Com a finalidade de integrar, por meio do intercâmbio cultural, os imigrantes à comunidade do Distrito Federal, surgiu, no final de 2018, o Hamaca – Coro Multiétnico da UnB. Projeto que funciona na Casa da Cultura da América Latina (CAL), com parceria do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB e Instituto Migrações e Desenvolvimento Humano (IMDH). O PEAC recebe apoio de bolsas providas por acordo entre a UnB e o Ministério Público do Trabalho que viabilizam a execução do projeto, bem como a formação prático-complementar dos alunos contemplados. O Hamaca não só valoriza o aprendizado musical, mas também promove o ensino fonético da língua portuguesa, por meio do canto.
O projeto, coordenado pelo professor do Departamento de Música da UnB, Mário Lima Brasil, foi selecionado por meio do primeiro edital, lançado ano passado, voltado para as atividades de extensão e pesquisa a serem desenvolvidas nas casas de cultura da Diretoria de Difusão Cultural do Decanato de Extensão da UnB (DDC/DEX): a Casa da Cultura da América Latina (SCS) e a Casa Niemeyer (Park Way).
De acordo com o servidor que é responsável técnico por esta atividade, Airan de Sousa, os integrantes do coro multiétnico têm a oportunidade de “fazer novas amizades, aprender obras musicais de culturas diferentes, já que o Hamaca trabalha com diversos repertórios, incluindo canções indicadas pelos próprios participantes, conhecer as diferentes manifestações culturais brasileiras, adquirir conhecimento de leitura musical e técnica de canto e melhorar a comunicação oral em língua portuguesa na emissão falada e cantada”.
Os interessados em fazer parte do Hamaca devem enviar e-mail para reserva de vagas no próximo semestre no endereço: refugiohamaca@gmail.com. As inscrições podem ser feitas até 10 de agosto de 2019. São duas turmas disponíveis: segunda e quarta, das 12h às 14h; terça e quinta, das 17h às 19h.
Um pouco dos integrantes
Wilson Tovar, conhecido como Vance, vive no Brasil há quatro anos. Anos atrás morou no Rio de Janeiro e São Paulo. Venezuelano de Caracas, chegou em Brasília, ano passado, depois de viajar de bicicleta pelo Nordeste, indo do Maranhão a Bahia. “Foi uma experiência muito legal, agradável. Muita diversidade e diferença de clima”, conta.
Tovar toca flauta, charango e cuatro – instrumento de corda típico do seu país. Ele também já enveredou pelas artes plásticas. “No Hamaca, aprendi a deixar a minha língua de origem de lado, para ir fundo no aprendizado do português. Se eu não tivesse passado por aqui, iria continuar achando que sabia falar bem o português”, afirma bem humorado.
Outra coisa positiva que Tovar aponta na experiência que está vivenciando é a da possibilidade de conhecer música e a cultura de outros lugares. “Outro dia vi um africano, na UnB, e, de propósito, comecei a cantar, Tutu Gbɔvi. Ele era do Congo, e conhecia a canção. Ele ficou admirado e perguntou onde eu tinha conhecido aquela música, que aprendi no coro”. Tutu Gbovi é uma canção de ninar do povo Ewe, língua falada por, aproximadamente, 3 milhões de pessoas, principalmente no Gana, Togo e Benim. Tovar já se apresenta como solista no Hamaca na música “Tonada de lluna llena”, de Simón Díaz, um dos compositores mais celebrados em seu país.
Carlos Padrino também é venezuelano. Foi ele quem falou pra Tovar sobre a existência do Hamaca, que começou a participar dos ensaios antes que Padrino, que também toca cuatro. “Vim assistir a um ensaio e fui convencido de vez a me integrar ao grupo. Além de despertar conhecimento musical, também sou levado por meio da música a aprender a técnica fonética. Estou aprendendo a língua portuguesa ouvindo as palavras, por meio do canto, ao invés da forma escrita. Também conheci pessoas de outros países, como o México e de outros continentes, como a África”, revela.
Hudá Cardoso, aluno do curso de Regência do Departamento de Música da UnB e ex-aluno da Escola de Música de Brasília, é um dos monitores do grupo e foi selecionado para uma das bolsas do acordo da UnB o Ministério Público do Trabalho. Com formação em percussão erudita, Hudá é um coralista que, devido ao seu conhecimento musical num projeto onde muitos são leigos em matéria de musicalidade, tira dúvidas de outros colegas. “A abordagem do Hamaca parte do social. Estou vivendo um momento profissional onde o uso da língua portuguesa é muito importante para integrar as pessoas e essa heterogeneidade, esse choque de culturas, é o que insere os membros à comunidade”, relata.
Olga Dutra, também aluna do curso de Regência do Departamento de Música da UnB, com formação em canto erudito pela Escola de Música de Brasília e bolsista do acordo UnB/MPT, é a outra monitora do coro. Assim como seu colega Hudá, canta em coro, desde a infância, e passou pela Orquestra Juvenil e pelo Madrigal da UnB. Ela fala da importância de integrar os estrangeiros à comunidade que se interessa pelo canto coral. “No Hamaca, a gente tem uma experiência mais aprofundada da língua portuguesa. Essa coisa de aprender a língua de forma correta é algo muito bonito, e esse aprendizado é o que mais agrega, marca o princípio da integração entre o grupo”, afirma, enfatizando que, “quando percebemos a dificuldade do processo de aprendizagem do português pelos imigrantes, a gente (do Brasil) aprende como ensinar a nossa língua, a partir do idioma deles”.
Hudá diz que, por meio da experiência no Hamaca, espera “obter simples, mas valorosas conquistas, como a visibilidade dos migrantes no país”, e Olga deseja que “os estrangeiros, por meio do projeto, consigam falar a língua portuguesa de forma correta e cheguem a se integrar e ser acolhidos pela comunidade brasiliense”.
Os interessados em fazer parte do Hamaca devem enviar e-mail para reserva de vagas no próximo semestre no endereço: refugiohamaca@gmail.com. As inscrições podem ser feitas até 10 de agosto de 2019. São duas turmas disponíveis: segunda e quarta, das 12h às 14h; terça e quinta, das 17h às 19h.