Ana Cristina Dib
Nos próximos quatro anos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai se empenhar para o alinhamento das políticas industrial, de inovação e de comércio exterior, de acordo com Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022.
Se essas três políticas estiverem focadas na melhora do ambiente de inovação, aumento dos investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e integração do Brasil ao mundo, o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, calcula que o país alcançará um novo patamar de competitividade.
“Nossa expectativa é que com o avanço da Indústria 4.0 no Brasil, o país aumente sua inserção nas cadeias globais de valor e eleve sua participação no comércio mundial de bens e serviços. O ambiente do mercado internacional estimula a busca pela competitividade e pela inovação. Empresas internacionalizadas inovam mais, pagam melhores salários e geram divisas para o Brasil”, diz Abijaodi.
Um bom exemplo de atuação global no país é a fábrica da GE Celma em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ela é a única filial da General Eletric Aviation no mundo a montar motores novos fora dos Estados Unidos.
Nos últimos anos, a unidade brasileira se tornou a maior oficina de revisão e montagem de motores aeronáuticos da América Latina, com faturamento superior a US$ 2 bilhões. Com seus 2 mil colaboradores, atende a clientes de revisão de motores da GE nos cinco continentes. Hoje, 95% de todo o volume de trabalho da Celma chega de fora do Brasil.
“O mercado doméstico está começando a se aquecer, vivendo alguns momentos de expansão, mas eu diria que de forma moderada e com limites que a aviação internacional não nos impõe. A Celma não seria a empresa que ela é hoje trabalhando apenas para o mercado local”, explica o diretor-presidente da GE Celma, Julio Talon.
A Celma oferece o menor prazo na revisão de turbinas no mundo. São 65 dias contra 80 dias da média global, o que ajuda a atrair e fidelizar clientes. Entre eles, estão empresas americanas que enviam seus motores para Petrópolis, mesmo tendo a opção de buscar uma unidade da GE Aviation nos Estados Unidos. A fábrica também atende companhias áreas também na África, Ásia, Europa e Oceania.
A primeira pergunta de qualquer cliente é: como a GE Celma consegue ser competitiva baseada no coração da área serrana fluminense, a quilômetros de um porto? Não é simples. O sucesso da GE Celma ocorreu pelo foco no mercado externo, investimento em recursos humanos, inovação e grande preocupação com a logística.
Julio Talon diz que faz questão de usar logística door to door para que o cliente não perceba que está a 8 mil quilômetros do seu principal fornecedor. “Nosso cliente nos Estados Unidos, por exemplo, remove o motor na base dele dentro do hangar da linha aérea, nós vamos lá, pegamos, trazemos esse motor, testamos e entregamos de volta dentro do hangar dele”, diz.
A fábrica da GE Celma em Petrópolis, no Rio de Janeiro, é a maior oficina de revisão e montagem de motores aeronáuticos da América Latina, com faturamento superior a US$ 2 bilhões. Com 2 mil colaboradores, atende os clientes de revisão de motores da GE nos cinco continentes.
Inovação
A GE Celma persegue a meta da GE Aviation de se tornar uma das maiores indústrias digitais do mundo. Um grupo de 12 engenheiros é responsável por identificar projetos capazes de aumentar a produtividade dos clientes.
Talon explica que a GE Celma tem feito um investimento considerável em manufatura aditiva, comprando impressoras 3D, e os resultados são bem expressivos. “A inovação é fundamental para que as empresas sobrevivam no futuro”, explica. Ele acrescenta que esses investimentos são fundamentais especialmente num ambiente de negócios como o do Brasil.
As impressoras 3D da GE Celma são utilizadas no processo de mascaramento para atividades de jateamento, plasma e lubrificantes. Desta forma, a empresa consegue otimizar fluxos, economizar materiais e reduzir o trabalho puramente braçal. Em 2016, a empresa consumiu mais de 50 mil horas em processos de mascaramento. Agora, basta criar o molde e imprimi-lo nas dimensões necessárias
“A busca contínua por inovação e tecnologia, para trazer coisas novas e agregar valor ao cliente, tem sido fundamental para que a gente continue não só crescendo, mas mantendo todas as conquistas que tivemos até agora”, garante Talon.
