principal supridor mundial de medicamentos genéricos em volume, com uma participação de 20% no setor em todo o planeta. A Índia também se destaca em matéria de produção e exportação de vacinas e responde por 62% do mercado mundial desses imunizantes”.
Além da ampliação e diversificação da pauta comercial, especialmente através do acréscimo de produtos industrializados às exportações brasileiras para a Índia, a embaixadora Maria Izabel Vieira vislumbra grandes possibilidades de ampliação dos investimentos diretos realizados entre si pelos dois países.
Segundo ela, o estoque de investimentos de empresas indianas no Brasil é de cerca de US$ 6 bilhões e se concentram nos setores de infraestrutura, transmissão de energia, na indústria automotiva, químicos, defensivos agrícolas, tecnologia da informação e no setor hoteleiro.Em contrapartida, os investimentos brasileiros na Índia são da ordem de US$ 1 bilhão e envolvem setores diversificados, como motores elétricos, automotivo, siderurgia, tecnologia da informação, automação bancária e comercial, mineração e equipamentos médicos.
A embaixadora sublinha que as relações entre o Brasil e a Índia foram estabelecidas em 1948, um ano depois da independência do país asiático, “e foram recentemente redinamizadas e modernizadas por ocasião da visita de Estado do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2020”. A visita, realizada poucos meses antes do início da pandemia, foi um grande sucesso e constituiu um marco nas relações bilaterais.
Durante a visita foram assinados 15 acordos bilaterais sobre diversos temas e foi adotado o Plano de Ação para Fortalecer a Parceria Estratégica Bilateral, lançada em 2006. Também foram firmados o Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, o ACFI, e o Memorando de Entendimento, nas áreas de energia (mais especificamente em matéria de petróleo e gás), ciência e tecnologia e mineração.
Outro importante documento assinado foi o Memorando de Bioenergia, visando o estabelecimento de um centro de excelência na Índia para conduzir pesquisas no setor. Para a embaixadora, “o Memorando é importante por contribuir para aumentar a difusão do uso do etanol na Índia e fortalecer o papel desse produto no comércio internacional, além de ampliar as exportações brasileiras. A Índia tem a meta de aumentar a mistura do etanol à gasolina e o objetivo é chegar a um percentual de 20% até 2030. Atualmente, no Brasil esse percentual é de 27% O setor da bioenergia é uma área com grande potencial de aumento do intercâmbio e da cooperação bilateral”.