SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Anúncios de medidas, pedidos de respeito às restrições e mensagens de otimismo têm se alternado no discurso de líderes dos países atingidos pelo coronavírus. Na maioria das vezes, presidentes ou premiês tomaram a frente, mesmo que, em alguns casos, tenham agido apenas após um grande aumento no número de casos locais.
O maior exemplo de mudança foi o de Donald Trump, presidente dos EUA, que inicialmente minimizou a doença e, dias depois, anunciou medidas duras, como um decreto de estado de emergência.
Na China, Xi Jinping buscou ficar em posição mais discreta no início da crise, mas agora procura aparecer mais à medida que o número de novos casos diminui. A ideia é criar a imagem de líder que resolveu o problema e se tornar um exemplo internacional.
A crise do coronavírus também é usada para justificar a xenofobia. Tanto Trump quanto o premiê húngaro, Viktor Orbán, classificaram o vírus como uma doença estrangeira. Neste início de semana, os líderes começam a anunciar também medidas de estímulo econômico.
A seguir, um resumo de como 14 líderes têm lidado com a crise do coronavírus.
Estados Unidos – Trump minimizou a doença no início e disse que a gripe comum era mais letal. Também quis tachar a doença como estrangeira, mas mudou de posição de forma abrupta. Na semana passada, vetou a entrada de viajantes vindos da Europa e declarou emergência nacional na sexta (13). No fim de semana, tentou acalmar a população: pediu que as pessoas relaxassem e não corressem para estocar comida.
Ele apontou o vice Mike Pence para gerenciar a crise, mas passou a fazer os anúncios importantes sobre o tema. Trump é acusado de ter desmontado os aparatos de emergência, desacreditado cientistas que trabalhavam para o governo e motivado, assim, uma fuga de cérebros.
China – O governo chinês foi criticado por erros cometidos no início da pandemia, como demorar a isolar a área de Wuhan, epicentro do coronavírus. O dirigente Xi Jinping colocou o número 2 do regime, Li Keqiang, para ser a figura pública a anunciar as medidas de combate. A falta de ações no início levou chineses a criticarem o governo em redes sociais, algo raro e proibido pelo regime. Agora, conforme a crise perde força, Xi foi a Wuhan para capitalizar os bons resultados.
Irã – O país mais atingido pela epidemia no Oriente Médio fechou escolas e universidades e soltou presos para tentar reduzir a contaminação. O aiatolá Ali Khamenei pediu que as pessoas sigam as orientações do ministério da Saúde e disse acreditar que o vírus pode ser parte de um ataque biológico contra o país. A doença matou ao menos dois parlamentares e também o aiatolá Bathayi Golpayegani, 78, que integrava o órgão de supervisão do líder supremo.
Itália – O premiê Giuseppe Conte foi pioneiro na Europa em medidas duras para conter o avanço da doença, como restringir a circulação e cancelar todos os eventos. Ele tem feito chamados diários para que os italianos não baixem a guarda. No domingo, o governo propôs a aprovação de medidas que somam 25 bilhões de euros (R$ 135 bilhões) e incluem, segundo a imprensa italiana, o envio de recursos adicionais para o sistema de saúde e série de abonos e indenizações. Para desestimular demissões, os funcionários das empresas que paralisaram suas atividades terão direito ao recebimento de um benefício no valor de 80% do salário.
França – O presidente Emmanuel Macron questionou o fechamento unilateral de fronteiras, feito por vizinhos, mas liderou a negociação de medidas conjuntas da UE para combater a doença. A França vetou o funcionamento de bares e restaurantes, mas manteve as eleições locais no domingo (15).
Espanha – O premiê Pedro Sánchez determinou quarentena geral de 15 dias no país –as pessoas poderão sair de casa apenas para trabalhar, comprar comida e remédios ou ir ao médico– e conseguiu fechar um acordo com a oposição para as medidas de combate. No entanto, foi criticado por não vetar atos em 8 de março e por manter as fronteiras abertas. Além disso, autoridades da Galícia e do País Basco, no norte do país, anunciaram nesta segunda o adiamento das eleições regionais marcadas para 5 de abril.
Alemanha – A chanceler Angela Merkel deu declarações fortes sobre a doença, como a previsão de que dois terços dos alemães podem ser contaminados. Também decidiu fechar as fronteiras com vizinhos.
Reino Unido – O premiê Boris Johnson apostou em uma estratégia considerada arriscada: manteve escolas abertas e eventos públicos liberados, na expectativa de que a circulação do vírus ajudasse as pessoas a criar resistência contra a doença. Nesta segunda, porém, mudou de postura e determinou que possíveis infectados se isolem, que os britânicos saiam de casa o mínimo possível e adotem trabalho remoto.
Rússia – O presidente Vladimir Putin fechou a fronteira com a China logo no início da epidemia.
Hungria – O premiê Viktor Orbán aproveitou a crise para atacar a imigração. Na sexta (13), disse que se tratava de um vírus trazido por estrangeiros e que se propagava principalmente entre eles. Acusou especialmente estudantes iranianos que vivem no país. Na segunda (16), anunciou medidas como o fechamento de fronteiras.
Argentina – O presidente Alberto Fernández anunciou o fechamento das fronteiras e a suspensão das aulas até 31 de março. No entanto, as escolas seguem abertas para receber alunos que não têm onde ficar. Fernández pediu que as partidas de futebol sejam mantidas, com portões fechados, para que os argentinos tenham opção de lazer na TV.
Chile – O presidente Sebastián Piñera foi a público anunciar o fechamento de escolas por duas semanas e o veto à chegada de cruzeiros ao país.
Coreia do Sul – O presidente Moon Jae-in foi duramente criticado por ter lidado mal com o início da epidemia e, por isso, fala-se em pedido de impeachent. Em fevereiro, ele afirmou que a doença iria desaparecer, e o governo chegou a dizer que não era preciso usar máscaras. O país é o mais atingido na Ásia, depois da China. Um mês depois, Moon prometeu gastar US$ 25 bilhões (R$ 126,17 bilhões) para combatê-lo.
Japão –O premiê Shinzo Abe disse no sábado (14) não ter intenção de declarar estado de emergência e que o Japão segue preparado para a Olimpíada.