O líder socialista Pedro Sánchez foi eleito nesta terça-feira (7) presidente de uma coalizão de Governo de esquerda na Espanha, após uma votação apertada no Congresso que encerra oito meses de paralisação política, com o subsequente fracasso da formação de um governo e a repetição das eleições em novembro.
No poder desde junho de 2018, o líder do PSOE obteve 167 votos a favor, 165 contra e 18 abstenções que permitirão a ele permanecer no comando do Executivo espanhol. Também dá início a uma coalizão inédita com o radical partido de esquerda Podemos.
No domingo (5), Sánchez, de 47 anos, perdeu o primeiro voto de confiança na Câmara dos Deputados, ao não atingir uma maioria absoluta de 176 dos 350 deputados.Para o segundo turno, bastava uma maioria simples, ou seja, mais “sim” do que “não”.
“Teremos uma coalizão progressista, porque assim decidiram os espanhóis e a maioria parlamentar do Congresso”, disse Sánchez antes da votação, pedindo para acabar com o bloqueio político que mantém o país há meses “desprovido de ferramentas para tratar seus problemas e encarar os desafios futuros”. A pequena margem faz antever uma legislatura muito complicada para o socialista.
Para o Partido Socialista (PSOE), não havia espaço para faltas, erros, atrasos, ou mudanças de opinião no último minuto e, para evitar eventos imprevistos, todos os seus deputados dormiram em Madri esta noite.Os parlamentares socialistas denunciaram “ameaças e coerção” para descarrilar o que será o primeiro governo de coalizão desde o final da ditadura de Francisco Franco em 1975.
Depois de chegar ao poder em meados de 2018 por meio de uma moção de censura que tirou o conservador Mariano Rajoy, Sánchez voltará a ocupar a Presidência, graças ao apoio dos socialistas, da esquerda radical do Podemos, seu futuro parceiro no governo, dos nacionalistas bascos do PNV (na sigla em espanhol) e de outros pequenos partidos regionais.
Um deles, Teruel Existe, denunciou “pressões antidemocráticas” recebidas para retirar o apoio de seu único deputado. A chave desta segunda votação em um Parlamento muito fragmentado foi a abstenção da formação separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), um apoio tácito que irritou a oposição de direita e de extrema direita.
O líder do Partido Popular (PP) conservador, Pablo Casado, que prometeu nos últimos dias usar todos os recursos para “combater a pretensão de acabar com a Espanha”, considerou nesta terça que Sánchez “ultrapassou os limites” para se tornar “o homem de palha do nacionalismo”.
“Sánchez quer copresidir um governo ilegítimo, uma vez que da mentira e da fraude só pode nascer a ilegitimidade”, disse Santiago Abascal, chefe do partido de extrema direita Vox, que se tornou a terceira força política. A eleição de Sánchez encerra uma paralisia que começou com as eleições legislativas de abril, o subsequente fracasso da formação de um governo e a repetição das eleições em novembro. Mergulhada em uma instabilidade política crônica desde 2015, a Espanha teve quatro eleições gerais em quatro anos.
Sánchez vai liderar um governo de coalizão entre o PSOE (120 deputados) e o Podemos (35) com um programa social, ambientalista e feminista, que promete uma guinada à esquerda com medidas como aumento de impostos para os mais ricos, regulamentação do aluguel e revogação parcial de uma reforma trabalhista liberal.