O país do ouro, da madeira e do cacau enfrenta grandes desafios na educação, no emprego, no desenvolvimento sustentável e na proteção aos recursos naturais.
Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
Gana, país de 23,8 milhões de habitantes, localizado no Golfo da Guiné, numa área de 238.540 km2, ficou independente do domínio inglês, há 61 anos , em 6 de março de 1957. A embaixada de Gana em Brasília comemorou essa data segunda-feira, 06, no Espaço Dunia City Hall, no Lago Sul, com muita música, apresentação teatral, discurso, orações e comidas e bebidas do país.
Na oportunidade, a embaixadora Abena Busia destacou que Gana foi o primeiro país a conseguir a independência na África subsaariana, “um feito que nos conduziu à vanguarda dos assuntos continentais e mundiais”. Segundo a diplomata, Gana teve desafios como a experiência com um estado de partido único, enfrentou e resistiu a intervenções militares, e sobreviveu às instabilidades políticas e econômicas dentre outros trâmites da história que, na avaliação dela, levou a nação à atual ordem, vivendo uma quarta República com orgulho.
“Torcemos para que seja nossa quarta e última República, porquanto de fato os ganenses votaram massiva e esmagadoramente na adoção de uma constituição no referendo de 28 de abril de 1992, com 92,59% votando a favor da nossa nova Constituição”, explicou. A seu ver, esse resultado decisivo protegeu a nação por 25 anos de regime democrático, desde 7 de janeiro de 1993 até hoje.
Prisões – A embaixadora testemunhou a ascensão e queda das três das primeiras repúblicas e de sete eleições contestadas, desde 1992. “Existem alguns neste salão que, assim como eu, enfrentaram prisão domiciliar, agonizaram sobre pais desaparecidos, abandonaram seus lares e não retornaram durante décadas, e perderam entes amados em defesa de uma democracia justa”, comentou. Hoje, de acordo com a embaixadora, a cada ano que passa, Gana é desafiada a aumentar sua democracia, fortalecer seus processos judiciais e crescer uma economia para melhorar a vida dos jovens, que formam dois terços da população do país.
Segundo Abena Busia, desde as eleições de dezembro de 2016, sob a liderança de Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, o governo ganense trabalha para construir uma nação otimista, dinâmica, resistente, autoconfiante e próspera. “Um país que explora criativamente os seus recursos humanos e naturais agregando valor a nossas matérias primas, aprofundando nossa democracia, construindo uma sociedade aberta, multicultural e justa”.
Economia – Para atingir esta meta, o governo busca o crescimento e desenvolvimento do setor privado; e salvaguarda o ambiente natural. O crescimento econômico de Gana teve uma queda de 3,6% em 2016, mas cresceu significativamente 7,9% em 2017 e prevê crescimento acima de 8% este ano. “Gana é uma das economias com crescimento mais rápido em todo o mundo. O Programa de Concessão de Facilidade de Crédito de três anos de Gana com o FMI terminará este ano e não mais necessitaremos do FMI para supervisionar a administração de nossa economia após dezembro de 2018”, disse a embaixadora.
Segundo Abena Busia, Gana dobrou as exportações destinadas aos EUA – pela Lei de Oportunidades e Crescimento da África (AGOA) – para US$300 milhões em 2017. “A Bloomberg também descreveu a Bolsa de Valores de Gana como a de melhor desempenho no mundo, em janeiro de 2018”. A seu ver, o que importa não são tanto estas estatísticas pretensiosas, mas sim o investimento no capital humano que representam.
De acordo com a embaixadora, o governo de Gana incluiu no ensino básico gratuito um novo esquema que aumentou a matrícula de alunos em 90.000, comparado com as matrículas do ano passado. Falou sobre pacotes de incentivo para garantir a segurança dos investimentos, especialmente na agricultura, manufatura, educação e tecnologia. “Queremos expandir nossas exportações não tradicionais para reduzir a elevada dependência nas receitas de petróleo e fazer de Gana um núcleo industrial para a África Ocidental”, afirmou.
Abena Busia disse ainda, em seu discurso, que o compromisso é reestruturar a economia de Gama e transformando um país produtor e exportador de matéria prima para uma nação com uma economia de valor agregado, industrializada, com um setor agrícola modernizado.
Brasil – As relações diplomáticas de Gama com o Brasil têm 56 anos, desde 1962. “Mas nossas relações são bem mais longas e mais profundas do que nas últimas seis décadas”, explicou a embaixadora que é também professora de Diáspora Africana. Segundo ela, não só os ganenses vieram para o Brasil, como uma dezena de famílias brasileiras se estabeleceu em Acra, a capital de Gana. “Este é também o momento de concentrar mais luz em nossos laços culturais e históricos transformadores que unem Brasil e a África Ocidental”, comentou. Por último, a embaixadora declamou um longo poema: Mudança da família na África.
Arte – Durante a festa, foram apresentados objetos que refletem as tradições e a arte clássica de Gana. Músicos afro-brasileiros exibiram o highlife clássico (um gênero musical de Gana) e o gospel ganense e moderno. Famosas canções africanas e brasileiras foram cantadas por Nãnan Matos, acompanhada do pianista José Manuel. Nãnan tocou também o Djembe, instrumento de percussão africano.
Estiveram presentes na festa nacional de Gana autoridades do Ministério das Relações Exteriores e de outros Ministérios e Agências Governamentais; o embaixador Thomas Bvuma, decano do Grupo de Embaixadores Africanos e seu vice, o Embaixador Martin Mbeng de Camarões; o decano do Grupo de Embaixadores da Comunidade Econômica da África Ocidental (CEDAO), Mamadou Traoré; entre outros representantes do corpo diplomático e ganenses que trabalham na embaixada do país e outros residentes no Brasil.