Por O Globo
Ucetia era conhecida apenas por uma inscrição, e revela mosaicos bem preservados
PARIS — O Instituto Nacional de Investigação Arqueológica Preventiva da França (Inrap, na sigla em francês) anunciou a descoberta de uma antiga cidade romana, até então conhecida apenas por uma inscrição do nome Ucetia numa laje de pedra. Durante as escavações para a construção de um colégio na comuna de Uzès, no departamento de Gard, no Sul do país, os arqueólogos encontraram mosaicos bem preservados e antigas construções que datam entre os séculos I e VII.
— Antes desse trabalho, nós sabíamos da existência de uma cidade romana chamada Ucetia porque esse nome era mencionado em uma estela em Nîmes (cidade francesa que foi um dos centros do Império Romano na região), junto com os nomes de outras 11 cidades romanas na área — explicou Philippe Cayn, do Inrap.
O canteiro principal com 4 mil metros quadrados revela numerosos vestígios da República Romana, no século I, ao fim da Antiguidade, no século VII, além de alguns indícios de ocupação durante a Idade Média. Entre os achados estão muros e alvenarias resistentes, datadas de pouco depois da conquista romanas, e instalações notáveis, como um forno para assar pães e um barril para a produção de vinhos.
Num dos setores, os arqueólogos escavaram uma imensa edificação com 250 metros quadrados, composta por quatro cômodos enfileirados, dois dos quais com pisos de concreto e paredes decoradas com gesso pintado. Em uma das extremidades do edifícios está um quarto com piso de argamassa, que dá acesso a uma área espaçosa com 60 metros quadrados, e chão decorado com dois mosaicos bem preservados que chamaram a atenção dos pesquisadores.
Os mosaicos possuem padrões geométricos ao redor de medalhões centrais, sendo que um deles ostenta a figura de animais: uma coruja, um pato, uma águia e uma corça. — Esse tipo de mosaico elaborado é encontrado no mundo romano dos séculos I e II — disse Cayn.
Numa outra construção, com mais de 500 metros quadrados, os arqueólogos determinaram que o espaço servia para a produção vinícola, atestada pela presença de um barril de cerâmica usado para a produção da bebida. Ao longo do tempo, a estrutura foi modificada e parece ter sido bastante utilizada até o século VII.
Por fim, os arqueólogos descobriram um fosso escavado no século XVII para servir como defesa da cidade, destruindo várias estruturas antigas. No momento, os arqueólogos estão abrindo uma nova frente de pesquisas, num canteiro com 1.100 metros quadrados que revelou ocupações medievais, incluindo duas estradas e um cruzamento, aparentemente abandonados no século II, mas reabertos no século V.