Cenário atual
A realidade brasileira não é animadora. A indústria perdeu competitividade no mercado internacional. A participação da produção do Brasil no mundo caiu de 2,9% no ano 2000 para 1,84% em 2016. Para 2022, a CNI espera a interrupção do ciclo de queda, iniciado em 2013, e o aumento da participação brasileira na manufatura mundial de 1,84% para 1,87%.
Para isso é importante intensificar as negociações para a celebração de acordos comerciais e de investimento e ampliar os esforços para eliminar barreiras às exportações e investimentos brasileiros no exterior. Além disso, a CNI avalia ser necessário facilitar e desburocratizar o comércio exterior.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Jorge, diz que o fato de o Brasil ser a nona maior economia global e aparecer apenas na 25ª posição entre os exportadores é um dado que incomoda. “Sabemos do potencial brasileiro no segmento exportador. O país pode aumentar sua participação no mercado mundial”, garantiu, em entrevista à Agência CNI de Notícias.
Segundo o ministro, para alcançar esse resultado, o MDIC trabalha em frentes distintas de atuação. Nas negociações de acordos comerciais, para que os produtos tenham melhores acessos em mercados importantes como o da União Europeia, Canadá e Coreia do Sul. Facilitação do comércio, com o Portal Único de Comércio Exterior, que já está em fase avançada de implementação. Além de reduzir burocracia, o portal encurta prazos das exportações e importações em cerca de 40%.
Para Marcos Jorge, o MDIC atua também no aumento da produtividade das empresas brasileiras, com o programa Brasil Mais Produtivo, que atendeu até o fim do ano passado 3 mil pequenas e médias indústrias. Essas empresas conseguiram um ganho médio de produtividade de 52%. “Dessa forma, contribuímos para que os produtos nacionais tenham maior competitividade e aumentem sua participação no comércio exterior”, diz.
Política industrial
De acordo com o Índice Global de Inovação, editado pela Universidade de Cornell e pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), o Brasil está na 69ª posição entre 127 países pesquisados. Está atrás de economias menores, como Chile, Costa Rica, México e Panamá.
Para o professor de economia da Universidade de São Paulo Roberto Vermulm, houve avanços significativos nos últimos 20 anos, com a criação de políticas de inovação. “Hoje temos subvenção econômica, incentivos fiscais a quem inova, criamos a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), mas falta assegurar orçamentos robustos a esses instrumentos. Temos a possibilidade, mas faltam os recursos”, explica.
Se o país quiser acompanhar a tendência de digitalização da economia mundial, deverá empregar esforços mais consistentes na estratégia de promover a modernização do parque fabril. Estudo recente da CNI mostra que 14 dos 24 setores da indústria têm maior urgência em migrar para o modelo 4.0 para ter condições de competir neste novo cenário. Em geral, os segmentos apresentam produtividade inferior à média internacional e baixa inserção no comércio exterior. O grau de inovação, por sua vez, é bastante heterogêneo.
“A pressão virá para todas as empresas, de todos os portes e setores. No entanto, o desafio será maior de empresas menos inovadoras, menos familiarizadas com a adoção de novas tecnologias, o que demonstra a necessidade de estabelecer iniciativas direcionadas. Além disso, dado o gap de produtividade, os setores sofrerão cada vez mais com a concorrência internacional, tornando a urgência muito elevada”, avalia o gerente-executivo de Política Industrial da CNI, João Emílio Gonçalves.
“As grandes empresas não terão dificuldades de fazer esses investimentos. Elas têm a informação e acessam os recursos. Vejo a importância de termos uma política nacional para incentivar a digitalização das cadeias produtivas, formadas por empresas menores. Na verdade, precisamos colocar a ciência, a inovação e a tecnologia no centro da estratégia de desenvolvimento econômico do Brasil”, completa o professor Vermulm.